'Bazuca' antitanque vira símbolo da resistência ucraniana e ganha até santa
O governo dos Estados Unidos anunciou nesta terça-feira (31) um novo pacote de ajuda à Ucrânia no valor de US$ 700 milhões, que inclui sistemas de mísseis de médio alcance de alta tecnologia, helicópteros, veículos táticos, peças de reposição, entre outros. Faz parte ainda um sistema de arma antitanque chamado Javelin.
A arma norte-americana é a preferida dos ucranianos e se transformou no símbolo da resistência contra a invasão russa depois que imagens de soldados portando os lança-mísseis no ombro rodaram o mundo —e também símbolo do apoio americano.
A tal ponto que um meme transformou o Javelin em um ícone religioso nas mãos de Maria Madalena, uma santa emblemática da tradição ortodoxa. Convertida em "Santa Javelin", protetora da Ucrânia, a figura religiosa dispara um desses mísseis nas cores amarela e azul da bandeira ucraniana.
Disparo duplo e potente
Mas o sistema não é brincadeira. Ele é capaz de perfurar as blindagens mais sofisticadas, o que é particularmente útil em um contexto de guerrilha.
Equipado com duas cargas explosivas, ele perfura os tanques mais sofisticados do mundo, especialmente os tanques russos T-90, cuja armadura explosiva reage ao impacto de um projétil para reduzir seus efeitos e impedir uma perfuração.
A primeira carga do Javelin explode em contato com o tanque e libera a segunda carga, ainda mais forte, que perfura a blindagem.
Seu alcance é de 2.500 metros e pode ser utilizado em modo de ataque direto para destruir uma parede ou, quando apontado para cima, para derrubar um elemento que voe em baixa altitude, como um helicóptero.
Também pode ser utilizado em modo de ataque indireto, quando o míssil se eleva até 160 metros e cai sobre o alvo na vertical, como as lanças de arremesso dos legionários romanos. É esta trajetória que a converte em uma arma formidável contra os tanques, porque a comporta se abre no teto, onde o veículo é mais vulnerável.
Parece videogame
Além disso, o Javelin é mais leve que outros sistemas antitanque, que necessitam de um tripé, por isso pode ser utilizado apoiado no ombro.
O projétil é ejetado a poucos metros do atirador antes que o sistema de propulsão seja ativado, o que permite que o soldado passe mais despercebido e que o armamento possa ser utilizado inclusive do interior de um edifício.
É o chamado "atira e esquece", o que permite determinar o alvo antes de disparar, e depois o projétil é totalmente autoguiado. O atirador pode se proteger inclusive antes de o míssil atingir o alvo.
Segundo um soldado americano consultado pela AFP, é muito fácil de usar. "Se você já jogou videogame, é capaz de utilizá-lo", explica.
Ao contrário de outras armas de mísseis, que são descartáveis após o uso, o Javelin tem uma unidade de controle de tiro, equipada com GPS, câmera infravermelha e zoom motorizado que pode ser reutilizada várias vezes. Nessa unidade é anexado o tubo que aloja o míssil.
A unidade de comando é valiosa porque "ainda podemos usá-la quando não temos mais munições, para monitorar e observar" o inimigo, assinala o soldado americano.
Produzido pelos fabricantes americanos Raytheon e Lockheed Martin, o lança-míssil Javelin custa US$ 178.000 cada, e inclui o sistema de lançamento e o míssil, segundo o orçamento do Pentágono para 2021.
Cada míssil de substituição custa cerca de US$ 78.000.
Provocação
Em janeiro, um avião de carga americano já havia pousado em Kiev, entregando várias dezenas de mísseis Javelin para o Exército ucraniano, o que foi visto como uma provocação à Rússia e gerou reação de outros países aliados. Segundo um alto funcionário dos EUA, mais de 2.600 mísseis Javelin estão na Ucrânia.
Agora, a decisão americana de reforçar o envio de armas recebeu resposta imediata de Moscou, que disse que a nova ajuda militar "aumenta o risco" de confronto militar entre Rússia e Estados Unidos.
"Nós acreditamos que os EUA jogam lenha na fogueira de maneira deliberada (...) As entregas [de armas] não encorajam as autoridades ucranianas a retomar as negociações de paz", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, enquanto a Rússia amplia o controle sobre a região separatista de Lugansk.
Em artigo publicado na noite desta terça-feira no jornal The New York Times, o presidente dos EUA, Joe Biden, confirmou que decidiu "fornecer aos ucranianos sistemas de mísseis e munições mais avançados que permitirão que eles ataquem com mais precisão alvos-chave no campo de batalha na Ucrânia".
"Não estamos encorajando ou permitindo que a Ucrânia ataque além de suas fronteiras. Não queremos prolongar a guerra apenas para infligir dor à Rússia", escreveu.
Na segunda-feira, ele já havia afirmado que os EUA não enviariam à Ucrânia "sistemas de mísseis que poderiam atingir a Rússia".
Contudo, se posicionados próximos o suficiente da fronteira, tais lançadores são capazes de alcançar o território do país vizinho. Fontes do governo em Washington afirmaram que os ucranianos garantiram aos americanos que não vão atirar mísseis em território russo.
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