"Navio russo, vá se f...": a ilha ucraniana que virou marco de resistência
Desde que a Rússia atacou a Ucrânia, no final de fevereiro deste ano, a Ilha da Cobra, no Mar Negro, tem tido um papel estratégico nesse embate, sendo disputada desde o primeiro dia da guerra. Na última semana, russos consolidaram o domínio sobre a região.
Além de representar um dos principais pontos de resistência ucraniana, dominar a Ilha da Cobra significa controlar todo o tráfego do porto de Odessa, um ponto considerado importante para os envolvidos.
A ilha fica a cerca de 48 quilômetros da costa da Ucrânia e perto das rotas marítimas que levam ao Bósforo e ao Mediterrâneo. Embora seja conhecida como Ilha da Cobra, não tem serpentes no local. Os combates ao redor da ilha podem vir a se tornar uma batalha pelo controle da costa ocidental do Mar Negro.
O principal ponto que 'enche os olhos' pela Ilha da Cobra, e que a torna estratégica, é que, uma vez ocupada pela Rússia, por exemplo, a deixaria apta para bloquear toda exportação de mercadoria partindo do porto local. Além disso, possibilita o controle de todo o tráfego marítimo em torno da maior cidade portuária da Ucrânia.
"Navio russo, vai se f...."
A Ilha da Cobra se tornou um dos principais pontos da resistência ucraniana após um grupo de guardas de fronteira ter rejeitado o ultimato de rendição por parte de soldados no navio russo Moskva. Foi lá que surgiu a frase que repercutiu mundialmente: "Navio de guerra russo, vai se f...".
As palavras foram ditas em resposta a uma negociação em que soldados russos pediam para os ucranianos abaixarem as armas ou seriam bombardeados. As gravações da conversa viralizaram no mundo todo.
A frase repercutiu tanto que virou uma frase vista em cartazes antiguerra e familiares do soldado morto tentaram até mesmo registrar a marca sobre a sentença. O serviço ucraniano de postagens chegou a criar um selo comemorativo com a famosa frase impressa.
Em meio à guerra, o simples ato virou um ícone de resistência contra o avanço dos russos e sinônimo de heroísmo local.
Local estratégico
A Ilha da Cobra é estrategicamente importante também pelas suas riquezas minerais do mar. A ilha tem território de 0,17 quilômetros quadrados e uma população de menos de 100 habitantes, sendo em sua maioria guardas de fronteiras, funcionários de serviços meteorológicos e de uma estação de estudos marinhos.
O chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, chegou a afirmar durante uma entrevista televisiva que a Ucrânia lutará pela ilha pelo tempo que for necessário e que "quem controla a ilha pode bloquear a qualquer momento o movimento de navios civis em todas as direções para o sul da Ucrânia".
A ilha contém 46 acres de rocha e grama sem água doce. Fica a mais de 180 milhas da Crimeia, que foi anexada a Rússia em 2014. Mas mesmo que não tenha sentido geográfico ou histórico para que a Rússia reivindique o local como sendo seu, o valor estratégico diante do conflito pode falar mais alto.
Semanas atrás, fotos do satélite GeoEye-1, da Maxar, mostraram imagens de ataques na Ilha da Cobra, uma delas sugere uma nave russa da classe Serna afundando. O satélite mostrou ainda rastros de fumaça que possivelmente foram de munições e mísseis disparados em direção ao navio. Semanas antes, a Ucrânia admitiu que seus drones conseguiram afundar dois barcos de patrulha da Rússia, próximo à ilha.
Embora seja considerada muito exposta, é um ponto importante que facilita a base de ataque das tropas. Recentemente, foi alvo de ataques a construções, helicópteros e navios. O ataque dos russos se deu desde o primeiro dia de conflito, com o intuito de se apoderar do local. A ilha oferece uma plataforma de tiro, o que aumenta o seu potencial de guerra. Desde 2009, uma decisão judicial determinou que a ilha pertence à Ucrânia, após um embate com a Romênia.
A Ilha da Cobra também oferece outros pontos estratégicos e fundamentais, como o bloqueio do acesso aeronaval a qualquer faixa costeira ucraniana. Por outro lado, a sua pequena extensão territorial acaba tornando a ilha vulnerável.
Domínio russo
Embora tenha sido palco de resistência dos ucranianos, a ilha vive atualmente sob o domínio russo, que foi ampliado na última semana.
As últimas imagens de satélite desta ilhota localizada na costa ucraniana e na romena permitem distinguir diferentes tipos de defesa terra-ar. Os russos também instalaram sistemas de defesa em navios próximos para reforçar a proteção.
"Os russos implantaram vários sistemas antiaéreos na ilha que cobrem vários espectros de ameaças: SA-13, Pantsir, Tor, canhões antiaéreos ZU-23-2", destaca o pesquisador francês Pierre Grasser, especialista em Defesa Russa.
"Recentemente, consolidaram sua posição (...) Estrategicamente, tudo isso obedece a uma lógica, mesmo antes dos novos recursos ucranianos", analisa uma fonte militar francesa, que pediu para não ser identificada.
Com informação da AFP
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