Rússia diz que não usará arma nuclear; Bush compara Zelensky a Churchill
O governo russo disse hoje que não usará armas nucleares na Ucrânia. Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Alexei Zaitsev, o uso de armas nucleares pela Rússia não era aplicável ao que chama de sua operação militar especial na Ucrânia.
Ontem, o presidente do Parlamento russo havia dito que a Rússia poderia considerar o uso de armas nucleares. "Consideramos apenas a possibilidade de responder [com um dispositivo nuclear] a um ataque direcionado", disse Vyacheslav Volodin. No final de fevereiro, a Rússia anunciou que estava colocando suas forças de dissuasão nuclear em alerta diante às "declarações agressivas" dos principais países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) devido à campanha militar russa, segundo Moscou, na Ucrânia.
A guerra da Rússia na Ucrânia chegou hoje ao 72º dia com ataques ao território ucraniano. A Defesa da Ucrânia indicou que as forças russas continuam a disparar contra "áreas residenciais e subúrbios de Kharkiv", segunda maior cidade do país. Hoje, várias regiões na faixa central da Ucrânia, incluindo Kiev, estão com alertas para a possibilidade de ataques aéreos.
A Rússia disse, em seu relatório ter atacado diversas áreas no leste ucraniano, em ações em que "até 280 nacionalistas [combatentes ucranianos] e 41 unidades de equipamento militar das Forças Armadas da Ucrânia foram destruídos".
Zelensky e Churchill
Para George W. Bush, que comandou os Estados Unidos entre 2001 e 2009, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é "o Winston Churchill de nosso tempo", em referência ao primeiro-ministro britânico no período da Segunda Guerra Mundial.
"Agradeci ao presidente por sua liderança, seu exemplo e seu compromisso com a liberdade e saudei a coragem do povo ucraniano", disse ontem o ex-presidente americano —que esteve à frente das invasões americanas ao Iraque e ao Afeganistão no início da década de 2000— em referência a uma conversa que teve com o ucraniano.
"Zelensky me garantiu que eles não vacilarão em sua luta contra a barbárie e a violência do [presidente russo, Vladimir] Putin. Os americanos são inspirados por sua coragem e resiliência. Continuaremos a apoiar os ucranianos enquanto eles defendem a sua liberdade."
No domingo (8), Zelensky irá participar de um encontro virtual do G7, grupo que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália e Japão.
Ataques e evacuação
O complexo Azovstal, onde civis estão refugiados e combatentes ucranianos fazem resistência na cidade portuária de Mariupol, é alvo de ataques. Segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, "em algumas áreas, com o apoio da aviação, [as forças russas] retomaram as operações de assalto para assumir o controle da usina".
Combatentes dizem que um carro foi atingido hoje que iria retirar civis de Azovstal, segundo o governo ucraniano. Ao menos uma pessoa morreu e outras seis ficaram feridas, de acordo com o Regimento Azov, que possui combatentes no complexo. A informação não pôde ser verificada com fontes independentes.
Mais cedo, de acordo com o chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andriy Yermak, em mensagem publicada por volta das 3h (horário de Brasília), foi possível retirar cerca de 500 civis de Azovstal e da região de Mariupol até o momento. "A Ucrânia continuará a fazer tudo para salvar todos os civis e militares." Segundo ele, "a próxima etapa do resgate de nosso povo de Azovstal está em andamento". Hoje, o governo ucraniano também pediu ao MSF (Médicos Sem Fronteiras) "que forme uma missão de evacuação para salvar os defensores de Azovstal".
Ontem, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que atua na organização de corredores para a evacuação de civis, disse esperar que a coordenação contínua com Rússia e Ucrânia leve "a mais pausas humanitárias para permitir a passagem segura de civis".
9 de maio
Para a inteligência do Ministério de Defesa do Reino Unido, "o esforço renovado da Rússia para garantir Azovstal e completar a captura de Mariupol está provavelmente ligado às próximas comemorações do Dia da Vitória [em referência à Segunda Guerra], em 9 de maio, e ao desejo de Putin de ter um sucesso simbólico na Ucrânia".
Há a expectativa de que as forças russas tentem promover desfiles em cidades ocupadas na Ucrânia na próxima segunda-feira.
Aliados da Ucrânia, os britânicos disseram que "este esforço custou pessoal, equipamento e munições para a Rússia". "Enquanto a resistência ucraniana continua em Azovstal, as perdas russas continuarão aumentando e frustrando seus planos operacionais no sul de Donbass [área separatista, no leste ucraniano]."
O governo ucraniano emitiu, hoje, um alerta para a possibilidade de ataques em 8 e 9 de maio. "Como as tropas russas não podem se gabar de conquistas significativas antes do Dia da Vitória, o risco de bombardeios maciços de cidades ucranianas está aumentando."
Representantes do governo ucraniano afirmam que um toque de recolher está previsto para todo o país nos próximos dias em razão desse temor. Oficialmente, não houve anúncio da medida até o momento. O prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, porém, nega que haja possibilidade de restrição na região da capital.
Em Moscou, está previsto um discurso de Putin no desfile do Dia da Vitória, segundo o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov.
"O Dia da Vitória não é apenas um feriado. O Dia da Vitória para todos os russos, para quase todos os residentes do antigo território da União Soviética, é um dia sagrado", disse Peskov, citando o simbolismo da data em razão do "sentimento de dor que sofremos pelas vítimas e de orgulho por nosso país e por nossa vitória. Então, nada vai ofuscar isso."
Mais armas
O Ministério alemão da Defesa anunciou hoje que fornecerá sete canhões para a Ucrânia com o objetivo de ajudá-la a se defender dos invasores russos. A data de entrega não foi divulgada. Recentemente, a Holanda anunciou a entrega para Kiev do mesmo tipo de armamento.
Violações
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, relatou ontem violações ocorridas no conflito em território ucraniano.
"Homens foram detidos, espancados, executados sumariamente e, em alguns casos, levados para Belarus e a Rússia, sem o conhecimento de suas famílias, e mantidos em prisões preventivas", disse. "Famílias foram baleadas enquanto tentavam escapar em comboios. Em algumas áreas, era perigoso atravessar a rua, com franco-atiradores ou soldados atirando em quem tentasse."
De acordo com a alta comissária, em áreas controladas pela Rússia, há relatos de ao menos 180 casos de "detenções arbitrárias e possíveis desaparecimentos forçados" de autoridades locais, jornalistas, ativistas da sociedade civil, militares aposentados, entre outros. "Também documentamos oito possíveis desaparecimentos forçados de pessoas consideradas pró-russas em território controlado pelo governo."
Segundo Bachelet, há informações sobre "casos de mulheres que foram estupradas pelas forças armadas russas em áreas que estavam sob seu controle, bem como outras alegações de violência sexual por ambas as partes do conflito". "Evidências sombrias de tortura, maus-tratos e execuções sumárias de prisioneiros de guerra cometidos por ambas as partes do conflito estão surgindo."
A única maneira de acabar com esses horrores é que as forças armadas respeitem plenamente suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos e o direito internacional humanitário
Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos
Segundo a alta comissária, até ontem, a ONU contabilizou a morte de 6.371 civis em razão da guerra russa. Ela ainda disse que "a lista de graves violações do direito internacional dos direitos humanos e graves violações do direito internacional humanitário continua a crescer a cada dia".
"Não podemos deixar que o número de vítimas continue a aumentar", disse, pedindo cessar-fogo, o que ela diz que, em um dia, poderia poupar a vida de "pelo menos 50 crianças civis, mulheres e homens, incluindo muitos idosos", disse. "Mais importante ainda, um cessar-fogo mostrará que o horror na Ucrânia pode ser interrompido." Bachelet promete apresentar em junho um relatório sobre a situação na Ucrânia entre 24 de fevereiro, data do início da invasão russa, e 15 de maio.
OMS fora?
A seção europeia da OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciou que na próxima semana estudará uma resolução na qual considera fechar seu escritório em Moscou devido à invasão à Ucrânia. Uma sessão especial será realizada em 10 de abril.
(Com Reuters e AFP)
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