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Ex-assessor de Trump e 'oráculo' da família Bolsonaro: quem é Steve Bannon

Do UOL, em São Paulo

21/10/2022 14h20Atualizada em 21/10/2022 16h10

Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e figura influente no círculo próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi condenado hoje a quatro meses de prisão e multa por desacato ao Congresso. Ele se recusou a atender intimações de um comitê que investiga o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Aos 68 anos, Bannon é um ideólogo da nova direita radical populista e foi o principal estrategista de Trump. Ele já afirmou que Bolsonaro é um "grande herói", fez insinuações sobre os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e disse ter fascínio pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Aliado de Bolsonaro. Considerado um mentor para a família Bolsonaro, Steve Bannon diz ver o Brasil como parte fundamental de um movimento populista de direita global e comparou Jair Bolsonaro ao conservador e autoritário primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

"Bolsonaro é um grande herói para todos nós", afirmou Bannon em entrevista à BBC em setembro deste ano. "Ele está no nível de Viktor Orbán como alguém que defende a soberania e construiu um movimento popular de bases. Ele tem evangélicos, ele tem pessoas da classe trabalhadora. Se você olhar para o bolsonarismo do Brasil, é muito parecido com o movimento Maga."

O político húngaro também é idolatrado por conservadores no Brasil, como Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo. Desde que chegou ao poder em 2010, Orbán reformou a constituição húngara e encheu os principais tribunais de Justiça com seus nomeados. Ele também foi acusado de atacar a liberdade de imprensa e controlar a mídia com várias artimanhas.

Jair Bolsonaro já disse que se sente 'irmão' de Viktor Orbán - GETTY IMAGES - GETTY IMAGES
Jair Bolsonaro já disse que se sente 'irmão' de Viktor Orbán
Imagem: GETTY IMAGES

Versão brasileira de Trump e campanha de 2018. Bannon já chamou Bolsonaro de "Trump dos trópicos", mas não acredita que o brasileiro vá repetir o que aconteceu no Capitólio em caso de derrota nas urnas. O episódio aconteceu em 6 de janeiro de 2021, quando simpatizantes do presidente Trump invadiram o congresso americano.

Segundo Bannon, tanto o trumpismo quanto o bolsonarismo são movimentos democráticos. "O mundo exterior não deveria estar metendo o nariz nisso, seja o governo dos Estados Unidos, o pessoal de (fórum econômico de) Davos ou outros globalistas."

Ele relembrou a estratégia da campanha de Bolsonaro em 2018 e diz que a família ensinou grandes lições sobre o uso de redes sociais. "Quando conheci a família Bolsonaro em Nova York, em 2018, fiquei fascinado com a campanha deles".

Mas o que eu achei mais incrível, tanto com Bolsonaro, quanto com Salvini na Itália, em menor grau, é como eles chegaram praticamente à perfeição no uso do Facebook, no manejo das lives de Facebook, como atraíram multidões quase sem usar dinheiro. Obviamente, agora eles estão maiores e mais sofisticados. Mas, ainda hoje, Bolsonaro ainda teria ao menos uma coisa ou duas a ensinar ao presidente Trump sobre como conduzir uma campanha ou sair de uma cilada. Steve Bannon

O que Bannon ensinou ao bolsonarismo? De acordo com o colunista do UOL Diogo Schelp, o bolsonarismo apreendeu lições de Bannon, sendo uma espécie de "oráculo" para a família nas eleições. Em agosto de 2018, a dois meses do primeiro turno da eleição presidencial, Eduardo Bolsonaro esteve com o americano.

A primeira influência foi apostar numa campanha divisionista. Nos Estados Unidos, Bannon acreditava que Trump seria eleito exatamente por ser um candidato que não tentava agradar diversos grupos do eleitorado —bastava surfar na insatisfação de uma parcela que ele chamava de "maioria silenciosa".

Bolsonaro foi pelo mesmo caminho e abandonou o politicamente correto. A outra inspiração de Bannon para o bolsonarismo foi o uso e a disseminação de "verdades alternativas" ou, em outras palavras, de fake news e de teorias conspiratórias.

Bannon foi diretor-executivo do site Breitbart News, que dissemina informações duvidosas em meio a manchetes noticiosas para promover uma visão extremista do mundo. Muitos dos sites bolsonaristas de fake news foram criados à imagem e semelhança do Breitbart News.

O ex-assessor e conselheiro de Trump descreve seu site como dedicado à "direita alternativa" dos Estados Unidos, que se caracteriza por seu radicalismo e pela agenda racista e anti-imigração.

Críticas a Mourão. Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2019, Bannon afirmou que o vice Hamilton Mourão não é útil e é desagradável. Ao mesmo tempo, chamou Eduardo e Jair Bolsonaro de "extraordinários".

"Ele é desagradável, pisa fora da sua linha", criticou. "Até onde sei, o presidente Bolsonaro não lhe atribuiu responsabilidades e parece que foi uma decisão sábia."

Questionado sobre a investigação de rachadinha contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Bannon o defendeu.

"Vejo isso no Brasil como vi com Trump. Eles vêm atrás de você pelas menores coisas. O Capitão Bolsonaro e Eduardo são líderes dinâmicos no palco mundial. Por isso eles são alvos. A luta deles é contra o marxismo cultural que restou. O socialismo econômico faliu claramente."

Fascínio por Lula. Bannon diz que estudou Lula por "muitos e muitos anos" e que tem um fascínio por ele. Também afirmou que o ex-presidente é parte da rede política "que o Partido Comunista Chinês corrompeu em todo o mundo".

"Eu sou fascinado pelo Lula. Sou atraído por grandes personalidades. Eu estudei Lula por muitos, muitos anos, e, particularmente, no início dos anos 2000, antes do colapso financeiro global de 2008, ele teve um tremendo sucesso financeiro [no governo]. Talvez as pessoas no Brasil não entendam, mas o carisma dele, de Eduardo, do presidente Bolsonaro, é algo que você não vê na política americana", afirmou em entrevista à BBC.

Então, eu estudo Lula há muito tempo. Acho-o um personagem fascinante. Acho-o um personagem trágico porque acredito que ele realmente acreditava no que dizia. E acho que ele é uma figura trágica por isso. Steve Bannon.

Insinuações contra ministros do STF. No ano passado, no seu programa War Room, Steve Bannon afirmou que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) "são todos homens do Lula". A declaração aconteceu enquanto entrevistava Jason Miller, ex-porta-voz de Donald Trump que foi submetido a um interrogatório da Polícia Federal no Brasil em 7 de setembro.

"Ele são todos homens do Lula, certo? Esses são todos de esquerda, que soltaram da prisão um criminoso marxista transnacional para tentar derrotar o nacional-populista Bolsonaro", disse Bannon, em uma alusão à anulação pelo STF dos processos da Lava Jato contra o ex-presidente Lula, adversário de Bolsonaro no pleito de 2022.

Da atual composição da Corte, no entanto, apenas três dos 11 ministros foram indicados por Lula. O principal antagonista de Bolsonaro, Alexandre de Moraes, foi uma indicação de Michel Temer.