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Guerra da Rússia-Ucrânia

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'Não estou blefando': o que Putin disse em pronunciamento na TV da Rússia

Do UOL*, em São Paulo

21/09/2022 08h17Atualizada em 21/09/2022 12h24

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou, hoje, a mobilização de milhares de reservistas para lutar na Ucrânia após uma série de derrotas recentes. Ele ainda disse ter acesso a "vários meios de destruição", sugerindo a possibilidade de adoção de armas nucleares.

Em pronunciamento em rede nacional, Putin voltou a dizer que os países ocidentais querem "enfraquecer, dividir e, finalmente, destruir" a Rússia, e que Moscou usaria "todos os meios" para se defender.

Esta é a primeira mobilização russa desse porte desde a Segunda Guerra Mundial e marca uma escalada na guerra contra a Ucrânia, que chega agora ao sétimo mês.

Não estou blefando. Os cidadãos da Rússia podem ter certeza da integridade territorial da nossa nação, nossa independência e liberdade serão garantidas. Vou enfatizar isso novamente, com todos os meios ao nosso dispor. E os que tentarem nos chantagear com armas nucleares devem saber que os ventos predominantes podem se virar na direção deles. Vladimir Putin, em discurso televisionado

"Quero lembrar a vocês que nosso país também tem vários meios de destruição, e alguns componentes mais modernos que os de países da Otan [Organização do Tratado Atlântico Norte]", afirmou. "Se a integridade territorial do nosso país for ameaçada, nós, certamente, usaremos todos os meios ao nosso dispor para proteger a Rússia e o nosso povo."

"O objetivo do Ocidente é enfraquecer, dividir e finalmente, destruir nosso país", declarou Putin. "Eles já estão dizendo diretamente que conseguiram separar a União Soviética, em 1991, e que chegou a hora de a Rússia se partir em múltiplas regiões e áreas que são fatalmente hostis entre si."

As forças russas sofreram diversos reveses nos últimos dias nas regiões de Kherson e Kharkiv, no sul e nordeste da Ucrânia, respectivamente, e foram obrigados a ceder uma grande parte do território sobre o qual tinham avançado.

Rússia diz que mobilização é 'inevitável'. Putin disse que a mobilização desse contingente extra é inevitável após a Ucrânia negar uma "solução pacífica para o problema do Donbass".

"Depois que o governo de Kiev negou publicamente uma solução pacífica para o problema do Donbass e anunciou possuir armas nucleares, tornou-se claro que uma nova ofensiva em larga escala em Donbass, como já aconteceu outras duas vezes, era inevitável", declarou.

A região separatista no leste da Ucrânia é disputada entre os países desde o início da invasão, em fevereiro deste ano. O presidente russo afirmou ainda que é seu "dever moral" proteger a população dos "neonazistas" no poder em Kiev.

Recrutamento de 300 mil soldados. Putin deixou claro que a convocação atual ainda não é um recrutamento amplo, de homens russos em idade para lutar.

Repito, estamos falando de mobilização parcial, ou seja, somente os cidadãos que estão atualmente na reserva estarão sujeitos ao alistamento e, acima de tudo, aqueles que serviram nas forças armadas têm uma certa especialidade militar e experiência relevante Vladimir Putin

O ministro da defesa, Sergei Shoigu, informou que 300 mil reservistas são afetados pela ordem de mobilização. Isso, segundo ele, equivaleria a apenas 1,1% dos "recursos mobilizáveis".

"A Rússia luta tanto contra a Ucrânia quanto contra o Ocidente", afirmou Shoigu.

A ordem para o recrutamento dos reservistas entra em vigor a partir de hoje. O decreto foi publicado no site do Kremlin.

'Putin começou o processo que vai enterrá-lo'

O prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko, reagiu à fala do presidente russo. "O tirano finalmente começou o processo que vai enterrá-lo no país dele", publicou em seu canal no Telegram.

A mobilização anunciada por Putin e as ameaças nucleares não ajudarão o agressor em sua missão de conquistar e destruir a Ucrânia e os ucranianos Vitali Klitschko, prefeito de Kiev

"O mundo civilizado deve finalmente entender que o mal deve ser destruído completamente, e não ficar falando de 'negociações de paz' ilusórias", completou.

Para o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podoliak, o movimento era previsível. "Um apelo absolutamente previsível, que parece mais uma tentativa de justificar seu próprio fracasso", disse Podolyak à agência de notícias Reuters. "A guerra claramente não está indo de acordo com o cenário da Rússia."

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, na Assembleia-Geral da ONU em Nova York, disse que Putin só desistirá de suas "ambições imperiais" se reconhecer que não pode vencer a guerra.

"É por isso que não aceitaremos nenhuma paz ditada pela Rússia, e é por isso que a Ucrânia deve ser capaz de se defender do ataque da Rússia."

A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, afirmou que a medida representa um "sinal de fraqueza" de Moscou, que precisa lidar com uma escassez de militares em sua ofensiva na Ucrânia, em seu sétimo mês.

O Reino Unido seguiu a mesma linha. O secretário britânico de Defesa, Ben Wallace, afirmou que a decisão de Putin mostra que sua ofensiva "está falhando" e destacou que "a comunidade internacional está unida, enquanto a Rússia está virando um pária global".

Rússia perdeu parte dos territórios conquistados

Em uma ação aparentemente coordenada, líderes regionais pró-russos anunciaram, na terça-feira (20), referendos entre os dias 23 e 27 de setembro nas províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, que representam cerca de 15% do território ucraniano.

A Rússia já considera Luhansk e Donetsk, que juntos formam a região de Donbas ocupada parcialmente por Moscou em 2014, como Estados independentes. A Ucrânia e o Ocidente consideram todas as partes da Ucrânia mantidas pelas forças russas como ilegalmente ocupadas.

A Rússia detém agora cerca de 60% de Donetsk e havia capturado quase toda Luhansk até julho, após avanços lentos durante meses de intensos combates.

Esses ganhos estão agora sob ameaça depois que as forças russas foram expulsas da vizinha província de Kharkiv este mês, perdendo o controle de suas principais linhas de abastecimento para grande parte da linha de frente de Donetsk e Luhansk.

*Com informações de AFP, Reuters e RFI