Presidente da Ucrânia diz que história não perdoará Rússia e critica Otan
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em entrevista do Fantástico, da Rede Globo, e disse que a história não perdoará a invasão da Rússia no país, em 24 de fevereiro deste ano. Hoje, o conflito completou 5 meses.
Eu lamento que a Otan não tenha nos ouvido. A Otan deveria ter nos defendido, deveria ter nos tratado do mesmo jeito que trata a Suécia e a Finlândia. Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Segundo o presidente ucraniano, o país tenta dialogar com a Rússia há três anos na tentativa de entrar para a União Europeia e fazer parte da Otan, mas todas as tentativas foram fracassadas.
"Eu tento há três anos, através da diplomacia, encontrar uma maneira de negociar e chegar a um entendimento com a Federação Russa. Com a ajuda de dezenas de líderes da Europa e do mundo, eu propus diversos encontros com o presidente Putin para encontrar soluções para essa questão", começou.
E continuou: "Um dia depois de convencerem todos os líderes europeus que eles nunca iriam invadir a Ucrânia, simplesmente fizeram isso. Então, não há o que se arrepender. Eu acho que a Rússia vai se arrepender depois historicamente sobre tudo que eles fizeram conosco. E ninguém vai perdoar. A história não vai perdoar e nós não vamos perdoar".
O presidente ucraniano ressaltou que não teria nenhuma forma de se "preparar" contra um ataque da Rússia em razão do poderio militar e bélico do país vizinho.
"Não tem como se preparar para este tipo de coisa. Entendem? Não tem como ficar pronto para as ameaças de um país que tem armas nucleares. Todo mundo fala: 'sim, ela só ameaça, mas fica tranquilo, não vai acontecer isso'. Será que vocês imaginariam que algum Estado nuclear poderia começar a atirar em civis na Ucrânia? Como se preparar para isso?", comentou o presidente.
Zelensky ainda comentou que conversaria com Putin ou qualquer outra pessoa da Rússia que tivesse realmente a vontade de parar com a guerra.
"Para mim tanto faz quem estiver do outro lado, tanto faz quem é o líder lá, o importante é que exista a vontade de parar com a guerra, e de matar as pessoas por parte deles. Para isso, nem precisa sentar na mesa comigo. Isso é simples: é simplesmente parar a guerra. Isso só depende da vontade deles. Se a Rússia seguir princípios civilizados, respeitando a gente, buscando um acordo sem dar ultimatos, então podemos conversar."
Na mesma entrevista, que teve um trecho transmitido pelo Jornal Nacional nesta semana, Zelensky criticou a neutralidade do Brasil, por decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL), diante da guerra na Ucrânia.
Extrema-direita
Questionado se teria algum arrependimento na guerra, como o desejo de fazer parte da Otan ou mesmo por apoiar grupos de extrema-direita na região de Donbass, no leste da Ucrânia, Zelensky respondeu que "nunca" apoiou nenhum grupo radical e afirmou que não há esse grupo na área.
"Eu não tenho certeza do que quer dizer com grupos de extrema-direita no leste do país. Eu não entendi sobre o que você está falando. Nós não temos grupos de extrema-direita no leste. Não sei quem são esses grupos. Nós temos as forças armadas da Ucrânia. Esse é o nome. Forças Armadas da Ucrânia no leste."
O presidente afirmou que o grupo de extrema-direita é radical "em relação aos militares russos que vivem para matá-los".
"Essa informação que você está dizendo é a informação que a Federação Russa está espalhando sobre alguns grupos de nacionalistas. Simplesmente, eles são radicais em relação aos militares russos que vivem para matá-los. Nesses casos, quaisquer pessoas deveriam ter uma reação radical. Mas eu não os reconheço como grupos de extrema-direita. Eu nunca apoiei nenhum grupo radical", concluiu.
Na sequência, a reportagem entrevistou Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais, que desmentiu Zelensky e afirmou que não dá para negar a existência de grupos de extrema-direita na Ucrânia.
O docente explicou que esses grupos, apesar de não terem grande representatividade com votos, são "armados, bem treinados, motivados, e representam uma ameaça para o governo, então o governo quer garantir que esses grupos estejam do seu lado, e são profundamente anti-Rússia".
Como exemplo, Baghdadi citou o caso do Batalhão de Azov, incorporado às Forças Armadas da Ucrânia. "Talvez a Ucrânia seja o único país do mundo a ter grupos neonazistas incorporados às Forças Armadas."
A Rússia já pediu para o Batalhão ser considerado como "organização terrorista". Inclusive, o país liderado por Vladimir Putin usa como um dos argumentos para a invasão da Ucrânia a suposta ameaça nazista no território.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.