Chernobyl: pior acidente nuclear faz 36 anos com medo renovado de vazamento
O vazamento da usina de Chernobyl, o pior acidente nuclear da história, completa hoje exatos 36 anos com os temores novamente em cena: o nível de radioatividade no local é "absolutamente anormal e muito, muito perigoso", alertou Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).
Ele lidera uma missão para avaliar os danos à segurança da usina, localizada no norte da Ucrânia, que foi um dos primeiros locais ocupados pelos russos, em 24 de fevereiro. Ela foi abandonada em 31 de março.
A "taxa de irradiação externa" nos locais de medição foi de 10 a 15 vezes maior que o normal.
Essa radiação "anormalmente alta" foi detectada em uma parte da chamada Floresta Vermelha, uma área de exclusão e altamente tóxica de Chernobyl.
A região teria sido usada por soldados russos para cavar trincheiras e construir estruturas de proteção militar, segundo a empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom. A estimativa é de que a radiação interna recebida pelos russos foi "160 vezes mais que o normal".
Durante a ocupação russa ao local, cerca de 170 guardas nacionais ucranianos que protegiam a fábrica foram levados para o porão e mantidos em cativeiro. Em seguida, soldados russos revistaram as instalações em busca de armas e explosivos.
Engenheiros, supervisores e outros técnicos foram autorizados a continuar trabalhando. Nos dois dias seguintes, equipes da agência russa de energia atômica Rosatom foram trazidas.
Segundo a agência estatal de gestão da zona de exclusão que rodeia a antiga usina nuclear, as forças russas ainda roubaram 133 substâncias radioativas dos laboratórios de Chernobyl que poderiam ser letais. "Inclusive uma pequena parte desta atividade é mortal, se manipulada de forma pouco profissional", disse o órgão.
"Eles [russos] queriam saber como a instalação era administrada e queriam informações sobre todos os procedimentos, documentos e operações. Eu estava com medo, porque o questionamento era constante e às vezes forçado", disse Oleksandr Lobada, supervisor de segurança de radiação na estação ucraniana.
Bilhões de dólares foram gastos desde o acidente em 1986 para limpar e conter a contaminação, mas há um grande risco de liberação de material nuclear se as condições no local não forem monitoradas adequadamente. Os resíduos radioativos do desastre estão armazenados ali.
Relembre o acidente nuclear
Em 26 de abril de 1986, às 1h23, o reator número 4 da central de Chernobyl, a 100 quilômetros da capital ucraniana Kiev, explodiu durante um teste de segurança.
Durante 10 dias, o combustível nuclear queimou e liberou na atmosfera elementos radioativos que contaminaram, segundo estimativas, até 75% da Europa, especialmente as então repúblicas soviéticas da Ucrânia, Belarus e Rússia.
As autoridades soviéticas tentaram esconder o acidente. O líder da URSS na época, Mikhail Gorbachev, não falou publicamente sobre a questão até 14 de maio.
Naquele ano, 116 mil pessoas foram retiradas dos arredores da central, que permanecem praticamente inabitados. Nos anos seguintes, outros 230 mil moradores deixaram a zona.
Durante quatro anos, quase 600 mil pessoas foram enviadas ao local do desastre com pouca ou nenhuma proteção para controlar o incêndio, isolar o reator com uma cobertura de concreto e limpar os arredores.
O balanço de vítimas da catástrofe ainda é objeto de debate. O comitê científico da ONU (Unscear) reconhece oficialmente apenas 30 mortes de operários e bombeiros vítimas da radiação. Mas, em 2006, a ONG Greenpeace calculou em quase 100 mil mortes provocadas pelos efeitos radioativos da catástrofe nuclear.
A central de Chernobyl manteve a produção de energia elétrica até dezembro de 2000, quando a pressão dos países ocidentais resultou na paralisação do último reator operacional.
Após anos de adiamento, no final de 2016 foi instalado um arco gigante de aço sobre o reator danificado, estrutura que cobriu o "sarcófago" de concreto, rachado e instável, e que deve garantir a segurança pelos próximos 100 anos.
Embora as autoridades afirmem que os humanos não poderão viver na região de forma segura por pelo menos 24 mil anos, o local atrai cada vez mais turistas à procura de emoção e Kiev deseja sua inclusão na lista de Patrimônio Mundial da Unesco.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.