Macron diz que Amazônia também é francesa e irrita Brasil: ele está errado?

O presidente da França, Emmanuel Macron, causou mal-estar entre ambientalistas e membros do governo brasileiro ao reivindicar a entrada do país no Tratado de Cooperação Amazônica.

Essa não é a primeira vez que Macron diz que seu país também é da Amazônia. Em 2019, o presidente francês afirmou estar preocupado com incêndios e o desmatamento no bioma. "A França está ainda mais preocupada que os outros atores à mesa, já que somos amazônicos", afirmou, em vídeo nas vésperas da cúpula do G7 (que reúne as sete maiores economias do mundo).

O argumento de Macron é de que a França também pode ser considerada um país amazônico, ainda que esteja situada na Europa.

A explicação, porém, está do outro lado do oceano: a França também faria parte da Amazônia por causa da Guiana Francesa, território francês que fica na América do Sul.

Amazônia vai além do Brasil

Com população de quase 300 mil habitantes, a Guiana Francesa faz fronteira com o Brasil e com o Suriname. A região foi uma colônia da França e hoje funciona como uma província do país — ou seja, tem como chefe de estado o presidente francês, que governa de Paris.

A Amazônia está presente em oito países além do Brasil: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Apesar disso, dados divulgados pela BBC Brasil em 2019 apontavam que a maior parte do bioma (58%) está no Brasil. A Guiana Francesa respondia por apenas 1,4% da Amazônia.

Em 2010, dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura apontavam que o país tinha mais de 90% da sua área coberta por florestas. A maior parte teve pouca ou nenhuma intervenção humana.

Cerca de um terço dessa cobertura florestal está no Parque Amazônico da Guiana, uma área protegida de 34 mil quilômetros quadrados que restringe a exploração econômica e a intervenção humana. A Guiana Francesa é um pouco menor do que Santa Catarina — o parque ocupa metade do território do país.

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Segundo a Global Forest Watch, entre 2002 e 2022 a Guiana Francesa perdeu 0,87% da sua cobertura floresta. No Brasil, a taxa foi de 8,46%.

O principal problema ambiental na Guiana Francesa é o garimpo ilegal. Segundo as autoridades francesas, quase 90% da mão de obra para a atividade é de brasileiros.

Em março de 2023, um policial francês foi morto a tiros enquanto participava de uma operação para combater a mineração ilegal de ouro no país.

Exploração foi limitada no período colonial

Os franceses chegaram ao território no século 16, mas enfrentaram dificuldades para explorar a região. Conflitos com as populações nativas e com outros europeus foram um dos complicadores para a fixação de pessoas na região.

Ao longo do século 18, escravos africanos foram forçados a ir para a Guiana Francesa, ainda que em menor número na comparação com outras colônias. Entre 1764 e 1765, a França enviou 12 mil colonos para a região. Destes, 7 mil morreram por doenças em 1765 e outros 3 mil retornaram à Europa. Os sobreviventes foram resgatadas nas chamadas ilhas da Salvação, que ficam a 11 quilômetros da costa da Guiana Francesa.

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A partir da Revolução Francesa, ocorrida no final do século 18, o país se tornou um lugar para desterrados e prisioneiros.

*Com informações da BBC Brasil.

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