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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Rússia anuncia mobilização de 300 mil homens e faz ameaça nuclear

Colunista do UOL

21/09/2022 05h24

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No que já está sendo considerado nos meios diplomáticos como o início de uma das fases mais perigosas da guerra na Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin elevou a tensão ao anunciar na quarta-feira uma mobilização militar parcial na Rússia, a primeira que vive o país desde a Segunda Guerra Mundial. O Kremlin, mesmo diante da abertura da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), também voltou a flertar com a opção nuclear, alertando que vai usar de "todos os meios disponíveis" diante do que Putin chama da tentativa do Ocidente de "destruir nosso país".

Em declaração em rede nacional, o presidente russo voltou a culpar as nações ocidentais por iniciarem uma guerra por procuração com a Rússia. Instantes depois da alocução de Putin, o alto comando russo indicou que a mobilização do país poderá envolver 300 mil soldados, além de um aumento no financiamento para impulsionar a produção de armas da Rússia.

Uma parcela dos líderes militares do Ocidente indicou que tal gesto por parte do Kremlin evidencia que a invasão da Ucrânia está "fracassando" e que as medidas —inclusive um referendo neste fim de semana em áreas ocupadas para anexar ao território russo— seriam provas das dificuldades que Moscou enfrenta.

Com mais de sete meses de guerra, o governo Putin jamais divulgou quantos de seus soldados morreram em batalha.

Agora, os novos reservistas militares seriam chamados para o serviço ativo, mas Putin deixou claro que ainda não se trata de um recrutamento mais amplo de homens russos em idade de guerra.

"Repito, estamos falando de mobilização parcial, ou seja, somente os cidadãos que estão atualmente na reserva estarão sujeitos ao alistamento e, acima de tudo, aqueles que serviram nas forças armadas têm uma certa especialidade militar e experiência relevante", disse.

A fala de Putin levou as diplomacias ocidentais a tentar entender o que significaria na prática uma mobilização parcial. Mas governos como o do Reino Unido alertaram que as ameaças do Kremlin devem ser levadas a sério.

"Claramente é algo que devemos levar muito a sério porque, você sabe, não estamos no controle - também não tenho certeza se ele está no controle, na verdade". Isto é obviamente uma escalada", disse a ministra britânica das Relações Exteriores Gillian Keegan à Sky News.

O governo chinês, um aliado de Putin, também emitiu um comunicado, apelando para que a crise seja resolvida por meio do "diálogo". Mas Putin deixou claro em seu discurso que o Ocidente, ao financiar a resistência ucraniana, cruzou linhas importantes na relação com Moscou e que, portanto, a operação já colocaria em risco a segurança russa.

Ao anunciar a mobilização do país, Moscou pode estar caminhando para uma direção na qual empresas e os cidadãos russos terão que contribuir mais para o esforço de guerra. A Rússia ainda não declarou guerra à Ucrânia, apesar de ter iniciado a invasão em fevereiro. Até hoje, Moscou chama os atos de "operação militar especial" e a palavra "guerra" é até mesmo proibida na imprensa local.

A opção nuclear

No discurso, que foi pré-gravado, Putin ainda afirmou que a responsabilidade pela guerra é do Ocidente, que se envolveu em uma suposta "chantagem nuclear" contra a Rússia. O chefe do Kremlin insistiu que o país tinha "muitas armas para responder" e mandou um recado claro: "isso não é um blefe".

"Para aqueles que se permitem tais declarações em relação à Rússia, quero lembrar que nosso país também tem vários meios de destruição, e para componentes separados e mais modernos que os dos países da Otan e quando a integridade territorial de nosso país for ameaçada, para proteger a Rússia e nosso povo, certamente usaremos todos os meios à nossa disposição", disse Putin.

Ao longo da guerra, Putin flertou com a opção nuclear em vários momentos. Mas diplomatas ocidentais acreditam que tal caminho não passaria de uma estratégia de intimidação, já que recorrer a tais armas significaria uma terceira guerra mundial e a própria destruição do governo russo.

Mas Moscou também deixou claro que apenas recorreria a tais armas se seu território fosse ameaçado.

A questão, segundo negociadores, é que a nova ameaça ocorre num momento em que representantes do Kremlin instalados em áreas ocupadas da Ucrânia anunciaram planos para a realização de referendos imediatos sobre a adesão dessas regiões à Rússia.

As votações - previstas para este fim de semana em Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia - permitiriam ao Kremlin afirmar, ainda que falsamente, que estava "defendendo" seu próprio território e seus cidadãos.

Isso justificaria a mobilização de novos soldados e, ao mesmo tempo, ampliar as ameaças nucleares, já que agora estariam falando de territórios "nacionais".

Putin deixou claro que a Rússia vai apoiar os referendos, considerados pelo Ocidente como "altamente suspeitos". Na avaliação dos governos europeus, a possibilidade de uma fraude que permita um resultado positivo para Moscou é praticamente certa, repetindo o cenário da anexação da Crimeia em 2014 pelos russos.

Putin insiste, ainda assim, que a mobilização é "totalmente adequada às ameaças que enfrentamos, ou seja, proteger nossa pátria, sua soberania e integridade territorial, para garantir a segurança de nosso povo e do povo nos territórios libertados".

Para os ucranianos, o referendo é uma forma de assegurar regiões que, hoje, começam a ser recuperadas por Kiev, graças ao financiamento e armas do Ocidente.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, minimizou a organização da votação, insistindo que tais decisões não serão reconhecidas e que a comunidade internacional não aceitaria a anexação.

Mas Dmitry Medvedev, o chefe adjunto do Conselho de Segurança da Rússia, alertou que, uma vez dentro do próprio território da Rússia, tais locais onde a votação ocorreria passariam a ser de forma "irreversível" parte do país. Como consequência, Moscou poderia usar "qualquer meio" para defendê-las.

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