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Jejum de comida e sexo durante o dia: como funciona purificação do Ramadã

10.jun.2016 - A Mesquita Brasil no bairro paulistano do Cambuci é considerada uma das mais importantes da América Latina e foi uma das primeiras a ser construída no Brasil. Atualmente ela recebe refugiados sírios que passam seus primeiros Ramadãs em São Paulo - Reinaldo Canato/UOL
10.jun.2016 - A Mesquita Brasil no bairro paulistano do Cambuci é considerada uma das mais importantes da América Latina e foi uma das primeiras a ser construída no Brasil. Atualmente ela recebe refugiados sírios que passam seus primeiros Ramadãs em São Paulo Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Thiago Varella

Colaboração com o UOL

22/03/2023 11h37

O Ramadã, mês sagrado dos muçulmanos, tem início na noite de hoje (22) no mundo todo e marca o período em que os fiéis se abstêm de ingerir alimentos e bebidas, inclusive água, do nascer ao pôr do Sol.

O que é?

O Ramadã marca o mês em que Deus teria começado a revelar o Alcorão, livro sagrado do Islã, ao profeta Muhammad, no século 7. A noite em que começou essa revelação se chama Lailat al-Qadr (A Noite de Decreto, em português) e comumente se celebra na 27ª noite do mês.

Para os fiéis, trata-se do quarto pilar da prática do Islã e é um período especial de transformação pessoal, purificação e aprofundamento espiritual, que se dão por meio do jejum de líquidos, alimentos, fumo e relações sexuais entre o nascer e o por do Sol.

Além disso, os muçulmanos fazem uma oração específica durante o Ramadã, a Taraweeh, que é praticada diariamente durante o mês, após o Iftar, que é o desjejum feito logo depois do pôr do Sol.

Durante o Ramadã, os muçulmanos também leem o Alcorão diariamente depois das orações em comunidade nas mesquitas ou individualmente em suas casas.

"Um dos objetivos fundamentais do Ramadã é o de se aproximar da realidade dos mais necessitados. Pelo jejum, temos a vivência de momentos dramáticos que os desfavorecidos vivem no dia-a-dia e isso nos traz sensibilidade. Nesse mês, as práticas de caridade acontecem de forma mais intensa", explicou Ali Zoghbi, vice-presidente da Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil).

Por ser um mês muito especial, os muçulmanos evitam qualquer tipo de intriga ou discussão.

"O jejum da comida e da bebida passa. Mas o jejum das coisas ruins precisa continuar, daquilo que nos afasta do propósito do jejum. E nós precisamos ter controle das emoções nesse mês para nos voltarmos à nossa devoção", disse Francirosy Barbosa, antropóloga, docente do Departamento de Psicologia da USP, muçulmana e pesquisadora do tema.

Quando acontece?

A data do Ramadã muda de ano para ano já que ocorre no nono mês do calendário lunar e pode durar entre 29 ou 30 dias. Neste ano, o mês sagrado começa na noite de hoje e vai até o dia 21 de abril.

Quem pratica?

Em tese, todos os muçulmanos precisam observar o Ramadã. No entanto, crianças, gestantes e doentes estão dispensados, mas isso não significa que não tenham responsabilidade durante o mês.

"Quem estiver fazendo algum tratamento médico devido a uma doença está liberado do jejum até que tenha se curado totalmente. Por isso, fará o jejum quando estiver fisicamente apto", explicou Barbosa.

"Quando a doença é crônica, como no caso da diabetes, a pessoa é orientada a não jejuar e, em vez disso, deve doar alimentação diária para uma pessoa necessitada caso tenha condição financeira", completou.

Como termina?

O Ramadã termina com o Eid al-Fitr, ou a festa de desjejum. Nesse dia, a comunidade se reúne nas mesquitas e o dia se celebra com confraternizações e visitas em casas.

E no Brasil?

Muçulmanos brasileiros têm as mesmas responsabilidades no Ramadã que qualquer outro fiel ao redor do mundo. O desafio de jejuar em um país majoritariamente cristão pode ser, inclusive, ainda maior.

"É muito mais difícil no Brasil. Eu vou dar aula e meus alunos vão beber água, eu não. Se eu for em uma palestra, vai ter o momento do cafezinho e eu não vou poder comer. Se eu estivesse em um país majoritariamente islâmico, quase todos estariam jejuando", explicou Barbosa.

Para os não-muçulmanos que convivem com amigos ou colegas que seguem o Islã, a regra é respeitar. Claro que quem não segue a religião não vai jejuar, mas é de bom-tom evitar comer na frente de um muçulmano que estiver jejuando.

Empregadores também podem respeitar seus funcionários muçulmanos alterando o horário de entrada e saída para que eles possam vivenciar a fé de maneira completa durante o Ramadã.

"E se um muçulmano convidar você que não segue o Islã para a quebra do jejum, aceite. É um motivo de felicidade para um fiel convidar alguém para quebrar o jejum com ele, independentemente da religião", contou Barbosa.