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Ucrânia e Rússia elaboram plano de paz para acabar com a guerra, diz jornal

Do UOL, em São Paulo

16/03/2022 12h06Atualizada em 16/03/2022 15h50

A Ucrânia e a Rússia fizeram progressos significativos para a elaboração de um plano de paz para encerrar a guerra, que completa hoje 21 dias. As informações são do jornal Financial Times, que conversou com três pessoas envolvidas nas negociações.

Trata-se de um plano provisório com 15 pontos, incluindo um cessar-fogo e a retirada russa do território ucraniano. As medidas estão condicionadas ao status de neutralidade da Ucrânia e ao estabelecimento de limites para parcerias militares com países do Ocidente.

O acordo proposto, que os negociadores ucranianos e russos discutiram na íntegra pela primeira vez na segunda-feira (14), envolveria Kiev renunciando às suas ambições de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e prometendo não abrigar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados, como EUA e Reino Unido, e Turquia, disseram as fontes ouvidas pelo jornal.

Ontem, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sinalizou que pode desistir do ingresso na União Europeia e Otan para encerrar a guerra. A fala marca uma mudança no discurso de Zelensky, que chegou a enviar um pedido para integrar o bloco europeu, quatro dias após o início da invasão russa.

O Financial Times diz que o maior obstáculo nas negociações de paz é a exigência da Rússia de que a Ucrânia reconheça a anexação da península da Crimeia em 2014 e a independência de Donetsk e Lugansk, na região da fronteira leste.

A Ucrânia até agora recusou a exigência, mas está disposta a compartimentar a questão, ressaltou o conselheiro presidencial Mykhailo Podolyak.

"Territórios disputados e em conflito [estão] em um caso separado. Até agora, estamos falando de uma retirada garantida dos territórios ocupados desde o início da operação militar em 24 de fevereiro", acrescentou ele.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Rússia também quer idioma russo na Ucrânia

Segundo o Financial Times, duas pessoas envolvidas nas negociações dizem que o acordo proposto pela Rússia inclui disposições sobre a consagração dos direitos do idioma russo na Ucrânia, onde é amplamente falado, embora o ucraniano seja o único idioma oficial.

A Rússia diz que sua "operação militar" é uma tentativa de proteger os falantes de russo na Ucrânia do "genocídio" por "neonazistas". O conselheiro Podolyak afirmou que "questões humanitárias, incluindo questões de linguagem, são discutidas apenas sob o prisma dos interesses exclusivos da Ucrânia".

Autoridades ucranianas desconfiam do comprometimento da Rússia

Embora Moscou e Kiev tenham dito publicamente que houve progresso nas negociações, autoridades ucranianas estão céticas que Vladimir Putin está comprometido com a paz. A avaliação, diz o Financial Times, é de que a Rússia está ganhando tempo para reagrupar suas forças e retomar a ofensiva.

Ao jornal, o conselheiro presidencial Mykhailo Podolyak afirmou que qualquer acordo envolveria "as tropas da Federação Russa deixando o território da Ucrânia". Hoje, a Rússia controla as regiões do sul da Ucrânia, que contornam os mares Azov e Negro, bem como cidades ao leste e norte de Kiev.

16.mar.2022 - Resgate combate chamas em prédio bombardeado em Kiev, capital da Ucrânia - Reuters - Reuters
16.mar.2022 - Resgate combate chamas em prédio bombardeado em Kiev, capital da Ucrânia
Imagem: Reuters

Ele minimizou a proibição de bases estrangeiras na Ucrânia, dizendo que a medida já era limitada pela lei ucraniana. Ele acrescentou que a Ucrânia "definitivamente manterá seu próprio exército".

O presidente russo, Vladimir Putin, disse hoje que a Rússia está pronta para discutir o status neutro da Ucrânia, mas que Moscou ainda alcançará os objetivos de sua operação militar, que está "indo conforme o planejado".

O secretário de imprensa de Putin, Dmitry Peskov, disse hoje a repórteres que a neutralidade da Ucrânia é uma possibilidade, citando a Áustria e Suécia como exemplos. Nenhum dos países é membro da Otan.

"Esta opção está realmente sendo discutida agora e pode ser considerada neutra", disse Peskov.

Apesar do progresso nas negociações de paz, as cidades ucranianas ficaram sob forte bombardeio pela terceira noite consecutiva. A capital Kiev anunciou que está lançando uma contra-ofensiva contra invasores russos.

Ucrânia volta a pedir zona de exclusão aérea

Em um discurso virtual a membros do Congresso dos Estados Unidos, o presidente Zelensky voltou a pedir uma zona de exclusão aérea ou o fornecimento de caças para afastar bombardeios da Rússia. Ele relembrou o atentado terrorista de 11 de setembro e o ataque a Pearl Harbor.

"Em sua grande história, vocês têm a capacidade de entender os ucranianos, precisamos agora dos senhores. Lembrem-se de Pearl Harbor, de 11 de setembro, um dia terrível, quando o mal tentou tomar sua cidade e pessoas inocentes foram atacadas. Cidades ucranianas estão passando por isso agora", discursou Zelensky.

O presidente ucraniano foi aplaudido de pé pelos congressistas americanos antes e depois de falar. Na introdução, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, o agradeceu por sua "liderança corajosa".

Ao pedir novamente uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia para impedir novos ataques, o presidente citou o líder de direitos civis norte-americano Martin Luther King Jr. e seu famoso discurso "Eu tenho um sonho".

Tenho uma necessidade, a necessidade de proteger nosso céu. Preciso de sua decisão, de sua ajuda. É pedir demais, criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, salvar as pessoas? É pedir demais, uma zona de exclusão aérea humanitária? Volodymyr Zelensky

Zelensky exibiu um vídeo com ataques a cidades ucranianas, com crianças chorando, pessoas mortas e prédios destruídos ao pedir a medida.

Ataques no 21º dia

Enquanto os países negociam, os ataques russos continuaram em cidades da Ucrânia ao longo do 21º dia de conflitos. Foram registrados bombardeios na cidade de Zaporizhzhia, até então pouco afetada militarmente e que conta com a usina nuclear já tomada pelos russos. A cidade recebia mais de 3 mil carros com refugiados de Mariupol. Uma estação de trem foi o local mais afetado e há registro de ao menos uma pessoa ferida.

Mariupol também foi atacada hoje por forças russas. Segundo o governo da Ucrânia, "há mortos" decorrentes dos bombardeios.

Na capital da Ucrânia, Kiev, um prédio residencial foi atingido por bombardeios. Ao menos duas pessoas ficaram feridas. Já na segunda maior cidade do país, Kharki, houve destruição de dois prédios residenciais. Duas mortes foram confirmadas até agora.

No norte do país, na cidade de Chernihiv, 10 civis foram mortos por soldados russos enquanto compravam pão. As informações são do site de notícias ucraniano, Suspilne Media.