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Brasileiros que fugiram da Ucrânia vivem expectativa por voo da FAB

Guerra entre Rússia e Ucrânia entra no 11º dia; veja imagens do conflito

Ruben Berta

Do UOL, no Rio

07/03/2022 04h00Atualizada em 07/03/2022 08h44

Após dias de tensão e medo na Ucrânia, brasileiros que conseguiram fugir do país em meio ao confronto com a Rússia aguardam ansiosos em Varsóvia, na Polônia, a chegada de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

A aeronave, modelo KC-390 Millennium, tem previsão de decolar na tarde desta segunda-feira (7) de Brasília e retornar com os resgatados na próxima quinta-feira (10). Os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores não confirmaram quantos brasileiros retornarão no voo da FAB.

O avião também vai transportar do Brasil 11,5 toneladas de material de ajuda humanitária às vítimas do conflito. Durante o trajeto, serão realizadas paradas técnicas no Recife, em Cabo Verde e em Lisboa.

A missão do governo federal para repatriação de brasileiros que fugiram da guerra da Ucrânia acontece depois de muita pressão por um plano de resgate. Muitos decidiram não esperaram a ajuda oficial e conseguiram retornar ao Brasil depois de muitos percalços.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Escapar não traz felicidade, diz brasileiro

Entre os que aguardam em Varsóvia pelo retorno no voo da FAB, está o jogador de futsal Matheus Ramires, de 26 anos, que jogava desde o início de fevereiro no Skyup, time de Kiev. Ele conta que teve que deixar a cidade às pressas, apenas com uma mochila, e teria dificuldades financeiras para voltar ao Brasil num voo de carreira:

"Perdi tudo, todas as minhas coisas ficaram para trás. E o salário do clube eu só recebi ontem (sábado). No caso do futsal, não é como no futebol, em que há a compra do passe do jogador. E ninguém está preparado para o que aconteceu, para ter que sair no meio de uma guerra".

Ramires diz que, diante das cenas que presenciou e das notícias que tem acompanhado, não há como falar em felicidade, apesar de agora estar em segurança aguardando pelo retorno.

"O sentimento não é de felicidade, tem uma guerra acontecendo, é algo que parte o coração. Mas ao menos há uma sensação de alívio, principalmente por saber que agora a família no Brasil, que estava longe sem poder fazer nada, está mais tranquila. Meu irmão chegou a ficar sem dormir olhando uma webcam, que transmitia imagens ao vivo de Kiev, para saber se estava tudo bem na cidade enquanto eu estava lá. É muito angustiante", comenta.

O jogador conta que chegou a sentir uma explosão bem próxima ao apartamento onde estava em Kiev. Foi deslocado então pelo clube, inicialmente, para um hotel no centro da cidade, ao lado da embaixada da Bielorrússia. Ali, passou a se sentir mais seguro.

Ramires dormiu em um bunker junto com outros hóspedes brasileiros e só ia para o quarto para tomar banho. O jogador conta que começou a ficar ainda mais tenso quando viu as pessoas saindo, sem que ele tivesse a perspectiva de voltar para o Brasil.

Por três vezes, tentou ir a uma estação para pegar o trem para a cidade de Lviv, na fronteira com a Polônia, mas não conseguiu. O alívio só veio após um contato com a embaixada brasileira na quarta (3), que ofereceu uma vaga num comboio de carros que partiu rumo ao país vizinho.

"Quando eu chegava nos trens, sentia que não iria conseguir sair daquela forma. Eram mulheres grávidas, crianças, idosos. A gente carrega os nossos valores, e eu não iria ficar bem se passasse na frente daquelas pessoas".

Atualmente, o jogador está em um hotel em Varsóvia, custeado pelo governo brasileiro. Ele acredita que haja cerca de 30 compatriotas no local, também aguardando pelo voo da FAB.

'Situação mudou de uma hora para outra'

Desde que começou a guerra, Ramires se uniu a outro jogador, Jonatan Bruno Santiago, conhecido como Moreno, e ao estudante de medicina David Suleiman Said Abu Gharbil. Os três passaram juntos pelas dificuldades até chegar a Varsóvia. Agora, tentam relaxar na cidade enquanto o avião para o Brasil não chega.

"É uma amizade que começou aqui e, com certeza, vamos carregar para o resto da vida", afirma David.

O estudante de medicina, de 30 anos, estava na Ucrânia há cerca de três meses e conta que, pelos relatos dos colegas locais, não tinha noção de que uma guerra poderia acontecer:

"Se eles estavam tranquilos, por que eu ia ter medo? Mas a situação mudou de uma hora para outra. Foi desesperador. Nunca vou esquecer de quando senti uma explosão no quarto do apartamento onde eu estava. A luz foi tão forte que parecia que a explosão tinha acontecido no próprio prédio".

Desde o início do conflito, o governo federal afirma que já apoiou a saída de mais de cem brasileiros da Ucrânia. Eles se dirigiram a países fronteiriços, principalmente para a Polônia e Romênia. O Itamaraty informa que continua a prestar assistência consular a brasileiros que estejam na região.

Foi anunciado pelo governo na semana passada que os passageiros poderão embarcar no voo da FAB com seus animais de estimação. Houve a liberação após pressão de ativistas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, a aeronave modelo KC-390 Millennium tem previsão de decolar de Brasília na tarde desta segunda-feira, dia 7, e não dia 6. O texto foi corrigido.