Sonar e explosivo: como golfinhos treinados na Rússia viram arma de guerra
No imaginário popular, golfinhos são animais bonitos e fofos, que alegram crianças e adultos em atividade turística ou quando avistados na natureza. No entanto, desde a década de 1950, no período da Guerra Fria, os Estados Unidos (EUA) e a então União Soviética (URSS) usam golfinhos como arma de guerra, para ajudar nas disputas navais.
Na Guerra da Ucrânia, a utilização do animal voltou a ser destaque após H. I. Sutton, especialista vinculado ao Instituto Naval dos EUA, divulgar no Twitter que golfinhos treinados estão sendo levados para a entrada do porto de Sebastopol, na Crimeia —a principal base naval russa no mar Negro.
As evidências para isso foram apresentadas pelo órgão em 27 de abril, com fotos de satélite que mostram que a Rússia moveu em fevereiro dois recintos de golfinhos na Crimeia. A data coincide com o início da ofensiva militar na Ucrânia.
Parte deste "exército" de golfinhos pertencia à União Soviética. Com a dissolução do bloco, eles ficaram com a Ucrânia, mas voltaram às forças armadas russas quando houve a anexação da Crimeia, em 2014.
Sonar poderoso
Há estudos científicos que comprovam que os golfinhos têm um reflexo natural para empurrar animais ou pessoas que estejam se afogando, porque possuem forte instinto de sobrevivência e de cooperação.
Só que há outra característica do golfinho que é importante, principalmente para uma guerra: a localização de objetos por ondas de ultrassom.
Eles possuem um sonar subaquático poderoso, que envia ondas sonoras em forma de cliques e ajuda os animais a se localizar.
Funciona assim: as ondas sonoras batem no objeto e ecoam de volta aos ouvidos do golfinho, que sabe dizer quão rápido o som retornou e, consequentemente, quão perto está a presa, o obstáculo ou a costa.
Diante da ameaça, os golfinhos podem desempenhar um papel fundamental ao alerta e impedir que "as forças de operações especiais ucranianas se infiltrem no porto para sabotar navios de guerra", ressalta H.I Sutton, que é especialista em submarinos.
Em sua base na Crimeia, os golfinhos soviéticos foram treinados para plantar explosivos em navios inimigos e detectar torpedos, minas e munições e destroços abandonados no fundo do mar Negro, disse o oficial russo aposentado Viktor Baranets à agência de notícias.
Eles são capazes de achar esses objetos em profundidades de até 120 metros.
"O golfinho tem uma capacidade de detecção extraordinária. É um animal muito eficaz, especialmente para detectar nadadores de combate em águas pouco profundas", explica uma fonte militar ocidental. "Devemos ter em mente que o nadador de combate navega com oxigênio puro, não emite bolhas, não emite ruído, por isso é necessário um sonar ativo para detectá-lo, daí o interesse do golfinho."
Exércitos animais
O programa de mamíferos da Marinha americana, em San Diego, testou uma dúzia de espécies marinhas e escolheu duas: leões-marinhos da Califórnia e golfinhos, estes últimos foram usados na Guerra do Vietnã para detectar nadadores de combate e na Guerra do Golfo para operações de desminagem.
Em 2015, o Hamas disse ter capturado um golfinho que estaria sendo usado como espião de Israel na costa da faixa de Gaza. O mamífero, segundo o relato, estava equipado com aparelhos com câmeras. Não foi a primeira vez que Israel foi acusado de usar animais, como pássaros, para atividades de espionagem.
Em 2018, vários golfinhos da frota russa foram enviados para a base naval de Tartus, na Síria, segundo o Instituto Naval dos EUA, em recintos "muito semelhantes" aos vistos agora em Sebastopol.
Um ano depois, uma baleia beluga usando um arnês estampado com "Team St. Petersburg" foi encontrada pela Noruega e alimentou suspeitas de possível uso militar pelos russos.
Golfinhos mortos
No final de março, 24 golfinhos foram encontrados mortos na praia de Agacli, em Istambul, capital da Turquia, às margens do mar Negro. De acordo com a AFP, os especialistas relacionam essas mortes à Guerra na Ucrânia.
"A margem do outro lado (Ucrânia) é uma zona de guerra. Morreram pelas substâncias químicas na água? É preciso determinar a causa", explicou o voluntário Gurkan Gazoglu, da ONG que descobriu os animais, em entrevista ao canal turco NTV.
Uma fundação turca de pesquisa marítima informou que "observa-se um aumento extraordinário no número de golfinhos encontrados mortos nas margens ocidentais do mar Negro na Turquia". E que novos estudos precisam ser feitos para identificar o motivo das mortes.
Desde então não foi divulgado mais nenhum caso de golfinhos mortos na região do conflito bélico.
No entanto, na última quinta-feira (28), seis golfinhos, dois leões-marinhos e duas focas foram transportados do Kharkov Dolphinarium, uma espécie de zoológico de animais marinhos, para o Odessa Dolphinarium. O objetivo do transporte era evitar que ataques russos atingissem os animais.
A previsão é de que eles voltem a se apresentar em público no novo lar. (Com agências internacionais)
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