Ucrânia controla fogo após bombardeio; Rússia concentra ataques no leste
No 32º dia de guerra, a Rússia afirma ter atacado com mísseis de cruzeiro de alta precisão uma fábrica responsável por revisar e modernizar sistemas de mísseis antiaéreos em Lviv, no oeste da Ucrânia. A cidade também foi alvo de um ataque com armas aéreas de precisão e longo alcance a uma base de armazenamento de combustível que, segundo os russos, fornecia o insumo para as tropas ucranianas.
O Serviço de Emergência da Ucrânia e autoridades ucranianas afirmam que o fogo foi contido, e não há informações sobre feridos ou mortos. Segundo os ucranianos, foram necessárias mais de 12 horas para conter completamente o incêndio.
O Reino Unido avalia que os russos estão com dificuldade de se estabelecer no norte ucraniano. Os ataques, avalia a inteligência britânica, "parecem estar concentrados" no leste do país, principalmente em Kharkiv e Mariupol.
Zelensky pede mais apoio de parceiros à Ucrânia
Em vídeo publicado na noite de ontem, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu que parceiros intensifiquem apoio ao país durante a guerra.
"A Ucrânia não pode derrubar mísseis russos com espingardas e metralhadoras, que é o que temos muito em estoque", disse, pedindo ajuda aos Estados Unidos. O chanceler ucraniano já se reuniu com os EUA, mas não se sabe se ele fez esse pedido no encontro, e com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Zelensky disse precisar de aeronaves, tanques, defesa antimísseis e mísseis antinavios.
Ataques a Chernigov se destacam
Mídia e autoridades locais avaliam que a região de Chernigov, no norte do país, pode se tornar a "nova Mariupol", com alto número de destruição de infraestrutura e perda de civis. Nas últimas 24 horas, de acordo com o prefeito da cidade, Vladyslav Atroshenko, foram 44 pessoas feridas, incluindo três crianças.
Atroshenko afirma que nos primeiros 30 dias de guerra a cidade de 300 mil moradores viu metade dos seus civis fugir dos efeitos da guerra. "A cidade está despedaçada", disse.
O prefeito avalia que cerca de 200 civis morreram nos ataques. A destruição de uma ponte que liga a cidade à região mais próxima de Kiev impossibilita corredores humanitários, disse.
Hoje (27), o chefe da Administração Militar Regional de Chernigov, Viacheslav Chaus, afirmou que a cidade está sem energia elétrica, aquecimento e abastecimento de água. Ele afirma que foram oito incêndios nas últimas 24 horas, incluindo em um assentamento residencial.
Luhansk e Donetsk são principais alvos
O Ministério da Defesa da Ucrânia avalia que os esforços dos russos estão concentrados em tomar as localidades de Popasna e Rubizhne, na região de Luhansk, além de acessar Vuhledar e Novotroitskoe, na região de Donetsk —áreas onde afirma terem sido destruídos oito tanques e 11 veículos russos.
O Canal 24, uma mídia local, confirmou ontem que um de seus funcionários, o cinegrafista Yuriy Oliynyk, foi morto em 23 de março, em um dos ataques na região de Luhansk. De acordo com o canal, Oliynyk se voluntariou para ajudar as tropas ucranianas no combate à invasão russa.
Foi a segunda vez, ainda de acordo com o comunicado, que o homem de 39 anos se dispôs a lutar em uma guerra: a primeira foi em 2014, época do ataque russo a Donbass.
O chefe da Administração Regional de Luhansk, Serhiy Haidai, afirmou que ao menos 11 imóveis foram atingidas por bombardeios na região nas últimas 24 horas, além de uma escola e um estacionamento de ambulâncias.
Mariupol segue sob ataque, diz prefeito
Mariupol, uma das cidades mais atingidas nos primeiros 31 dias de guerra, também segue na mira. O prefeito Vadym Boychenko afirmou em uma entrevista que a cidade está em um "anel que está encolhendo", em alusão à ocupação russa em áreas mais distantes do centro.
Boychenko ainda disse que a tática russa é nazista: ataque à infraestrutura local e bloqueio da cidade.
"Hoje, a cidade de Mariupol continua a ser uma cidade ucraniana. Nossos militares estão fazendo de tudo para mantê-la assim no futuro", disse.
A mídia de Mauripol afirma que crianças órfãs foram levadas por russos da cidade para um hospital ocupado em Donetsk, creditando a informação a moradores da região. A informação não pode ser confirmada de forma independente.
Ontem, Zelensky elogiou a ação dos ucranianos na região e aproveitou para alfinetar países parceiros. "Sua determinação, seu heroísmo e sua resistência são incríveis. [Desejo] Pelo menos uma porcentagem de sua coragem para aqueles que estão pensando há 31 dias em como transferir uma dúzia de aeronaves ou tanques", disse.
Em Trostyanets, na região de Sumy, as autoridades buscam reconstruir a cidade após a saída das tropas russas. De acordo com Dmytro Zhyvytskyi, chefe da Administração Estatal Regional de Sumy, "muitas instalações na cidade, incluindo um hospital, permanecem minadas". Por isso, Zhyvytskyi pede que moradores "sejam cuidadosos".
Ele destaca que a última noite foi a mais tranquila na região —e chama a atenção para o horário de verão. Agora, o horário local está seis horas adiantado em relação ao horário de Brasília.
Dois corredores humanitários previstos para hoje
Depois dos dez corredores humanitários que operaram ontem, hoje mais dois estão previstos. O anúncio foi feito por Iryna Vereshchuk, vice-primeira-ministra da Ucrânia e, temporariamente, chefe da pasta de Reintegração do país.
Na região de Donetsk, um comboio humanitário parte de Berdyansk até Zaporizhzhia com 15 ônibus. Os civis de Mariupol deverão sair por conta própria no corredor que leva até Zaporizhzhia. Um posto de gasolina gratuito está disponível para carros particulares nesse corredor, em Berdyansk.
Na região de Luhansk, um corredor está previsto de Rubizhne para Bakhmut, passando por ao menos oito pontos na localidade para que civis possam usar os ônibus.
Ontem, cerca de 5.200 pessoas foram evacuadas nos dez corredores. A informação é do vice-chefe do gabinete do presidente, Kyrylo Tymoshenko. A maioria (cerca de 4.300) saiu de Mariupol.
Biden diz que Rússia 'estrangula a democracia'
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a "Rússia estrangula a democracia" com a invasão à Ucrânia. A declaração foi feita na Polônia, após reunir-se com aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Biden comparou as ações recentes de Vladimir Putin a situações da Guerra Fria e disse que os EUA não deixarão os territórios de países da aliança militar "desprotegidos".
Biden criticou as falas de Putin de que a invasão teria ocorrido, entre outros motivos, para "desnazificar a Ucrânia". Ele citou que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é descendente de judeus e foi democraticamente eleito: "E Putin ainda tem a audácia de dizer que faz o certo", disse.
Biden acrescentou que "o povo russo não é o inimigo", e acusou Putin de utilizar de táticas de desinformação na Rússia para vetar que a população tenha acesso à versão ocidental do conflito.
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