Professor de escola onde o papa deu aula é suspeito de 42 abusos sexuais
Dois ex-alunos argentinos acusam um professor de abusos sexuais no colégio onde Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, deu aula. Gonzalo Elizondo e Pablo Vio têm 32 anos e eram estudantes do Colégio del Salvador aos 11. O local é uma instituição de ensino centenária, administrada pela ordem religiosa católica dos jesuítas em Buenos Aires, na Argentina. Os amigos argentinos acusam o irmão César Fretes de abusar sexualmente de 42 alunos da escola.
Segundo o jornal El País, Elizondo e Vio levaram 20 anos para perceberem que tinham a mesma história. Fretes morreu em 2015 e não chegou a ser julgado pela Justiça, mas funcionários da escola reconhecem a existência dos abusos.
Os ex-alunos acusam o colégio de encobrir os casos. "Muitos adultos não faziam o que deveriam fazer. Eles nos negligenciaram e nos abandonaram. Eles sabiam que havia um predador e tudo o que fizeram foi transferi-lo para outro lugar e encobrir", disse Vio.
Os amigos argentinos alegam que Fretes cometeu os abusos em 2002, quando era docente da 6ª série, mas, pelo trauma, não contaram a ninguém e tentaram esquecer o que aconteceu. No ano seguinte, César Fretes foi transferido para um local a mais de mil quilômetros de distância, fazendo com que os boatos relacionados aos abusos ganhassem força.
Elizondo contou que repensou no que aconteceu durante um retiro espiritual, quando acordou no meio da noite e sentiu a mão do acusado em suas calças. "Ele disse que eu era sonâmbulo e que me levou de volta ao quarto, mas nunca fui sonâmbulo. Quando ouvi os rumores, percebi que ele estava realmente me molestando".
Já em relação a Vio, ele demorou um pouco mais para entender o que havia acontecido. Por não ter educação sexual na escola, que agora é um curso obrigatório por lá, os alunos não tinham noção de como agir ou responder quando Fretes falava de temas sexuais na aula.
Segundo a vítima, ele "estava nos preparando aos poucos". "Um dia, em seu escritório, ele me pediu para abaixar as calças, tocou meu pênis, passou as mãos pelo meu corpo e me pediu para me comparar no vestiário com meus colegas e depois contar a ele sobre isso. Até pensei na época que tinha sorte de ter alguém para me ensinar sobre essas coisas. Ninguém nunca me disse que isso estava errado".
Elizondo relembrou que abordou os funcionários do colégio em 2019 para falar sobre o abuso e, três anos depois, outras dezenas de vítimas se juntaram à causa, mas todos seguem sem resposta e cooperação do Colégio del Salvador.
A instituição se defendeu, dizendo que já "pediu desculpas à comunidade escolar e tomou medidas para evitar mais abusos".
"Vergonha"
Em 2003, uma carta pedindo desculpas em nome do professor teve em uma de suas assinaturas a de Jorge Black, atual reitor, e Rafael Velasco, reitor na época. "Primeiro, pedimos novamente o perdão daqueles que sofreram o que não deveriam ter sofrido nesta escola. Temos vergonha. Lamentamos profundamente. É por isso que estamos pedindo publicamente seu perdão".
Já a carta de transferência também dizia ser necessário "proteger" os alunos. "Os dirigentes da escola e da Companhia de Jesus fizeram o que acharam melhor na época, que foi retirar o acusado de seu cargo e proteger os alunos de mais danos".
A primeira denúncia, segundo Vio, ocorreu em 1998, um ano depois de Fretes virar professor. "Uma família procurou o reitor, Luis de Maussion, dizendo que seu filho havia sido abusado por Fretes. De Maussion rejeitou a história e decidiu manter Fretes em sua posição".
A segunda denúncia foi feita em 2001, quando um aluno contou ao reitor Velasco sobre a tentativa de Fretes de molestá-lo. "O reitor não apenas rejeitou seu testemunho, mas chamou publicamente o menino de mentiroso na frente de seus colegas de classe", disse Vio.
Papa em silêncio
Tendo sido professor no local na década de 1960, o papa não se pronunciou publicamente e nem para os alunos. Elizondo disse ter escrito uma carta ao Vaticano em 2020 pedindo ajuda do religioso, mas nunca teve resposta. "Ele os está protegendo. Reconhecer o abuso significaria acabar com essa proteção", disse Vio.
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