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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Ucrânia: Mariupol acusa Rússia de oferecer corredores de evacuação falsos

Do UOL, em São Paulo*

18/04/2022 10h10Atualizada em 18/04/2022 12h44

O conselheiro do prefeito da cidade portuária de Mariupol, Petro Andriushchenko, acusou a Rússia de abrir corredores de evacuação falsos. O município é um dos locais onde a situação da guerra está pior, com a população cercada por tropas russas e sofrendo com a falta de abastecimento.

Segundo informações publicadas por Andriushchenko em seu canal no Telegram, a Rússia está tentando criar uma "armadilha" para aqueles que ainda defendem a cidade. As forças ucranianas rejeitaram o prazo oferecido pela Rússia para que elas se rendessem.

"De acordo com a mensagem deles, o corredor de saída segura deveria ter sido marcado com bandeiras vermelhas, mas nenhuma marca foi feita", disse ele. "Isso confirma mais uma vez que eles estão apenas preparando uma armadilha para nossos defensores", afirmou Andriushchenk.

Mais cedo, o conselheiro do prefeito de Mariupol disse que a cidade seria fechada para entrada e saída a partir de hoje, com as forças russas emitindo passes para circulação. Andriushchenko também afirmou que os homens ucranianos estariam sujeitos a "filtragem".

O conselheiro não está em Mariupol, mas trabalha para coletar informações de pessoas na cidade, que está sob um cerco de uma semana.

"Os combates no distrito da Margem Esquerda (Livoberezhnyi) duram o dia todo", disse Andriushchenko. "Os ocupantes continuam atirando e bombardeando Azovstal com todas as armas", acrescentou.

A Rússia não comentou as acusações de que teria aberto corredores humanitários falsos.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia divulgou hoje, no Twitter, a imagem de antes e depois de um prédio que foi bombardeado em Mariupol.

Segundo a publicação, o edifício fica na Avenida da Paz e sobreviveu às duas guerras mundiais.

Mariupol parece 'inferno na Terra', diz comandante em carta ao Papa Francisco

O major Sergiy Volyna, comandante da 36ª brigada de fuzileiros navais ucranianos, enviou uma carta ao Papa Francisco pedindo ajuda para salvar a população de Mariupol. Na mensagem, ele diz que não os civis enfrentam uma situação desumana e que Mariupol "parece o inferno na Terra".

"Chegou o momento no qual apenas orações não bastam. Ajude a salvá-los [os civis]. Mostre a verdade ao mundo, ajude a evacuar as pessoas e salve suas vidas das mãos do Satanás, que quer queimar todos os seres vivos", escreveu Volyna.

Segundo Volyna, Francisco já "viu muita coisa" em sua vida, mas "nunca viu aquilo que está acontecendo em Mariupol".

Parece o inferno na Terra. Tenho pouco tempo para descrever todos os horrores que vejo aqui a cada dia. Na fábrica [onde os militares ucranianos estão entrincheirados], mulheres com crianças e recém-nascidos vivem em bunkers. Na fome e no frio. Feridos morrem todos os dias porque não há remédios.
Major Sergiy Volyna, comandante da 36ª brigada de fuzileiros navais ucranianos, pede ajuda ao Papa Francisco

O papa Francisco tem feito recorrentes apelos contra a invasão russa e pedindo o fim da guerra.

Ucrânia vai lutar 'até o fim'

A Ucrânia quer que seus últimos defensores em Mariupol lutem "até o fim", e não obedeçam ao ultimato feito pela Rússia, neste domingo (17), para que depusessem suas armas nesta estratégica cidade portuária do sudeste do país.

"A cidade não caiu. Nossas forças militares, nossos soldados ainda estão lá. Eles vão lutar até o fim", garantiu Denys Shmyhal, o primeiro-ministro ucraniano, em entrevista à emissora americana ABC.

As declarações do primeiro-ministro chegam depois de expirar o ultimato de Moscou, que pediu aos últimos soldados ucranianos entrincheirados em um enorme complexo metalúrgico em Mariupol que se rendessem e deixassem o local antes das 13h (7h, em Brasília).

"Todos aqueles que abandonarem suas armas terão a garantia de salvar suas vidas [...] É sua única chance", escreveu o ministério russo no Telegram.

Além disso, as forças russas anunciaram que bombardearam neste domingo outra fábrica militar nos arredores de Kiev, no momento de escalada dos ataques em torno da capital ucraniana.

Mas os ataques de Moscou se concentram, sobretudo, no leste e no sul do país. A conquista de Mariupol, onde a situação é "desumana", segundo o presidente ucraniano Volodimir Zelensky, suporia uma importante vitória para Moscou.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Com 440.000 habitantes antes do início da guerra, Mariupol é o último obstáculo para a Rússia garantir seu controle na faixa marítima que vai dos territórios separatistas pró-russos de Donbass até a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

A Rússia garante ter controlado quase toda a cidade, algo que Shmyhal negou durante a entrevista para a ABC.

O presidente ucraniano assinalou que só havia "duas opções": o fornecimento de "todas as armas necessárias" dos países ocidentais para romper o longo cerco da cidade, ou "a via da negociação", na qual "o papel dos aliados deve ser igualmente decisivo".

Zelensky afirmou em uma entrevista à emissora americana CNN que convidou o presidente francês, Emmanuel Macron, a visitar à Ucrânia.

O objetivo da visita seria que Macron visse com seus próprios olhos que as forças russas estão cometendo um "genocídio", um termo que o líder francês tem se recusado a usar até agora, detalhou o governante ucraniano.

Putin 'acha que vai ganhar a guerra'

O papa Francisco fez um apelo neste domingo para "ouvir o grito de paz" nesta "Páscoa de guerra", e aludiu a uma "Ucrânia martirizada", em sua bênção "urbi et orbi" diante de 50.000 fiéis na Praça de São Pedro, em Roma.

Por outro lado, de acordo com o chanceler austríaco Karl Nehammer, que se reuniu com Vladimir Putin na segunda-feira em Moscou, o presidente russo acha que venceu a guerra desencadeada por sua invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro.

Shmyhal, o primeiro-ministro ucraniano, rechaçou as afirmações do líder russo e lembrou que "nenhuma só cidade grande" ucraniana havia caído.

Por sua parte, o chefe de governo italiano Mario Draghi lamentou neste domingo, em entrevista ao jornal Il Corriere della Sera, a aparente ineficácia do "diálogo" com Putin, observando que isso não impediu a continuidade do "horror" na Ucrânia.

A criação de corredores humanitários em algumas regiões continua sendo um quebra-cabeça. As autoridades ucranianas informaram hoje que a falta de um acordo com os russos para um cessar-fogo suspenderá, por ora, a evacuação de civis do leste do país.

"Esta manhã, não conseguimos negociar um cessar-fogo nas rotas de evacuação com os ocupantes [russos]. Por esta razão, infelizmente, não vamos abrir hoje os corredores humanitários", escreveu a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk no Telegram.

A líder indicou que as autoridades estão fazendo todo o possível para reabrir os corredores humanitários "o mais rápido possível". Vereshchuk também exigiu a abertura de uma estrada para evacuar soldados feridos na cidade de Mariupol.

*Com informações de ANSA