Tempestade e erro de pilotos: como voo Rio-Paris caiu e matou 228 pessoas
Após uma batalha de quase quatorze anos, as empresas AirBus e Air France foram absolvidas de qualquer culpa no acidente com o voo AF447, que caiu no Oceano Atlântico enquanto fazia o trajeto entre Rio de Janeiro e Paris, deixando 228 mortos.
Famílias das vítimas lutaram pela reabertura do caso contra as multinacionais, arquivado em 2019, afirmando que queriam um julgamento "imparcial" e que não falasse apenas dos pilotos, que tiveram suas falhas reconhecidas por relatórios sobre a queda, que aconteceu em 1º de junho de 2009.
Relembre a linha do tempo do caso:
O acidente
O voo AF447 saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris às 19h30 de 31 de maio de 2009, no horário de Brasília.
O Airbus da companhia Air France caiu no Oceano Atlântico três horas e 45 minutos após a decolagem, pouco depois de deixar o Nordeste brasileiro.
Os 216 passageiros e 12 tripulantes morreram; entre as vítimas, 58 eram brasileiras.
A queda aconteceu em uma área de difícil acesso e os primeiros corpos e restos da aeronave só foram encontrados dias depois.
Já as caixas pretas e maior parte da fuselagem foram localizadas quase dois anos depois, em abril de 2011, a uma profundidade de 3.900 metros.
O que provocou a queda
O avião da Air France enfrentava uma forte tempestade tropical, próximo à linha do Equador; outras aeronaves tinham desviado da área.
As baixas temperaturas acabaram congelando os tubos de pitot, que apontam a velocidade da aeronave.
O piloto automático foi automaticamente desligado, devido às informações inconsistentes sobre a velocidade.
Nesse momento, Pierre-Cedric Bonin, 32, estava no comando da aeronave; ele era o menos experiente dos comandantes a bordo.
Gravações das conversas na cabine de comando mostram que Marc Dubois, 58, o mais experiente da tripulação, tinha ido dormir.
Sem os tubos de pitot, o Airbus passou a sofrer perda de sustentação — também chamado de estol. Quando isso acontece, os pilotos devem baixar o nariz da aeronave.
Sem entender qual problema estava enfrentando, Bonin teria decidido levantá-lo. Cerca de um minuto e meio após o início do problema, Dubois entrou na cabine. Apesar da intervenção do comandante mais experiente, não foi possível recuperar a sustentação do Airbus.
O impacto no mar ocorreu menos de cinco minutos depois do início do problema.
O que disse a investigação?
O órgão afirmou que a tragédia foi provocada por falhas mecânicas, erros dos pilotos e falta de treinamento da tripulação para pilotagem manual.
A decisão do copiloto de elevar o bico do avião para ganhar altitude não foi condizente com o procedimento padrão, segundo o documento, que destacou que informações contraditórias fornecidas pela aeronave "podem ter confundido os pilotos e os induzido ao erro".
Eles não teriam percebido que o avião estava caindo até segundos antes do impacto com o mar, a 200 km/h.
O acidente "poderia ter acontecido com qualquer outra tripulação", ainda de acordo com o que concluiu a BEA.
Afinal, quem foi culpado?
Apesar de os relatórios apontarem a participação de falhas mecânicas no acidente, o caso contra Airbus e Air France foi arquivado em 29 de agosto de 2019.
Familiares das vítimas e o sindicato de pilotos recorreram e, em 12 de maio de 2021, a Justiça francesa reabriu os processos por homicídios involuntários contra as duas empresas.
"Esperamos que este processo seja o julgamento da Airbus e da Air France e não dos pilotos", declarou Danièle Lamy, presidente da associação de parentes de vítimas, à AFP, na época.
A Air France foi julgada por não implementar o treinamento adequado ou fornecer as informações necessárias para que os pilotos reagissem ao congelamento dos tubos de pitot.
Já a Airbus foi julgada por "subestimar a gravidade" das falhas nas sondas de velocidade, o que também colaborou para que as tripulações não fossem treinadas adequadamente.
O acidente levou ao reforço do treinamento para perda de altitude, mas Air France e a Airbus negaram qualquer culpa.
Na sentença oferecida hoje, a Justiça Francesa concordou com a declaração de inocência, afirmando que, embora as empresas tenham cometido "falhas", não é possível demonstrar com certeza uma "relação de causalidade" com o acidente — ou seja, que os erros das gigantes da aviação foram diretamente responsáveis pela queda.
Apesar de não ter sido responsabilizada judicialmente, a Air France indenizou famílias de algumas das vítimas.
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