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Tempestade e erro de pilotos: como voo Rio-Paris caiu e matou 228 pessoas

Pedaços do avião da Air France que caiu no oceano Atlântico em 2009 - REUTERS/JC Imagem/Alexandre Severo
Pedaços do avião da Air France que caiu no oceano Atlântico em 2009 Imagem: REUTERS/JC Imagem/Alexandre Severo

Do UOL, em São Paulo

17/04/2023 11h44Atualizada em 17/04/2023 15h05

Após uma batalha de quase quatorze anos, as empresas AirBus e Air France foram absolvidas de qualquer culpa no acidente com o voo AF447, que caiu no Oceano Atlântico enquanto fazia o trajeto entre Rio de Janeiro e Paris, deixando 228 mortos.

Famílias das vítimas lutaram pela reabertura do caso contra as multinacionais, arquivado em 2019, afirmando que queriam um julgamento "imparcial" e que não falasse apenas dos pilotos, que tiveram suas falhas reconhecidas por relatórios sobre a queda, que aconteceu em 1º de junho de 2009.

Relembre a linha do tempo do caso:

O acidente

O voo AF447 saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris às 19h30 de 31 de maio de 2009, no horário de Brasília.

O Airbus da companhia Air France caiu no Oceano Atlântico três horas e 45 minutos após a decolagem, pouco depois de deixar o Nordeste brasileiro.

Os 216 passageiros e 12 tripulantes morreram; entre as vítimas, 58 eram brasileiras.

A queda aconteceu em uma área de difícil acesso e os primeiros corpos e restos da aeronave só foram encontrados dias depois.

Já as caixas pretas e maior parte da fuselagem foram localizadas quase dois anos depois, em abril de 2011, a uma profundidade de 3.900 metros.

O que provocou a queda

O avião da Air France enfrentava uma forte tempestade tropical, próximo à linha do Equador; outras aeronaves tinham desviado da área.

As baixas temperaturas acabaram congelando os tubos de pitot, que apontam a velocidade da aeronave.

O piloto automático foi automaticamente desligado, devido às informações inconsistentes sobre a velocidade.

Nesse momento, Pierre-Cedric Bonin, 32, estava no comando da aeronave; ele era o menos experiente dos comandantes a bordo.

Gravações das conversas na cabine de comando mostram que Marc Dubois, 58, o mais experiente da tripulação, tinha ido dormir.

Sem os tubos de pitot, o Airbus passou a sofrer perda de sustentação — também chamado de estol. Quando isso acontece, os pilotos devem baixar o nariz da aeronave.

Sem entender qual problema estava enfrentando, Bonin teria decidido levantá-lo. Cerca de um minuto e meio após o início do problema, Dubois entrou na cabine. Apesar da intervenção do comandante mais experiente, não foi possível recuperar a sustentação do Airbus.

O impacto no mar ocorreu menos de cinco minutos depois do início do problema.

O que disse a investigação?

A versão final do inquérito sobre o acidente foi apresentada em 2012 pelo BEA (Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da França).

O órgão afirmou que a tragédia foi provocada por falhas mecânicas, erros dos pilotos e falta de treinamento da tripulação para pilotagem manual.

A decisão do copiloto de elevar o bico do avião para ganhar altitude não foi condizente com o procedimento padrão, segundo o documento, que destacou que informações contraditórias fornecidas pela aeronave "podem ter confundido os pilotos e os induzido ao erro".

Eles não teriam percebido que o avião estava caindo até segundos antes do impacto com o mar, a 200 km/h.

O acidente "poderia ter acontecido com qualquer outra tripulação", ainda de acordo com o que concluiu a BEA.

Afinal, quem foi culpado?

Apesar de os relatórios apontarem a participação de falhas mecânicas no acidente, o caso contra Airbus e Air France foi arquivado em 29 de agosto de 2019.

Familiares das vítimas e o sindicato de pilotos recorreram e, em 12 de maio de 2021, a Justiça francesa reabriu os processos por homicídios involuntários contra as duas empresas.

"Esperamos que este processo seja o julgamento da Airbus e da Air France e não dos pilotos", declarou Danièle Lamy, presidente da associação de parentes de vítimas, à AFP, na época.

A Air France foi julgada por não implementar o treinamento adequado ou fornecer as informações necessárias para que os pilotos reagissem ao congelamento dos tubos de pitot.

Já a Airbus foi julgada por "subestimar a gravidade" das falhas nas sondas de velocidade, o que também colaborou para que as tripulações não fossem treinadas adequadamente.

O acidente levou ao reforço do treinamento para perda de altitude, mas Air France e a Airbus negaram qualquer culpa.

Na sentença oferecida hoje, a Justiça Francesa concordou com a declaração de inocência, afirmando que, embora as empresas tenham cometido "falhas", não é possível demonstrar com certeza uma "relação de causalidade" com o acidente — ou seja, que os erros das gigantes da aviação foram diretamente responsáveis pela queda.

Apesar de não ter sido responsabilizada judicialmente, a Air France indenizou famílias de algumas das vítimas.