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Guerra da Ucrânia faz 1 ano movida por 'ameaça' nuclear e R$ 2,5 bi dos EUA

Joe Biden e Zelensky em Kiev, na segunda-feira (20); dias seguintes a visita foram de agitação política entre Estados Unidos e Rússia - Evan Vucci/Pool via REUTERS/File Photo
Joe Biden e Zelensky em Kiev, na segunda-feira (20); dias seguintes a visita foram de agitação política entre Estados Unidos e Rússia Imagem: Evan Vucci/Pool via REUTERS/File Photo

Do UOL, em São Paulo

24/02/2023 04h00Atualizada em 24/02/2023 09h09

A guerra na Ucrânia completou um ano hoje — com ao menos 210 mil mortos — 30 mil deles, civis. Mas apesar da perda humana e material, o conflito parece não ter data para acabar, com o presidente russo Vladimir Putin, responsável pela invasão, afirmando que pretende seguir com os ataques ao país vizinho para se proteger de uma "derrota estratégica" apoiada por países estrangeiros.

Às vésperas do aniversário, Putin colocou a culpa da guerra no "Ocidente", enquanto os Estados Unidos anunciaram um apoio de US$ 500 milhões às tropas ucranianas, durante uma visita secreta do presidente Joe Biden à capital do país, Kiev.

Em seu tradicional discurso sobre o estado da nação, transmitido na terça-feira (21), o presidente russo afirmou que "fez tudo o que podia para evitar" o conflito, mas que decidiu invadir a Ucrânia para evitar um suposto ataque à Crimeia, anexada por Moscou em 2014 — uma decisão não reconhecida internacionalmente.

"O povo da Ucrânia se tornou refém do regime em Kiev e seus senhores ocidentais, que ocuparam o país no sentido político, militar e econômico", disse Putin no discurso. "As elites ocidentais estão tentando esconder seus objetivos de infligir uma derrota estratégica à Rússia. Eles pretendem transformar o conflito local numa confrontação global. É assim que entendemos e vamos reagir de acordo", prosseguiu.

Visita de Biden à Ucrânia

O presidente dos Estados Unidos chegou "de surpresa" em Kiev, capital da Ucrânia, na segunda-feira (20). Uma visita à Polônia, país vizinho, estava agendada para o mesmo dia, mas a visita ao território em guerra não tinha sido confirmada pela Casa Branca.

Biden foi recebido por Volodymyr Zelensky, líder ucraniano, e caminhou com ele pelas ruas da capital, apesar do alarme aéreo em vigor em todo o país diante dos ataques das forças russas. Ele ainda anunciou um apoio de US$ 500 milhões de dólares — incluindo equipamento militar — ao país em guerra.

Horas depois, já em Varsóvia, o líder norte-americano reafirmou o apoio à Ucrânia, dizendo que "Kiev permanece em pé" e "livre" apesar da guerra. Ele declarou ainda que o país "nunca será uma vitória da Rússia".

O discurso ousado foi compartilhado por sites oficiais do governo dos Estados Unidos na terça-feira (21).

Putin suspende tratado nuclear

Horas antes da fala de Biden em Varsóvia, ainda no discurso à nação, Putin anunciou a suspensão da participação da Rússia no tratado Novo Start, um acordo bilateral de desarmamento nuclear com os Estados Unidos.

O documento foi assinado em 2010 pelos presidentes Barack Obama e Dmitry Medvedev e representava o último tratado de controle de armas entre os dois países, limitando o número de ogivas nucleares que cada um possui.

A suspensão aconteceu depois de os Estados Unidos reclamarem que Putin não permitia que seus inspetores visitassem o arsenal russo, um direito garantido pelo tratado para garantir seu cumprimento. Em resposta, o governo russo defendeu que não era apropriado autorizar inspeções enquanto os países enfrentam tensões relacionadas à guerra na Ucrânia.

Autoridades russas afirmam que o país continuará prestando contas sobre seu arsenal, acabando apenas com as visitas, mas Putin já insinuou que tem planos de testes nucleares.

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Vladimir Putin em discurso à nação, que aconteceu na Assembleia Federal em Moscou, na terça (21)
Imagem: Sputnik/Sergei Savostyanov/Pool Reuters

Biden minimiza situação, mas fala em "grande erro" russo

Em resposta à suspensão do tratado, Joe Biden disse ontem à ABC News que não interpreta a decisão de Vladimir Putin como um sinal de que ele considera usar armas nucleares, apesar de considerá-la "não muito responsável".

Questionado se a situação tornava o mundo menos seguro, Biden disse: "Eu acho que estamos menos seguros quando abandonamos acordos de controle de armas que são de muito interesse de ambas as partes e do mundo. Mas a ideia de que isso significa que eles estão pensando em usar armas nucleares, mísseis balísticos intercontinentais...não há evidência disso."

Putin vai contra tom diplomático e fala em míssil 'ultrapotente'

Indo contra o tom de Biden, o presidente russo afirmou em novo discurso, na manhã de hoje, que deseja colocar em serviço o modelo mais recente do Sarmat, um míssil intercontinental anunciado em 2022.

Ele já foi descrito por Putin como um míssil capaz de "burlar todos os sistemas antiaéreos" e que "fará aqueles que tentam ameaçar a Rússia refletirem duas vezes".

O presidente afirmou que o Sarmat, chamado de Satã II pelos ocidentais, tem um alcance quase ilimitado, mas de acordo com o canal CNN, que citou fontes americanas que pediram anonimato, o teste mais recente dele fracassou ainda esta semana.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, se recusou a comentar a afirmação.

Retirada de embaixadores

Além dos Estados Unidos, a Rússia também entrou em conflitos recentes com outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte que apoiaram o financiamento das tropas ucranianas.

O embaixador da Estônia foi expulso de Moscou depois que seu país foi acusado de "russofobia". O Ministério de Relações Exteriores russo afirmou em 23 de janeiro que as autoridades estonianas "destruíram de propósito" as relações com o Kremlin ao reduzir o tamanho da embaixada russa em Talinn, capital estoniana.

Membro da OTAN, a Estônia apoiou que a Alemanha cedesse tanques de guerra para a Ucrânia. Margus Laidre, funcionário diplomático que trabalhava em Moscou, foi informado que tinha até 7 de fevereiro para sair do país.

Ele foi o primeiro embaixador expulso pela Rússia após a invasão. Em resposta, a Estônia também expulsou o representante russo que estava em seu país, dando o mesmo prazo para sua saída.

Solidária, a Letônia também expulsou o embaixador russo em seu país, dando a ele até 27 de fevereiro para ir embora. Pioneira, a Lituânia já tinha feito o mesmo em abril do ano passado, depois que o governo ucraniano acusou as forças russas de matarem civis na cidade de Bucha. Seu embaixador na Rússia foi convocado a voltar pelo próprio governo, e não expulso.

A relação diplomática entre os países se mantém, mas com status "rebaixado". Agora, os assuntos entre as nações são comandados por um chargé d'affaires — ou encarregado de negócios — que assume as responsabilidades diplomáticas na ausência de um embaixador.

A embaixadora dos Estados Unidos na Rússia, Lynne Tracy, permanece em Moscou. Ela foi convocada para uma reunião com o Ministério das Relações Exteriores na terça (21) para responder às reclamações russas sobre o envolvimento "agressivo" do governo Biden na guerra da Ucrânia, afirmando que o auxílio bélico ao país prova que os Estados Unidos são "falsos" ao dizer que não são parte do conflito.