Conteúdo publicado há 8 meses

Brasileiros resgatados da Cisjordânia chegam ao Brasil em avião da FAB

Um avião da FAB (Força Aérea Brasileiral) pousou às 8h35 de hoje na Base Aérea de Brasília, com brasileiros que estavam na Cisjordânia.

O que aconteceu

O embarque dos 30 brasileiros, uma jordaniana e um palestino foi realizado ontem no Aeroporto Internacional Marka, em Amã, na Jordânia. Entre os passageiros estavam 12 homens, 9 mulheres e 11 crianças. Há ainda, 6 idosos e entre eles e 2 cadeirantes. A aeronave foi cedida pela Presidência da República.

Antes da capital federal, a aeronave pousou em Recife. Seis passageiros desembarcaram na capital pernambucana.

Em Brasília, 26 brasileiros desembarcaram e agora seguem para 10 cidades: Foz do Iguaçu, São Paulo, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Goiânia, Brasília, e Porto Alegre.

Eles serão transportados pela companhia Azul que pagou as passagens dos repatriados, segundo o governo federal. Apenas os dois passageiros que irão para Goiânia não viajaram pela companhia e terão que custear as próprias viagens.

Um médico que acompanhou o grupo disse que o estado geral de saúde dos passageiros era bom. O Capitão Médico Gustavo Messias Costa disse que os idosos e cadeirantes precisaram de atenção especial. Alguns tinham diabetes e hipertensão e muitos estavam ansiosos pelo retorno ao país. Mas não foram identificadas lesões físicas ou quadros psicológicos que precisassem de atenção.

O que disseram os brasileiros

Mahmoud vivia há seis meses na Cisjordânia e agora vai para Foz do Iguaçu, no Paraná. "Fui lá porque meu filho estava morando lá, mas não deu para aguentar porque estávamos correndo muito perigo", diz.

Ele comemorou a chegada ao Brasil. "Muito boa [a sensação de voltar ao Brasil], agradecemos muito. A situação era insuportável, não tínhamos liberdade, estávamos cercados, a vida estava muito difícil, muito triste a situação de todos que moram lá."

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Brasileiros repatriados da Cisjordânia chegam ao Brasil, na Base Aérea de Brasília
Brasileiros repatriados da Cisjordânia chegam ao Brasil, na Base Aérea de Brasília Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Amer Aziz, 40, voltou para o Brasil com os quatro filhos. Segundo ele, mesmo não estando em um local com bombardeios, a sensação é de medo e insegurança.

Duas brasileiras-palestinas comemoraram a chegada ao Brasil, mas lembraram os familiares que ficaram na Cisjordânia. "Deixamos nossos parentes e amigos lá, mas que Deus proteja eles. Minha mãe, irmãos, tias, a família toda ficou lá", disse Farida Habbas Abdaljalil. "Vamos tentar um dia encontrar com eles."

A brasileira-palestina Abla Muhammad Aziz celebrou a chegada ao país. "Sou brasileira e palestina também. Viva Brasil. 'Mil maravilhas' estar de volta", disse ela.

Mahmoud Salim, 43 anos, um dos brasileiros resgatados da Cisjordânia, conta que perdeu dois amigos que foram assassinados na guerra
Mahmoud Salim, 43 anos, um dos brasileiros resgatados da Cisjordânia, conta que perdeu dois amigos que foram assassinados na guerra Imagem: Carolina Nogueira/UOL

Mahmoud Awni Sadiq Salim, 43, vivia em Ramallah, na Cisjordânia e segue viagem para São Paulo. Ele chegou a Brasília com os filhos de 7, 13 e 15 anos. "Lá estava perigoso. Está faltando comida, gasolina e água."

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Ele conta que perdeu dois amigos no conflito. "Do lado da minha casa, às vezes, jogam bombas. Se você quer passar para outra cidade, fica difícil. Tinha controle, matam o pessoal por nada".

Salim diz que quer começar a trabalhar em São Paulo. "A Embaixada ajudou muito a gente", diz.

Passei dois meses lá e tive que voltar por causa da guerra. O lugar que a gente estava não tinha nada de ataque. Para se locomover de uma região para outra está muito difícil, deu muito medo, a gente com família.
Amer Aziz, brasileiro repatriado

Como foi o resgate

A Representação Brasileira em Ramala organizou uma operação de resgate. Estão sendo retiradas pessoas que manifestaram interesse na repatriação. Ônibus e vans alugados, identificados com a bandeira do Brasil, conduziram os passageiros de 11 cidades da Cisjordânia até a cidade de Jericó.

A Cisjordânia tem habitantes palestinos e israelenses. Ainda que o território não esteja envolvido no conflito entre Israel e o Hamas, há temor de ataques no local.

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Em Jericó, eles fizeram os trâmites migratórios e partiram para Amã, capital da Jordânia — de acordo com a nota do Itamaraty.

Outros resgatados da guerra

Com a operação de hoje, o governo federal trouxe 1.445 pessoas para o Brasil. Foram oito voos vindos de Israel e um da Jordânia nos aviões da FAB que são utilizados pelo presidente da República e outras autoridades.

Um grupo de 34 brasileiros na Faixa de Gaza ainda aguarda autorização para cruzar a fronteira com o Egito e embarcar no avião da FAB. A aeronave foi para o Cairo na segunda (30) levando alimentos doados pelo MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Falta clareza para saída de estrangeiros

Ontem, a fronteira com o Egito foi aberta pela primeira vez desde que o conflito começou, em 7 de outubro, para a saída de palestinos e aproximadamente 450 estrangeiros, que não incluiu brasileiros.

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Hoje, os brasileiros também não entraram na lista de pessoas autorizadas a sair de Gaza por Rafah, cidade ao sul da Faixa de gaza. A informação é do embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas.

Ao todo saíram da zona de guerra nesta quinta 576 estrangeiros — 400 pessoas só dos Estados Unidos. Os demais países são Azerbaijão, Barhein, Bélgica, Coréia do Sul, Croácia, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Tchade.

A falta de clareza sobre os critérios usados para a escolha dos estrangeiros autorizados a sair tem incomodado o Itamaraty. Uma das orientações de Brasília é para que as gestões sejam intensificadas tanto com os israelenses, egípcios e mesmo com grupos em Gaza. Para a cúpula da chancelaria, Israel não tem dado explicações nem sobre suas decisões e nem sobre a agenda de liberação dos estrangeiros.

Segundo fontes da diplomacia nacional, essa ausência de explicação não se refere apenas aos brasileiros. No total, cerca de 7.000 estrangeiros aguardam para serem autorizados a deixar Gaza e embaixadas também questionam como tem sido feita a escolha.

Apesar da espera, a embaixada do Brasil em Ramallah acredita que notícias positivas serão dadas ainda nesta semana e que os brasileiros poderão estar nas próximas listas de estrangeiros.

Lula comemorou

O presidente Lula (PT) comemorou a chegada dos cidadãos nas redes sociais e disse que os "esforços para trazer os brasileiros de Gaza continuam". O Itamaraty tem negociado com Egito e Israel para que eles sejam retirados o quanto antes.

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*Colaborou Jamil Chade, colunista do UOL

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemento do que informou a versão anterior desta reportagem, o primeiro grupo de pessoas que deixou Gaza pela fronteira com o Egito não incluiu brasileiros. Nenhum brasileiro deixou a Palestina pela passagem de Rafah até esta quinta-feira (2). O texto foi alterado.

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