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Diplomata ucraniano diz esperar que Brasil condene ação da Rússia

19.fev.2022 - Em Novoluganske, Ucrânia, soldados ucranianos montam guarda em uma base militar a poucos quilômetros da linha de frente contra separatistas apoiados por Moscou - Yan Boechat/UOL
19.fev.2022 - Em Novoluganske, Ucrânia, soldados ucranianos montam guarda em uma base militar a poucos quilômetros da linha de frente contra separatistas apoiados por Moscou Imagem: Yan Boechat/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

22/02/2022 12h30Atualizada em 22/02/2022 13h13

O encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, afirmou hoje esperar que o governo brasileiro condene a decisão da Rússia de reconhecer a independência de duas repúblicas separatistas no leste da Ucrânia e de enviar militares às regiões.

"Gostaríamos de contar com um apoio do Brasil nessa questão relacionada à decisão de ontem. Que o Brasil se pronuncie a favor da retomada das negociações diplomáticas e que condene a decisão da Rússia", declarou, em coletiva a jornalistas brasileiros.

Tkach acrescentou esperar que o governo brasileiro não reconheça essas "entidades criadas pela Rússia". A decisão russa não prevê anexá-las e adicioná-las formalmente a seu próprio território, mas determina "acordos de amizade e ajuda mútua".

O diplomata ucraniano afirmou haver uma "ameaça real da invasão russa em larga escala que visa ocupar o território da Ucrânia ou parte do território", embora tenha defendido que o governo de seu país não está disposto a lançar uma ofensiva por estar "empenhado em resolver [o conflito] por meios diplomáticos", em sua avaliação.

Ele ainda declarou que a Rússia "se recusa a se envolver na solução político-diplomática".

Brasil evita condenar Putin

Menos de uma semana depois de Jair Bolsonaro (PL) visitar o presidente Vladimir Putin, em Moscou, o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Ronaldo da Costa Filho, fez um apelo para que o direito internacional e a Carta da ONU (Organização das Nações Unidas) sejam preservados diante da decisão do Kremlin de reconhecer as regiões separatistas da Ucrânia e de enviar "tropas de paz".

Mas, ao contrário de vários outros governos, o Itamaraty evitou condenar diretamente o chefe de estado russo e não fez qualquer tipo de referências a eventuais sanções contra Moscou.

A posição brasileira foi anunciada ontem à noite, em reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York.

Indagado sobre como recebeu as declarações do governo brasileiro, Tkach buscou ressaltar que a fala foi o que gostariam mesmo de ouvir e "um sinal claro de que o discurso da Rússia não está influenciando todos os membros da comunidade internacional".

No entanto, reforçou que, "agora, toda a comunidade internacional é responsável pela prevenção do novo conflito" e que "uma postura neutra servirá apenas para uma maior escalada" das tensões entre a Rússia e a Ucrânia.

Questionado se acredita que o Brasil deveria participar das sanções que países ocidentais pretendem impor à Rússia no caso de um conflito armado, o diplomata ucraniano não respondeu.

O Brasil busca não se indispor com as partes envolvidas, especialmente com o governo russo. Assim como a Rússia, o Brasil faz parte do Brics (grupo formado ainda por Índia, China e África do Sul) e tem no país relevante parceiro comercial.

Em viagem à Rússia para se encontrar com Putin, Bolsonaro afirmou que o presidente russo é uma "pessoa que busca a paz", embora tenha dito que não fez comentários sobre a situação envolvendo Rússia e Ucrânia. Ele havia recebido orientação do Itamaraty para não tocar no assunto, a não ser que o mesmo fosse provocado pelo próprio Putin.

Na viagem, Bolsonaro declarou aos jornalistas que "não dou recado a ninguém" e buscou reforçar que países costumam ter problemas regionais. O presidente também ressaltou a "natureza pacifista" do Brasil e afirmou ter dito a Putin que o "Brasil é um país que apoia qualquer outro país e é solidário desde que busquem a paz". Em seguida, disse que a paz "é a intenção" do presidente russo".

Tkach hoje buscou dizer que os principais temas tratados por Bolsonaro e Putin foram a cooperação e o comércio bilaterais, e disse ter achado importante que Bolsonaro tenha falado a Putin sobre a necessidade de uma resolução política e diplomática para as divergências postas.

Parte de analistas internacionais e políticos brasileiros criticou Bolsonaro pela viagem à Rússia em meio à crise internacional que envolve o país e a Ucrânia, com potências ocidentais afirmando haver a possibilidade de uma guerra na Europa. Grandes países ocidentais pressionam Putin a desmobilizar o aparato militar na fronteira com a Ucrânia e encerrar a crise com o país vizinho, sem sucesso até o momento.

Às vésperas da missão, Bolsonaro foi orientado inclusive por militares a desistir da turnê. Mas o presidente, naquele momento, estava encurralado. Fontes na chancelaria apontaram que existia o temor de que, se o brasileiro cancelasse a missão, o gesto seria visto pelos russos como uma decisão fruto das pressões americanas e uma tomada de lado por parte do Brasil.