Rússia diz querer evitar confronto direto com Otan, mas que está preparada
O governo russo disse hoje que todas as partes querem evitar um confronto direto entre Rússia e Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Mas, segundo o porta-voz russo, Dmitry Peskov, a Rússia está preparada para dar a "resposta mais decisiva" se algum lado tentar entrar no conflito na Ucrânia.
"Todos, incluindo a Rússia, querem evitar um confronto direto entre a Rússia e a Otan", disse Peskov, citado pela agência russa Tass.
Segundo ele, o presidente russo, Vladimir Putin, já declarou que a "Rússia estará pronta para dar a resposta mais decisiva ao lado que tenta de alguma forma entrar na Ucrânia e entrar na operação militar especial, que agora está sendo realizada na Ucrânia pelas Forças Armadas da Federação Russa". "Operação militar" é o termo que os russos usam para classificar a guerra que promovem no território ucraniano, que hoje entrou em seu 78º dia.
Peskov também disse que, nos últimos dois meses, "não houve ações para retomar o diálogo" entre Rússia e Estados Unidos, país aliado da Ucrânia, enviando ajuda militar, e que é uma das principais lideranças da Otan. O porta-voz também voltou a dizer que invasão russa do território ucraniano foi uma consequência de os russos não terem sido ouvidos.
A possibilidade da entrada da Finlândia na Otan foi outro ponto comentado por Peskov. Para ele, isso representa uma ameaça. "A expansão da Otan não tornará nosso continente mais estável e seguro." Segundo o porta-voz, a reação russa ao movimento finlandês dependerá "até que ponto a infraestrutura militar [da Otan] se aproximará de nossas fronteiras". A hipótese de a Ucrânia juntar-se à Otan foi um dos argumentos russos para justificar a invasão do território ucraniano.
Além de Peskov, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia também criticou a Finlândia. Em comunicado, o ministério disse considerar o movimento como "uma mudança radical na política externa do país". "Helsinque deve estar ciente da responsabilidade e consequências de tal movimento."
Em tom mais duro que o do porta-voz, o ministério disse que "a Rússia será forçada a tomar medidas de retaliação, tanto de natureza militar-técnica quanto de outra natureza, a fim de impedir as ameaças à sua segurança nacional que surgem a esse respeito".
Finlândia na Otan
"A Finlândia deve solicitar a adesão à Otan sem demora. Esperamos que as medidas nacionais ainda necessárias para essa decisão sejam tomadas rapidamente dentro dos próximos dias", disseram o presidente do país, Sauli Niinisto, e a premiê Sanna Marin numa declaração conjunta hoje. "Ser membro da Otan fortaleceria a segurança da Finlândia. Como membro da Otan, a Finlândia fortaleceria toda a aliança de defesa", afirmaram.
O anúncio era amplamente aguardado e sinaliza uma grande mudança política desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. O apoio dos chefes de governo e de Estado faz com que seja muito provável que a Finlândia solicite formalmente a adesão à aliança militar, após décadas de neutralidade. Um debate e uma votação no Parlamento sobre o assunto são aguardados para a próxima segunda-feira (16).
A Finlândia, que compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, a aumentou gradativamente sua cooperação com a Otan desde que Moscou anexou a península da Crimeia, em 2014. Até a Rússia invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano, o país nórdico, no entanto, se recusava a ingressar na aliança militar para manter relações amistosas com o vizinho oriental. A expectativa é que a Suécia também quebre a neutralidade militar.
O apoio popular à adesão da Finlândia à aliança atingiu um recorde de 76%, segundo uma pesquisa recente, bem acima dos cerca de 25% registrados antes da guerra. Vários partidos políticos também sinalizaram ser a favor da medida.
"Crimes"
Hoje, a alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, sugeriu que grande parte dos crimes cometidos na Ucrânia parece ser de responsabilidade dos russos.
Bachelet repetiu o que já havia dito na semana passada, indicando que os números reais de mortos provavelmente são consideravelmente mais altos que o que se conhece até este momento. "Em áreas de hostilidades intensas —notadamente, Mariupol- - tem sido difícil para meu pessoal ter acesso e obter e corroborar informações", explicou.
Segundo ela, a maioria das mortes é causada por armas explosivas com efeitos de área ampla em áreas povoadas, por bombardeio de artilharia pesada, incluindo sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, e ataques aéreos e de mísseis.
"De acordo com nossas informações, embora tais incidentes possam ser atribuídos a ambas as partes do conflito, a maioria dessas baixas parece ser atribuída às forças armadas russas e grupos armados afiliados", disse.
Bachelet ainda destacou como sua missão visitou 14 cidades e aldeias nas regiões de Kiev e Chernihiv que, até o final de março, eram controladas pelas forças armadas russas. "Até hoje, mais de 1.000 corpos civis foram recuperados somente na região de Kiev. Algumas dessas pessoas foram mortas em hostilidades, outras parecem ter sido sumariamente executadas", disse.
(Com DW, RFI e Reuters)
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