Mães e filhas fazem aulas de tiro na Ucrânia: 'Precisam estar prontas'
Em um porão de uma escola em Ivano-Frankivsk, oeste da Ucrânia, mulheres com idades entre 18 e 51 anos estão tendo aulas sobre como atirar com armas de fogo, entre elas fuzis de assalto. A escola Litsey 20, uma das maiores da cidade, normalmente abrigava conversas animadas entre os mais de 1.200 alunos entre seis e 18 anos. Mas, com o ensino presencial proibido no país por conta da guerra com a Rússia, a escola agora oferece um outro tipo de educação.
No final de março, o prefeito de Ivano-Frankivsk, uma das maiores cidades do oeste da Ucrânia, anunciou que os campos de tiro em cinco escolas da cidade seriam reabertos para ensinar os civis a usarem armas de fogo. Embora abertos a todos, os cursos são voltados principalmente para mulheres. As informações são do jornal britânico The Guardian.
As mulheres precisam estar prontas para proteger a si mesmas e suas famílias.
Ruslan Martsinkiv, prefeito de Ivano-Frankivsk
A primeira aula foi realizada em 31 de março, dia em que as forças ucranianas libertaram Bucha, um subúrbio a noroeste da capital, Kiev. Enquanto notícias de crimes de guerra cometidos por soldados russos circulavam na mídia e nos canais do Telegram, milhares de mulheres ucranianas correram para se inscrever no curso.
No primeiro fim de semana, mais de 3.700 mulheres se inscreveram, com 800 homens também interessados. Nas semanas seguintes, milhares de outras se inscreveram e agora há uma lista de espera de mais de 6.300 mulheres que querem aprender a atirar.
Natalia Anoshina, de 51 anos, diz que nunca havia considerado a ideia de um dia precisar saber como manejar um rifle. Mas depois de ouvir sobre as atrocidades ocorridas em Bucha, sua filha de 18 anos sugeriu que elas se inscrevessem e ela concordou. "É um pesadelo, é simplesmente horrível. Minha mente não consegue processar essa informação, esse pavor", diz ela sobre os eventos fora de Kiev.
As aulas de tiro, disponíveis todos os dias da semana na Litsey 20 e em outras quatro escolas da cidade, são divididas em duas partes. A primeira, teórica, contém o básico para se manusear um fuzil de assalto Kalashnikov. A segunda parte é prática e inclui treinamento de tiro ao alvo com um rifle de ar comprimido.
Os participantes não recebem armas depois, mas, segundo Martsinkiv, "o ponto principal é aprender a usá-las, para que as mulheres estejam prontas para fazê-lo se e quando chegar a hora", afirma.
"Não há combates em Ivano-Frankivsk no momento, mas se a guerra vier aqui será uma situação diferente — vimos o que aconteceu em Bucha e Irpin", acrescenta Martsinkiv. "É a tarefa dos dias atuais, a tarefa da guerra."
Galina, uma vendedora de encanamentos, se inscreveu nas aulas assim que foram anunciadas porque pensa que saber manejar uma arma é uma habilidade útil em tempos de guerra. Os eventos em Bucha, diz ela, foram uma dolorosa confirmação de que ela havia tomado a decisão certa.
"Você precisa conhecer essas habilidades e ter a possibilidade de se defender no futuro. Tenho um filho e um marido que estão no exército. Mas preciso disso para mim, em caso de emergência", diz ela. "Seria melhor se eu nunca precisasse, mas pelo menos saberei como usar uma arma. O que mais podemos fazer? É assim que está a nossa vida agora."
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