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Em meio a tensão, Bolsonaro diz que Putin é 'pessoa que busca a paz'

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

16/02/2022 15h32Atualizada em 16/02/2022 20h06

Em meio à tensão entre a Rússia e a Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje que o presidente russo, Vladimir Putin, é uma "pessoa que busca a paz".

Mais cedo, Bolsonaro se encontrou com Putin no Kremlin, sede do governo russo em Moscou, na Rússia. Segundo ele, o encontro durou cerca de duas horas.

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"A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz. E qualquer conflito não interessa para ninguém no mundo. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira e, pelo que tudo indica, [é] uma grande sinalização que o caminho para a solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia", disse Bolsonaro, em declaração a jornalistas brasileiros.

Parte de analistas internacionais e políticos brasileiros criticou Bolsonaro pela viagem à Rússia em meio à crise internacional que envolve o país e a Ucrânia, com potências ocidentais afirmando haver a possibilidade de uma guerra na Europa. Grandes países ocidentais pressionam Putin a desmobilizar o aparato militar na fronteira com a Ucrânia e encerrar a crise com o país vizinho.

A Rússia anunciou hoje a desmobilização de parte dos soldados na península da Crimeia, o que é visto com bons olhos e, ao mesmo tempo, desconfiança pelo Ocidente. Bolsonaro voltou então a tentar fazer uma conexão inexistente entre sua visita e a decisão russa ao dizer que "mantivemos nossa agenda, [e] por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira". Ele ainda disse que a missão brasileira foi "comercial e de paz".

O chefe do Executivo brasileiro informou que não fez comentários sobre a situação envolvendo Rússia e Ucrânia. Ele havia recebido orientação do Itamaraty para não tocar no assunto, a não ser que o mesmo fosse provocado pelo próprio Putin.

Hoje, Bolsonaro declarou que "não dou recado a ninguém" e buscou reforçar que países costumam ter problemas regionais. O presidente também ressaltou a "natureza pacifista" do Brasil.

Ainda assim, afirmou aos jornalistas ter dito a Putin que o "Brasil é um país que apoia qualquer outro país e é solidário desde que busquem a paz". Em seguida, disse que a paz "é a intenção" do presidente russo.

"Não entramos na questão específica de algumas questões regionais, mas a posição do Brasil é exatamente essa [de buscar a paz]. O mundo é a nossa casa e Deus está acima de tudo. Os valores russos em grande parte estão em sintonia conosco lá no Brasil. Em especial o cristianismo e também a questão da defesa dos valores familiares", disse.

De acordo com Bolsonaro, o encontro com Putin foi "bastante produtivo", com "momentos de muita informalidade".

Bolsonaro afirmou ser "mais que um casamento perfeito o sentimento que eu levo para o Brasil". Ele disse ter percebido "também, pela fisionomia, pelo aquilo que foi tratado até fora da agenda oficial, com autoridades russas, em especial o presidente Putin, que é esse o sentimento que ele também tem do Brasil".

Assuntos como o comércio de fertilizantes, defesa e energia nuclear foram tratados na missão à Rússia não somente por Bolsonaro, mas também por ministros, como Walter Braga Netto (Defesa) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).

Questionado se teme uma reação negativa dos Estados Unidos por causa da viagem, Bolsonaro afirmou que não, pois o Brasil é um país soberano. Ele reconheceu que nem todos os países gostaram da visita a Putin.

"Tivemos informações de alguns países que gostariam que o evento não se realizasse porque o pior poderia acontecer com a nossa presença aqui", comentou.

Ao ser questionado se procedeu com todos os exames pedidos pelo governo russo por causa da pandemia, Bolsonaro reagiu com "Poxa, que pergunta, meu Deus do céu". Logo depois, disse ter se submetido a "tudo o que foi acordado no Brasil".

Bolsonaro nega ter tratado de segurança eleitoral

Indagado se chegou a falar com o Putin sobre segurança nas eleições, Bolsonaro negou e acrescentou: "Isso aí não é assunto para tratar fora do Brasil, com todo o respeito. Se alguém faz qualquer ilação nesse sentido não...tá extrapolando, no meu entender, sua atividade."

Em entrevista ao Estadão publicada hoje, o presidente eleito do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Edson Fachin, disse que a Justiça Eleitoral "já pode estar sob ataque de hackers" e citou possível envolvimento da Rússia.

Bolsonaro agradece por apoio na área ambiental

Mais cedo, Bolsonaro afirmou ainda que o chefe de estado da Rússia prestou apoio, "de forma muito especial", quando, segundo entendimento do brasileiro, "alguns países [europeus] questionaram a Amazônia como patrimônio da humanidade".

"Quero agradecer a sua intervenção, que sempre esteve ao nosso lado em defesa da nossa soberania. Muito obrigado."

Bolsonaro também destacou a "retomada do comércio bilateral" aos níveis anteriores à pandemia, apesar da crise instalada desde o primeiro semestre de 2020 em escala global. Mais cedo, Putin revelou dado que indicaria um aumento de 87% das relações comerciais entre os dois países no ano passado.