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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Para analistas, Rússia não mudou estratégia apesar de sanções e resistência

Imagem mostra carro destruído por bombardeio em Kiev, no 5º dia de guerra contra a Rússia - Genya Savilov/AFP
Imagem mostra carro destruído por bombardeio em Kiev, no 5º dia de guerra contra a Rússia Imagem: Genya Savilov/AFP

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

01/03/2022 04h00

Mesmo sob crescentes sanções econômicas e diante da resistência da Ucrânia nos primeiros cinco dias de guerra, a Rússia não mudou sua estratégia militar de invasão ao país vizinho, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Para os analistas, o presidente russo Vladimir Putin segue em busca de conquistar a capital Kiev e outros locais de interesse para forçar, o quanto antes, um recuo da influência ocidental sobre suas fronteiras.

De acordo com os especialistas, o envio de novas tropas russas à Ucrânia é uma sinalização de que Putin, pelo menos nesse momento, não pretende recuar. A avaliação é de que Putin segue se aproveitando do fato de que as forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não podem enfrentar a Rússia diretamente, devido ao risco das consequências.

"O principal objetivo da Rússia é criar uma espécie de cordão sanitário em suas fronteiras, se reservando da proximidade de tropas hostis da Otan", avalia Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da ESG (Escola Superior de Guerra) e membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

Para Carmona, o plano dos russos para atingir este objetivo político permanece o mesmo. "A estratégia continua sendo avançar o mais rapidamente possível para fazer com que o governo ucraniano consolide essa mudança de posição", afirma Carmona.

"Putin está apostando em fazer com que o governo ucraniano entre em colapso, e o ponto central desse plano é tomar Kiev. O front mudou pouco nos arredores de Kiev nos últimos dias", observa João Pedro de Sá Teles, internacionalista e especialista em segurança.

Após cinco dias de cerco, a Rússia ainda não conseguiu assumir o controle de nenhuma grande cidade na Ucrânia. Para os analistas, porém, o país não terá condições de resistir por muito tempo devido ao limitado apoio que recebe: países ocidentais têm enviado armas e equipamentos aos ucranianos, mas não fornecem ajuda militar direta.

"Não é viável uma intervenção militar direta da Otan na Ucrânia. Isso não deve acontecer pela paridade de forças nucleares entre as grandes potências. As consequências seriam imprevisíveis", diz Teles.

Na visão de Carmona, o apoio material à Ucrânia e as sanções econômicas à Rússia não bastarão para frear o avanço russo. "Há resistência na Ucrânia, é óbvio, inclusive por conta do armamento enviado pelo ocidente. Mas o poder militar da Rússia é absolutamente avassalador, incomparável à força ucraniana. Creio que seja questão de dias para se consumar a vitória russa", opina.

  • Veja as últimas informações sobre a guerra na Ucrânia no UOL News com Fabíola Cidral:

Negociações

Representantes da Rússia e da Ucrânia se reuniram hoje em Belarus, país vizinho de ambos e aliado dos russos, para discutir saídas para o conflito. O encontro, no entanto, não chegou a um acordo, e os países devem ter uma nova rodada de negociações nos próximos dias. Putin e o presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky, não participaram da reunião.

O professor Ronaldo Carmona avalia que a disposição de Zelensky em buscar um cessar-fogo logo nos primeiros dias indica que ele não prevê uma melhora de cenário a longo prazo. "Não foi por acaso essa postura do governo ucraniano de topar negociações em Belarus, país que eles chamam de inimigo", avalia.

As sanções econômicas impostas à Rússia também terão efeito limitado, segundo Carmona. Para o analista, Putin terá algum conforto devido às reservas internacionais dos russos, à capacidade energética do país e à criação de um sistema global de pagamentos alternativo ao SWIFT, que está banindo os bancos russos.

"As sanções econômicas não parecem ser suficientes para que a Rússia detenha seu objetivo político e estratégico, que é colocar um freio à expansão ocidental em direção a suas fronteiras", conclui.