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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Russos se despedem após convocação de Putin: 'É apenas um treinamento, né?'

Reservistas em Sevastopol, na Crimeia, partem para centro de treinamento do exército russo após convocatória de Vladimir Putin - Divulgação via AFP
Reservistas em Sevastopol, na Crimeia, partem para centro de treinamento do exército russo após convocatória de Vladimir Putin Imagem: Divulgação via AFP

Do UOL*, em São Paulo

28/09/2022 14h12Atualizada em 28/09/2022 15h12

Familiares de reservistas russos convocados para apoiar a ofensiva na Ucrânia se despediam de seus filhos, pais, maridos e namorados do lado de fora de um centro de recrutamento de São Petersburgo.

As pessoas, reunidas em frente a uma delegacia da polícia militar na antiga capital imperial russa, conversavam em voz baixa, às vezes se aproximando da cerca que separa o local da rua, para tentar ver os reservistas que já estão do outro lado.

"É apenas um treinamento, né?", pergunta uma mulher sexagenária a sua vizinha.

"Acho que sim, mas ninguém sabe, pode ser que fiquem na retaguarda", espera Svetlana Antonova, de 55 anos, cujo filho de 27 anos se apresentou na terça-feira após ter recebido a convocação no sábado.

Nikita, reservista de 25 anos, e Alina, sua namorada de 22, mantêm suas mãos unidas através da cerca, com lágrimas nos olhos. "Não sei o que dizer a ele, estou em estado de choque", confessa Alina, sem tirar os olhos do namorado.

"Não me surpreendi com a convocação. Se tenho que ir, tenho que ir", garante Nikita, que cumpriu serviço militar há alguns anos.

Reservistas do exército da Rússia partem para treinamento militar  - ALEXEY PAVLISHAK/REUTERS - ALEXEY PAVLISHAK/REUTERS
Reservistas do exército da Rússia partem para treinamento militar
Imagem: ALEXEY PAVLISHAK/REUTERS

Mobilização parcial foi anunciada por Putin. Na semana passada, o presidente russo convocou cerca de 300 mil reservistas do Exército russo para continuar sua campanha de guerra no país vizinho, além de um aumento no financiamento para impulsionar a produção de armas da Rússia.

"Repito, estamos falando de mobilização parcial, ou seja, somente os cidadãos que estão atualmente na reserva estarão sujeitos ao alistamento e, acima de tudo, aqueles que serviram nas forças armadas têm uma certa especialidade militar e experiência relevante", disse.

Na mesma ocasião, o líder russo ameaçou fazer uso de armas nucleares no conflito caso identificasse perigos à Rússia.

Aumenta número de russos que fogem para o exterior. O anúncio gerou manifestações — reprimidas com prisões em massa — e fuga para os países vizinhos. Geórgia e Cazaquistão, dois países com fronteira com a Rússia, confirmaram um aumento expressivo da chegada de russos desde semana passada.

O número de russos que chegam diariamente à vizinha Geórgia praticamente dobrou a quase 10 mil pessoas por dia.

"O número subiu a quase 10 mil por dia. Foram 11.200 no domingo e um pouco menos de 10 mil na segunda-feira, contra 5 mil a 6 mil antes do anúncio de Putin em 21 de setembro", afirmou o ministro do Interior da Geórgia, Vakhtang Gomelauri.

No Cazaquistão, uma ex-república soviética na Ásia Central, as autoridades informaram que 98 mil cidadãos russos chegaram ao país desde 21 de setembro, mas não divulgaram dados de comparação com a semana anterior.

Quem fugir ou se negar a prestar serviço militar, porém, poderá encarar pena de prisão de cinco a 10 anos, mesma para aqueles que voluntariamente se renderem ao inimigo, segundo uma nova lei assinada por Putin após a convocação parcial.

Para Galina, de 65 anos, e sua família, a mobilização é "mais um duro golpe", já que sua filha está em tratamento contra o câncer, seu genro foi convocado e a filha de ambos tem apenas 12 anos.

"Ele trabalhava no setor da construção civil. No Exército, foi francoatirador", conta Galina, ao lado da neta Micha. "Como será a vida agora e por quanto tempo? Não sei", lamenta.

"Disseram que os enviariam à base militar próxima a Zelenogorsk", nos arredores de São Petersburgo, afirmou Galina.

"Se pensamos em fugir da mobilização? Não, em absoluto. Não temos para onde ir".

*Com informações da AFP