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Nos EUA, Lula diz que 'não tem chances' de Bolsonaro voltar à presidência

10.fev.2023 - Presidente Lula (PT) concede entrevista a Christiane Amanpour, da CNN americana - Ricardo Stuckert/PR
10.fev.2023 - Presidente Lula (PT) concede entrevista a Christiane Amanpour, da CNN americana Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

10/02/2023 15h36Atualizada em 10/02/2023 16h55

O presidente Lula (PT) criticou duramente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista à rede norte-americana CNN, durante sua viagem aos Estados Unidos, hoje.

Em visita ao país para um encontro com o presidente norte-americano Joe Biden, o petista afirmou que o ex-governante, que também está no país, não voltará à Presidência, mas deverá retornar ao Brasil para responder a processos. Ele falou ainda sobre as consequências de ter outros nomes da extrema-direita como lideranças no mundo.

O petista encontrará com Biden no final desta tarde, na Casa Branca. Pela manhã, ele se encontrou com o senador de esquerda Bernie Sanders e parte da bancada do partido Democrata no Congresso norte-americano.

Eu acho que, em algum momento, ele [Bolsonaro] vai ser condenado. Ele, na verdade, nem ficou lá [Brasil] para ver a posse. Ele fugiu do Brasil três dias antes, ainda fugiu no avião presidencial e veio se esconder aqui [EUA] na casa de um amigo dele. De qualquer forma, um dia ele vai ter que voltar ao Brasil e ele vai ter que enfrentar todos os processos que tenho movido contra ele."
Lula, à CNN

Lula disse que não pedirá a Joe Biden para que Bolsonaro seja extraditado dos Estados Unidos.

O petista citou os processos envolvendo a pandemia de covid-19 e a tragédia yanomami — Lula chama ambas de casos de genocídio, e diz acreditar que o ex-presidente será condenado em um dos casos.

"É uma coisa muito grave que aconteceu lá [em Roraima]. E ele [Bolsonaro] incentivava os garimpeiros, incentivava a jogar mercúrio na água, incentivava poluir a água que as pessoas bebiam naquele mundo bem escondido do restante do país", completou.

Lula: Bolsonaro é "cópia fiel" de Trump

O petista também fez comparações entre os ataques do 8 de janeiro no Brasil e a invasão do Capitólio americano, em 6 de janeiro de 2021, associando ambos movimentos a Bolsonaro e ao ex-presidente americano Donald Trump.

[Bolsonaro e Trump] é a mesma coisa, sabe? Não gosta de sindicato, não gosta de empresário, não gosta de trabalhador, não gosta de mulheres, não gosta de negro, não gosta de conversar com empresários. Eles e as mentiras deles. Eles sabem as fanfarras deles."
Lula, à CNN

"Nunca imaginei a invasão do Capitólio, assim como nunca imaginei que no Brasil invadiriam o Congresso", disse Lula. "A extrema-direita é muito raivosa e usa fake news como uma ferramenta para se comunicar com as pessoas. Temos que destruir essa narrativa que usam contra os democratas."

"Tivemos uma indústria de fake news que não conseguimos combater em igualdade de condições", também comentou Lula, ao acrescentar que "nem todo mundo que votou no Bolsonaro é bolsonarista".

Agora vai depender da nossa capacidade de construir a narrativa correta do que ele representou para o Brasil, porque essa extrema-direita está no mundo inteiro. Ela esteve nos Estados Unidos, no Brasil, na Espanha, na França. Ela está na Hungria, na Alemanha. Ou seja, é uma extrema-direita organizada que, se a gente não tomar cuidado, é uma atitude nazista. É uma atitude negacionista que nós nunca tínhamos visto"
Lula, à CNN

Lula elogiou Biden pelo discurso do Estado da União, feito pelo americano na quarta-feira (8), e afirmou que também poderia fazê-lo no Brasil devido às falas em defesa da democracia. "Eu seria chamado de comunista pelo mesmo discurso", afirmou.

Guerra da Ucrânia: "o erro já foi feito, temos que consertá-lo"

Questionado sobre uma de suas divergências com Biden —o nível de envolvimento na guerra da Ucrânia —, Lula voltou a defender a construção de um grupo que apresente propostas possíveis para a paz entre os países.

Não era de mandar munição e eu não quis mandar, porque eu falei: 'vou mandar, eu entrei na guerra'. Eu entrei na guerra e eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com a guerra. Esse é o meu dilema e esse é o meu compromisso."
Lula, sobre o conflito

Pressionado pela entrevistadora, Lula defendeu o direito de autodefesa da Ucrânia, mas disse que "o erro já foi feito". "Agora, temos que consertá-lo", afirmou.

Encontro com Biden ocorre hoje à noite

Lula irá se reunir com o presidente dos EUA hoje, às 18h30 (horário de Brasília), na Casa Branca. Ambos devem participar de uma coletiva de imprensa após o encontro.

Segundo o Itamaraty, a reunião com Biden terá três temas principais: a defesa da democracia, dos direitos humanos e do meio ambiente.

Essa é a terceira viagem internacional de Lula, após passagens por Argentina e Uruguai em janeiro. Ele ainda deve visitar em breve China e Portugal, em datas ainda não definidas.