Conflitos no Cazaquistão deixam dezenas de mortos e ao menos mil feridos
Dezenas de manifestantes e membros das forças de segurança foram mortos durante confrontos no Cazaquistão. Um movimento de protestos varre o país desde o último domingo (2) contra o aumento do preço do gás.
O presidente Kassym Jomart Tokayev afirmou hoje que ordenou que suas forças atirem para matar para lidar com os tumultos provocados por quem chamou de bandidos e terroristas, um dia após a Rússia enviar tropas para ajudar a reprimir um levante em todo o país.
O Ministério do Interior disse que 26 "criminosos armados" foram "liquidados", enquanto 18 membros da polícia e da guarda nacional teriam sido mortos desde o início dos protestos, números que parecem não ter sido atualizados desde ontem.
Segundo contas oficiais, mais de mil pessoas ficaram feridas nos distúrbios e cerca de 400 estão hospitalizadas, 62 delas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
O canal estatal de televisão reportou ainda mais de 3.700 prisões.
"Dei a ordem de atirar para matar sem aviso prévio", declarou Tokayev, em discurso transmitido pela televisão, acrescentando que "os terroristas continuam danificando propriedades e usando armas contra os cidadãos".
As forças de segurança pareciam estar no controle das ruas da principal cidade do país, Almaty, na manhã de hoje (horário local), mas tiros ainda podiam ser ouvidos.
Tokayev culpa terroristas com treinamento internacional pelo pior episódio de violência do país da Ásia Central em 30 anos de independência.
O ministro da Defesa da Rússia, citado pela agência Interfax, disse que mais de 70 aviões estão fazendo viagens ininterruptas para levar tropas russas para o Cazaquistão, e que eles estão ajudando agora a controlar o principal aeroporto de Almaty, recapturado na ontem dos manifestantes.
Resposta à alta de preços
As manifestações começaram como uma resposta à alta de preços de combustíveis e que se desdobraram para um movimento contra o governo e o ex-líder Nursultan Nazarbayev, de 81 anos, o governante mais longevo de todas as ex-repúblicas soviéticas.
Nazarbayev passou a Presidência a Tokayev há três anos, mas acredita-se amplamente que sua família tenha mantido poderes em Nur-Sultan, a capital construída especialmente para o governo e que leva o nome do ex-presidente.
Agitações generalizadas foram reportadas em uma série de outras cidades por todo o vasto país de 19 milhões de pessoas. A internet foi cortada no país desde quarta-feira, tornando difícil determinar a extensão completa da violência.
O governo anunciou ontem que vai impor, durante seis meses, um limite para os preços de venda dos combustíveis.
Reação internacional
Hoje, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediram moderação e o fim da violência no Cazaquistão.
"Os direitos e a segurança dos cidadãos são fundamentais e devem ser garantidos. Faço um apelo pelo fim da violência e pela moderação", declarou Von der Leyen, em uma entrevista coletiva com Macron, que apoiou esta declaração.
"Estamos ao mesmo tempo preocupados e extremamente vigilantes, e por isso pedimos uma desescalada", insistiu o presidente francês.
Enquanto isso, a porta-voz do governo alemão, Christiane Hoffmann, expressou sua convicção de que a violência no Cazaquistão "nunca é a resposta adequada".
"Fazemos um apelo a todas as partes interessadas para que reduzam a escalada e cheguem a uma solução pacífica", acrescentou.
Hoffman também mencionou sua "grande preocupação" com a eclosão da violência depois que Tokayev autorizou a polícia a atirar "sem aviso prévio" nos manifestantes.
O presidente chinês, Xi Jinping, elogiou, por sua vez, a repressão mortal adotada pelo governo cazaque, classificando o presidente Tokayev como um líder "muito responsável", informou a imprensa local.
"Você tomou medidas contundentes em um momento crítico e rapidamente acalmou a situação, mostrando sua posição de responsabilidade e de um senso de dever como político, e se mostrando muito responsável para com seu país e seu povo", disse Xi em uma mensagem a Tokayev, conforme noticiado pela agência oficial Xinhua.
Ontem, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, pediu "moderação" a "todas as partes" envolvidas, incluindo as forças mobilizadas pelos aliados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva. Essa aliança político-militar é formada por Cazaquistão, Rússia, Armênia, Belarus, Quirguistão e Tadjiquistão.
A ONU (Organização das Nações Unidas) convocou todas as partes no Cazaquistão que "se abstenham de qualquer violência", e os Estados Unidos pediram uma "solução pacífica".
Washington também advertiu as tropas russas posicionadas no Cazaquistão que não tentem assumir o controle das instituições desta ex-república soviética, garantindo que o mundo estará atento para possíveis violações dos direitos humanos.
* Com AFP e Reuters
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