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Domesticação e mutações: Cães vêm de lobos da Idade do Gelo, aponta estudo

Estudo de pesquisadores britânicos indica que cães descendem de pelo menos duas raças de lobos - David Moir/Reuters
Estudo de pesquisadores britânicos indica que cães descendem de pelo menos duas raças de lobos Imagem: David Moir/Reuters

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/07/2022 04h00

Um grupo de cientistas britânicos anunciou recentemente que está perto de descobrir como os cães domésticos descendem diretamente dos lobos.

De acordo com o tabloide inglês Daily Mail, os pesquisadores do The Francis Crick Institute, em Londres, compararam os genomas de 72 lobos antigos com os de cães modernos. Com esse experimento, eles constataram que os lobos da Ásia e do Oriente Médio contribuíram para o DNA de cães de regiões do norte da África e sul da Europa.

A pesquisa indicou que os genomas antigos também produziram uma linha do tempo, mostrando como o DNA do lobo mudou ao longo de 30 mil gerações, através da seleção natural. Há uma expectativa de que esse processo tenha sido replicado em outras espécies para fornecer novas informações sobre a evolução desses animais.

Anders Bergström, co-autor do estudo e pesquisador no laboratório de Genômica Antiga no The Francis explica: "Através deste projeto, aumentamos muito o número de genomas de lobos antigos sequenciados, permitindo-nos criar uma imagem detalhada da ascendência do lobo ao longo tempo, inclusive na época das origens dos cães".

E acrescentou: "Descobrimos que os cães descendem de pelo menos duas raças distintas de lobos. A primeira é de origem oriental que contribuiu para a formação de todas as raças de cães e a segunda, de origem ocidental, que foi importante para o surgimento de algumas raças de cães".

Estima-se que os cães se originaram do lobo cinzento, Canis lupus, que estava presente em todo o hemisfério norte durante a última Idade do Gelo, quando muitos outros grandes mamíferos foram extintos. Os pesquisadores acreditam que sua domesticação tenha ocorrido há pelo menos 15 mil anos, mas estudos anteriores que compararam o DNA de cães com lobos modernos não conseguiram identificar exatamente quando esse processo começou na história ancestral dos cães.

As novas descobertas, publicadas na quarta-feira (29), na revista Nature, utilizaram genomas de lobos antigos para aprofundar a compreensão sobre a origem dos cães. Os geneticistas e arqueólogos analisaram 72 genomas, abrangendo os últimos 100 mil anos da Europa, Sibéria e América do Norte.

Os materiais vieram de vestígios de lobos escavados anos atrás, incluindo uma cabeça preservada de um lobo siberiano que viveu há 32 mil anos. Os especialistas afirmaram que os cães primitivos e modernos são mais geneticamente semelhantes aos lobos antigos na Ásia do que os da Europa, sugerindo que a domesticação ocorreu em algum lugar no leste. Mas, eles também encontraram evidências de que duas raças separadas de lobos contribuíram com o DNA dos cães.

Uma possível explicação para essa ancestralidade dupla é que os lobos foram domesticados mais de uma vez, com as diferentes raças se misturando. Outra possibilidade é que a domesticação tenha acontecido apenas uma vez, e que a dupla ascendência se deva a esses primeiros cães se misturando com lobos selvagens.

Evolução

Ao analisarem as mudanças no DNA dos lobos ao longo de cerca de 30 mil gerações, os cientistas identificaram um processo de seleção natural na evolução da espécie, por meio de uma variante genética que, antes considerada rara, passou a estar presente em todos os lobos por 10 mil anos. A variante afeta o gene IFT88 que está envolvido no desenvolvimento dos ossos do crânio e da mandíbula, e permanece em todos os lobos e cães da atualidade.

O estudo indica que essas mudanças podem estar relacionadas às condições vividas pelos lobos na Idade do Gelo, como um determinado formato de cabeça e outras vantagens físicas para lidar com as presas disponíveis na época.

O autor sênior da pesquisa Pontus Skoglund concluiu que esse método pode ajudar a fornecer novas informações sobre como a evolução acontece em outras espécies e a sua relação com a seleção natural.

"Encontramos vários casos em que as mutações se espalharam por todos os lobos, o que foi possível porque a espécie estava altamente conectada a grandes distâncias. Essa conectividade é talvez uma razão pela qual os lobos conseguiram sobreviver à Idade do Gelo, enquanto muitos outros grandes carnívoros desapareceram."