O que representaria a entrada da Ucrânia na União Europeia
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, assinou um documento ontem (28) pedindo para que o país seja admitido na União Europeia. Nos últimos dias, principalmente após o início dos ataques da Rússia em território ucraniano, ele tem pressionado o bloco a aprovar a medida.
Especialistas ouvidos pelo UOL disseram que o ingresso da Ucrânia na comunidade europeia, mesmo em caráter de urgência, passaria por cima de regras e acordos importantes estabelecidos por esses países. Além disso, a inclusão poderia provocar uma reação mais contundente do presidente russo Vladimir Putin, não só contra os ucranianos, mas envolvendo os principais líderes mundiais.
Em votação realizada na tarde de hoje (1º), o Parlamento Europeu recomendou que a Ucrânia ganhasse o status de membro da União Europeia. A decisão foi tomada por 637 votos favoráveis, 13 votos contrários e 26 abstenções.
Atualmente, a União Europeia conta com 27 Estados membros —a entrada de um país no bloco tem que ser aprovada por unanimidade por representantes de todos os países. Recentemente, o Reino Unido deixou o bloco europeu, no episódio conhecido como Brexit —em 2016, os britânicos optaram pela saída, em um plebiscito.
A UE representa o maior mercado único do mundo, além de defender a mesma política externa e de segurança entre os países membros. Dentro do bloco, é permitida a livre circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas.
Para especialistas consultados pela reportagem, o processo de ingresso da Ucrânia atropelaria "a fila" de outros governos que já pleitearam entrar na comunidade europeia: Turquia, Montenegro, Macedônia. Sérvia e Albânia.
"A União Europeia teria que passar por uma série de normas vigentes para aceitar a Ucrânia. Há questões políticas e econômicas que os ucranianos não vão conseguir cumprir. Há no país corrupção e problemas de ordem democrática, além de questões de ordem da economia ucraniana", disse Gustavo Oliveira, doutorando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp, PUC-SP).
Ao UOL, a professora Mariana Kalil da ESG (Escola Superior de Guerra) reforçou a questão da Ucrânia não ser um país democrático. "Há perseguições a grupos minoritários e em 2014 o então presidente [Viktor Yanukovich] foi deposto", lembrou.
Esses fatores poderiam gerar um mal-estar no cenário geopolítico mundial logo de início, além de provocar uma reação militar mais enérgica de Putin.
"A maioria do povo russo é contra a guerra, mas Putin tem um grande poderio militar e nuclear. Esperamos racionalidade dos chefes dessas nações ao tomar essa decisão do ingresso da Ucrânia na comunidade europeia. Isso pode provocar o governo russo e causar graves consequências", disse Mariana.
Na economia, 'pouco' a oferecer
Na questão econômica, segundo os especialistas, os ucranianos teriam pouco a oferecer à UE.
"Com a integração da economia, a Ucrânia poderia oferecer produtos agrícolas, produtos do setor industrial e mineração, além da sua indústria de armamento e aeroespacial", diz Menezes.
"A União Europeia tem, por meio de sua comissão, dito que precisa exportar valores e soluções e não importar problemas", afirma a professora de pós-graduação em relações internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina, Karine de Souza Silva. "Existe uma geopolítica muito complexa ali envolvendo a Rússia e o ingresso também, por questões internas da UE. A Ucrânia tem uma economia débil."
Aplaudido pelo Parlamento Europeu
Antes de assinar o documento de intenção de ingressar no bloco europeu, ontem, o presidente ucraniano Zelensky havia pedido que a UE admitisse "urgentemente" a entrada do país no bloco.
Pedimos à União Europeia que admita urgentemente a Ucrânia usando um novo procedimento."
Volodimir Zelensky, em vídeo divulgado nas redes sociais
Hoje pela manhã, Zelensky fez um discurso por videoconferência ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, na Bélgica. Aos diplomatas, ele acusou a Rússia de fazer terrorismo —o evento ocorreu após a Rússia atacar a segunda maior cidade da Ucrânia, Kjarkiv. Um ataque a um prédio público deixou dez mortos.
O tradutor que acompanhava o discurso do ucraniano se emocionou ao falar dos ataques ao território ucraniano —e também sobre mortes de crianças. No fim da videochamada, todos os diplomatas se levantaram para bater palmas.
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