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'Na base militar': brasileiro revela início de treinamento com ucranianos

Voluntário brasileiro registra imagens de base militar ucraniana após se alistar para a guerra contra as tropas russas - Arquivo pessoal
Voluntário brasileiro registra imagens de base militar ucraniana após se alistar para a guerra contra as tropas russas Imagem: Arquivo pessoal

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

06/03/2022 04h00

Brasileiros já se integraram ao exército ucraniano para participar do conflito contra as tropas russas, indicam vídeos exclusivos obtidos pela reportagem. As imagens, que circulam em grupos de WhatsApp de voluntários no Brasil, mostram a chegada na fronteira com a Polônia, o alojamento em uma área de mata cercada por arame farpado e registros do que um deles diz ser a base militar.

"Já tô no alojamento pra descansar. Aqui são oito horas da noite (15h desta sexta-feira, 4, pelo horário de Brasília). Vamos pegar amanhã já às 5h (0h de sábado, 5, em Brasília) o treinamento. Essa aqui é a base militar", afirma o voluntário. O UOL publicou reportagem revelando gasto de até R$ 7 mil do próprio bolso de voluntários brasileiros que dizem estar dispostos a morrer para defender o povo ucraniano.

No vídeo, ele mostra imagens do local. "Todo mundo já alojado, cansado. Pra galera que vier, aqui é o quartel", completou.

Mais cedo, o voluntário enviou áudios ao grupo para relatar o que via e as suas primeiras percepções sobre os militares ucranianos, enquanto estava em uma fila para alistamento na fronteira com a Polônia. "O povo aqui foi de boa, mano. Tá ajudando todo mundo que quer comparecer", disse.

"Aí, Silva. Acabei de chegar. Tô aguardando os outros chegar aqui, Silva, pra gente ir junto", disse, em um vídeo anterior, enquanto mostrava imagens de uma área residencial, em contato com Adalton Silva. Ex-militar e dono de uma empresa de segurança no interior do Rio de Janeiro, Silva diz participar de sete grupos no WhatsApp de voluntários —cinco coordenados por ele.

montagem - Arte UOL - Arte UOL
Ex-militares Carlos Cândido (acima), Adalton Silva (abaixo, à esq.) e Bruno Evans (abaixo, à dir.) integram lista de voluntários
Imagem: Arte UOL

Silva diz ter selecionado o que chama de "pelotão" ao se referir a um grupo de cem voluntários, submetidos a um questionário para integrar o grupo. Segundo ele, 80% dos selecionados têm formação militar. O restante do grupo é formado por tradutores dos idiomas ucraniano ou inglês, médicos e enfermeiros.

"Temos uma equipe bem estruturada disposta a ajudar. Não queremos levar ninguém para morrer, ainda que estejamos dispostos a dar a vida pela guerra. Nosso 'pelotão' quer ir e voltar da Ucrânia sem baixas. Sou da área militar e vou para a linha de frente", diz, enquanto corre atrás de recursos para embarcar do Brasil para a Polônia, onde é feito o alistamento.

Entre eles, está Carlos Cândido, 28, profissional da área de segurança privada e ex-militar. "No Rio de Janeiro, a gente arrisca a vida todo o dia. Já participei de confrontos armados e estou disposto a ir ao combate para ajudar o povo ucraniano. Tem muito brasileiro disposto a arriscar a própria vida para encarar a batalha", disse.

O empreendedor Bruno Evans, 27, que também é ex-militar, já programa viagem para o dia 16 deste mês, com recursos próprios, para se alistar. "Estou disposto a morrer na guerra, se necessário. Quem vai para a Ucrânia, tem que saber dos riscos. Não sei se vou sair da guerra vivo ou se vou ficar com sequelas. Mas minha ideia é ficar na Ucrânia e não voltar mais ao Brasil".

Cerca de 500 brasileiros se mobilizam

A corretora de imóveis Irina Normey Vilagran, 30, organiza outros dois grupos, onde cadastrou 142 voluntários aptos por formação e com o ciclo vacinal contra a covid-19 completo.

A ideia dela é captar recursos para permitir a viagem dos voluntários para a Ucrânia. "Na maioria dos casos, são ex-militares ou ex-policiais. Eles vão receber um treinamento prévio e equipamentos. E estão dispostos a morrer pela Ucrânia", diz.

Na soma dos grupos, cerca de 500 brasileiros estão se mobilizando por meio de WhatsApp, Telegram e em redes sociais para se alistar à Legião Internacional de Defesa do Território, criada pelo governo ucraniano em meio ao conflito com as tropas russas. Mais de cem pessoas formalizaram contato junto à Embaixada da Ucrânia no Brasil.

'Apoio integral garantido'

Na manhã de 3 de março, as Forças Armadas da Ucrânia publicaram um comunicado em rede social confirmando que os interessados em lutar pelo país deveriam procurar as embaixadas. Segundo o documento das Forças Armadas, as despesas da viagem devem ser bancadas pelos próprios voluntários. Mas o comunicado também diz: "Apoio integral garantido".

O interessado deve portar documentos como passaporte, uniformes e equipamento de trabalho militar. Os vistos são desnecessários. O candidato deve preencher um formulário. Se aceito, deverá arcar com os custos da viagem até a Ucrânia.

"Os representantes das embaixadas ucranianas e o comando das forças de Defesa Territorial vão providenciar ajuda na rota", diz o comunicado. Ao chegar no ponto combinado, é necessário assinar um contrato.