Topo

Esse conteúdo é antigo

Bebê venezuelano morre nos braços da mãe durante perseguição a imigrantes

Embarcação da Guarda Costeira de Trinidad e Tobago; equipe do órgão atirou contra barco de imigrantes - Reprodução/Youtube
Embarcação da Guarda Costeira de Trinidad e Tobago; equipe do órgão atirou contra barco de imigrantes Imagem: Reprodução/Youtube

Do UOL, em São Paulo*

08/02/2022 11h10Atualizada em 08/02/2022 11h10

Um bebê de 1 ano morreu ao ser atingido por um tiro enquanto estava nos braços da mãe em uma embarcação que levava imigrantes venezuelanos pela costa de Trinidad e Tobago.

Oficiais da Guarda Costeira do país admitiram ter atirado "contra os motores" do barco, na noite de sábado (5), depois que seu comandante não obedeceu às ordens para pará-lo. A corporação e o governo de Trinidad e Tobago não entraram em detalhes sobre o incidente com a criança, dando apenas "condolências" à família da vítima.

Dayselis Salgado, cunhada de Darielvis Sarabia, mãe do bebê, afirmou em entrevista ao jornal The Washington Post que o capitão do barco tentou voltar à Venezuela ao avistar agentes da Guarda Costeira, mas foi "seguido por eles, que começaram a disparar contra os motores", segundo relato da própria vítima à familiar.

"Ela estava ao lado do motor e disse que sentiu um golpe na região do peito. Imediatamente ela olhou para baixo e viu a cabeça aberta do bebê. Ele estava em seu peito quando os disparos foram feitos", detalhou Dayselis à mídia norte-americana.

Cerca de 20 pessoas estavam na embarcação alvejada pela Guarda Costeira de Trinidad, segundo informações de Orlando Moreno, advogado que faz parte de um grupo de defesa de direitos humanos, o Foro Penal, sediado na Venezuela.

"Que tipo de pessoas são essas para disparar assim? Que consolo pode ter uma mãe depois disso?", lamentou ele em seu perfil no Twitter, comentando que outras crianças estavam entre os passageiros. O defensor contou ainda que familiares do bebê estão em contato com membros da filial das Nações Unidas na Venezuela.

O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Keith Rowley, disse que conversou com a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, sobre o incidente e espera uma melhor cooperação futura entre a Guarda Costeira de Trinidad e a Guarda Nacional da Venezuela.

"Expressei minhas mais profundas condolências em meu próprio nome e de todo o povo de Trinidad e Tobago em relação à infeliz perda da vida do bebê", disse Rowley em comunicado divulgado na noite de domingo (06).

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela expressou em comunicado "seu mais profundo pesar e rejeição ao incidente" e exigiu que Trinidad "realize uma investigação exaustiva para esclarecer os fatos que cercam esse incidente fatal". A Guarda Costeira não confirmou o número de imigrantes a bordo do barco, informando apenas que eles foram registrados "de acordo com os protocolos de imigração e saúde".

Pelo menos 40.000 venezuelanos vivem em Trinidad e Tobago, muitos dos quais chegaram em pequenos barcos superlotados, entre os cerca de 6 milhões de venezuelanos que deixaram seu país durante o colapso econômico.

bebe a mae venezuelanos - Reprodução/Youtube/Telemundo - Reprodução/Youtube/Telemundo
Bebê morto (à esq.) acompanhava mãe e a irmã de 2 anos em viagem para encontrar pai
Imagem: Reprodução/Youtube/Telemundo

A mãe do bebê tentava chegar à ilha caribenha acompanha pelos dois filhos, a criança morta e uma menina de 2 anos, para se encontrar com o pai dos dois, que já está no país, de acordo com o relato da cunhada da vítima ao Washington Post.

A própria Dayselis já vive em Trinidad e Tobago há quatro anos. Ela disse que tentou aconselhar o irmão, pai do bebê morto, sobre o perigo da viagem de sua mulher e filhos, mas não teve sucesso.

"Eu disse a ele que não estava de acordo porque as coisas não estão muito bem por aqui agora", contou a cunhada. "Mas ele me disse que alugou uma casa e comprou um ventilador para seus filhos. Ele queria que todos estivessem juntos".

* Com informações de Reuters