Brasileiros negam que Arthur do Val auxiliou na Ucrânia: 'não ajudou nada'
A história dos cinco jogadores brasileiros do Vovchansk, clube de futebol ucraniano, que tiveram que fugir da guerra no começo deste mês repercutiu no mundo todo. A maioria deles tinha chegado há poucos dias no país e antes de realizarem o sonho de viver do futebol, tiveram que fugir e voltar ao Brasil.
A história de Victor Adame, Luan Martins, Joanderson Normandes, Gabriel Patreze e Wendell Ramos agora é alvo de uma polêmica, novamente envolvendo o deputado estadual paulista Arthur do Val (sem partido), um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre).
Em entrevista ao Domingo Espetacular, Arthur do Val diz ter ajudado os jogadores a voltar para casa —é um esforço para amenizar sua imagem após sofrer consequências de seu áudio sexista ter vazado.
"Fizemos entrevistas, ajudamos a cinco brasileiros, jogadores, a encontrarem o caminho para casa", disse no último domingo (13). Essa versão da história, porém, não é confirmada pelos jogadores nem pelo brasileiro que os recebeu na Eslováquia, assim que conseguiram passar a fronteira da Ucrânia.
Victor Adame, um dos jogadores, afirma que o deputado "não ajudou em nada". João Paulo Araújo, economista que mora em Kosice, na Eslováquia, e recebeu os cinco em sua casa depois que eles cruzaram a fronteira da Ucrânia, diz que o MBL sugeriu um financiamento coletivo, solução que ele considerou inadequada porque não seria rápida o suficiente.
A saída da Ucrânia
Na própria entrevista publicada por Arthur do Val, os jogadores narram como foi sua saída da Ucrânia. Eles tiveram que atravessar o país de trem, inicialmente em uma viagem da Kharkiv, no leste da Ucrânia, onde viviam, a Lviv, no oeste. De lá, pegaram outro trem para a fronteira.
Eles contam que viveram diversos momentos de tensão ao longo deste tempo e que reforçam, assim como Victor voltou a dizer para a reportagem do UOL, que contaram com o apoio do consulado brasileiro. Em Lviv, por exemplo, funcionários do consulado os encontraram na estação de trem e levaram comida e carregadores portáteis para os celulares.
Além disso, Victor é categórico em afirmar que eles são gratos também à ajuda de João Paulo Araújo e sua mulher, Gisele, que vivem em Kosice há pouco mais de três anos. No Brasil, viviam em Piracicaba, no interior de São Paulo, onde João trabalhou com um parente de um dos jogadores.
Foi pela rede social deste antigo colega que ele ficou sabendo que os jogadores estavam na Ucrânia e por meio dele entrou em contato para se colocar à disposição para recebê-los e ajudar na saída da Ucrânia e na volta ao Brasil.
João conta que teve o primeiro contato direto com eles quando estavam embarcando no trem que os levou de Kharkiv a Lviv. Ele também entrou em contato com a Embaixada do Brasil na Eslováquia e com consulados brasileiros no país, que providenciaram o carro que os levou da fronteira à casa de João.
Enquanto os rapazes estavam lá, aguardando para voltar ao Brasil, João foi procurado pelo MBL, que o encontrou por meio de outro brasileiro que mora na região. Eles pediram para fazer uma entrevista com os jogadores, que foi posteriormente divulgada no canal do deputado Arthur do Val no youtube, o Mamãe Falei, no dia 2 de março.
Quem pagou pela volta ao Brasil
A mudança dos jogadores do Brasil para a Ucrânia foi paga pelo clube para o qual jogavam. O Vovchansk também arcava com as despesas de moradia e alimentação e, de acordo com Victor, prestaram todo o suporte para que eles pudessem sair da Ucrânia, comprando a passagem de trem e também disponibilizando um representante para auxiliá-los. A volta ao Brasil, porém, eles esperavam que fosse coberta pelo Itamaraty.
O clube fez o que pode para nos ajudar, porém eles ficaram com as mãos atadas, porque muitas das pessoas que trabalhavam no clube estava em bunkers, então ficava difícil eles resolverem as [nossas] coisas.
Victor Adame, 22 anos, jogador de futebol
O jogador explicou que até o momento em que deram a entrevista a Arthur do Val e Renan dos Santos, eles estavam esperando para voltar ao Brasil em um voo de repatriação do Itamaraty que eles acreditavam que sairia da Polônia ou da Romênia.
Victor Adame, um dos jogadores, contou que eles mantinham contato com o consulado brasileiro à espera de instruções sobre o voo, mas que acabaram recebendo a informação de que ele não aconteceria. "Nós teríamos que buscar outra maneira de voltar, por nossa conta. Entramos em contato com algumas pessoas e uma delas era o deputado Arthur do Val, que praticamente não ajudou em nada", fala.
João diz que teve a iniciativa de entrar novamente em contato com o MBL na esperança de que Arthur do Val pudesse articular uma ajuda como parlamentar. Como o próprio deputado reitera, porém, ele foi à Ucrânia por conta própria, na condição de cidadão.
João explicou também que tinha encontrado passagens para os jovens que custavam 600 euros cada, o equivalente a cerca de R$ 20 mil no total. O MBL afirma ter arrecadado via financiamento coletivo mais de R$ 200 mil.
O contato, porém, foi infrutífero. Victor Adame refuta que tenha recebido qualquer ajuda de Arthur do Val:
Ele foi no apartamento, gravou um vídeo conosco, desligou a câmera e foi embora, foram 20 minutos de vídeo e 10 montando os equipamentos e nada mais.
Victor Adame, 22 anos, jogador de futebol
Segundo a assessoria do deputado Arthur do Val, os membros do MBL entenderam que pagar pelas passagens dos jogadores seria um desvio, uma vez que o dinheiro foi arrecadado com outros objetivos, como o de comprar kits médicos, alimentos e fraldas.
Leia a íntegra da nota enviada pela assessoria de Arthur do Val ao UOL:
Durante a missão humanitária na Europa o deputado Arthur do Val foi procurado por um brasileiro que hospedava em sua casa, na Eslováquia, cinco jogadores de futebol brasileiros que estavam com dificuldade para voltar para o Brasil.
O deputado gravou um vídeo com os jogadores e postou nas redes sociais. Houve o pedido de ajuda financeira para custear o voo de volta para o Brasil, mas Arthur do Val considerou que não era adequado usar na compra de passagens aéreas o dinheiro que havia sido arrecadado com o objetivo de comprar medicamentos, alimentos e ajuda para o exército ucraniano.
A proposta feita por Arthur do Val foi de organizar outra campanha de arrecadação com o objetivo específico de financiar a volta dos jogadores. Isso, no entanto, não foi necessário. Um empresário ucraniano doou a quantia necessária para o deslocamento e eles voltaram para o país.
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