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Nossas democracias prevaleceram, diz Biden a Lula na Casa Branca

Pedro Vilas Boas

Colunista do UOL, em Washington (EUA), e colaboração para o UOL, em Salvador

10/02/2023 17h59Atualizada em 10/02/2023 19h50

O presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Casa Branca.

Os dois conversaram brevemente e posaram para fotos. Depois, os presidentes posaram sozinhos para a imprensa antes de entrarem na sede do governo americano para uma reunião. No Salão Oval, Biden comentou que as democracias do Brasil e dos EUA "foram duramente testadas e prevaleceram".

Nossas duas nações são democracias fortes e foram duramente testadas e prevaleceram. Em ambos os casos a democracia prevaleceu. Biden a Lula

Com a presença de jornalistas no Salão Oval, Biden ainda reafirmou o que teria dito em janeiro a Lula sobre o apoio à "livre vontade do povo brasileiro".

Afirmei nosso acordo inabalável à democracia e quando falamos sobre nossas agendas, elas pareciam muito semelhantes. Eu afirmei o apoio incondicional dos EUA à democracia brasileira e o respeito pela livre vontade do povo brasileiro. Somos as duas maiores democracias do hemisfério e Brasil e EUA se unem para rejeitar a violência política e os ataques às nossas instituições. Eu acredito que, como te falei, acredito que devemos continuar a defender juntos os valores democráticos. Biden a Lula

Em resposta a Biden, Lula agradeceu o apoio do presidente dos Estados Unidos e disse que o "Brasil ficou quatro anos se automarginalizando", em crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O presidente não gostava de manter relações com nenhum país. O mundo dele começava e terminava com fake news, menosprezava relações internacionais. O Brasil não tem contencioso com ninguém, é um país em que o povo gosta de paz, de democracia, de trabalhar, de carnaval, de samba e de muita alegria. É esse o Brasil que nós estamos tentando recolocar no mundo. Lula a Biden

O presidente brasileiro ainda ressaltou que ambas as nações atuem "juntas para nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio e que nunca mais haja o que aconteceu no Brasil, a invasão do Congresso Nacional, palácio do presidente e da Suprema Corte".

O encontro entre membros dos países, que era previsto para durar cerca de uma hora, se prolongou por mais tempo do que se planejava. Apenas o diálogo bilateral entre os dois presidentes durou 50 minutos, e num segundo momento, a reunião com todos os ministros levará mais 45 minutos. Quando Biden se encontrou com Bolsonaro, a duração foi de 45 minutos.

Jill Biden não comparece a encontro. Acompanha o petista na agenda com Biden a esposa de Lula, Janja. O presidente norte-americano se dirigiu à frente da Casa Branca pouco antes de Lula e Janja chegarem ao local. Biden —que não estava acompanhado da primeira-dama norte-americana, Jill— acenou e sorriu para os jornalistas no local.

Para a reunião, o presidente Lula escolheu usar um velho amuleto: uma "gravata da sorte", com as cores da bandeira do Brasil. Janja utilizou um vestido azul e um sobretudo.

Após o cumprimento, Biden caminhou com Lula por um corredor da Casa Branca. Questionados por jornalistas enquanto andavam, os dois presidentes não responderam às perguntas, mas o brasileiro acenou à imprensa presente na Casa Branca.

joe biden - Jamil Chade/UOL - Jamil Chade/UOL
Os presidentes Lula e Joe Biden conversam em encontro na Casa Branca
Imagem: Jamil Chade/UOL

O encontro entre os dois marca um esforço dos países para virar a página da "era Bolsonaro". O Itamaraty havia divulgado que a reunião com Biden teria três temas principais: a defesa da democracia, dos direitos humanos e do meio ambiente.

A reunião com o presidente norte-americano é também uma tentativa de Lula conseguir mais recursos para a área ambiental, listando as atitudes já tomadas pelo governo nesse último mês de atuação, como a expulsão dos garimpeiros de terras indígenas.

Na comitiva de Lula nos EUA também estão os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Economia), Marina Silva (Meio Ambiente) e Anielle Franco (Igualdade Racial).

Também estão nos EUA o secretário-executivo do Ministério da Indústria, Márcio Elias Rosa; o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); e o assessor-chefe da Presidência da República, Celso Amorim.

Encontro com Bernie Sanders

Antes da reunião com o presidente Joe Biden, Lula se encontrou com o senador americano Bernie Sanders na residência onde está hospedado em Washington.

Um dos principais líderes da esquerda nos EUA, Bernie se envolveu com a eleição brasileira e capitaneou ações de parlamentares americanos por respeito à democracia no Brasil. Ele aprovou no Senado, no fim do ano passado, uma resolução acionando a Casa Branca a romper relações diplomáticas em caso de golpe de Estado.

Segundo Bernie, na conversa Lula defendeu "a necessidade de fortalecer os fundamentos democráticos não apenas no Brasil ou nos EUA, mas em todo o mundo, porque há uma ameaça massiva de extremistas da direita que tentam minar a democracia".

'Não tem chances de Bolsonaro voltar à presidência'

Durante a passagem pelos EUA, Lula também concedeu uma entrevista à CNN americana. O presidente que "não tem chances" do ex-presidente Jair Bolsonaro voltar ao cargo.

O petista disse ser necessário um trabalho de convencimento para explicar à população os impactos do governo Bolsonaro no Brasil, bem como as consequências de ter outros nomes da extrema-direita como lideranças no mundo.

Agora vai depender da nossa capacidade de construir a narrativa correta do que ele representou para o Brasil, porque essa extrema-direita está no mundo inteiro. Ela esteve nos Estados Unidos, no Brasil, na Espanha, na França. Ela está na Hungria, na Alemanha. Ou seja, é uma extrema-direita organizada que, se a gente não tomar cuidado, é uma atitude nazista. É uma atitude negacionista que nós nunca tínhamos visto."