Invasão pelo Brasil? O que pode acontecer após referendo na Venezuela
A disputa territorial entre Venezuela e Guiana está gerando tensão na região. Segundo Caracas, mais de 95% dos eleitores apoiaram a proposta de criar a província venezuelana do Essequibo em um referendo realizado neste domingo (3). O objetivo da mudança é a exploração de recursos naturais: além do petróleo, a área é rica em gás, ouro, diamante e outros minerais.
E agora, o que pode acontecer?
Medida tem caráter consultivo. Apesar de o referendo ter apenas caráter consultivo e seu resultado não ser considerado pelos órgãos internacionais, o governo venezuelano poderia pressionar a comunidade internacional para obter melhores respostas sobre a área em disputa a partir dele.
Ainda assim, não está claro o que o governo venezuelano faria a partir do resultado da sua reivindicação. Segundo a CNN, especialistas afirmam que a criação de um Estado venezuelano dentro do Essequibo não passa de uma possibilidade remota, e qualquer tentativa de colocar esse plano em prática encontraria resistência internacional.
Corte Internacional de Justiça (CIJ) se posicionou contra referendo. Antes mesmo de o referendo ser votado, na última sexta-feira (1ª), a Corte de Haia deu vitória a uma contestação da Guiana sobre o tema. Na decisão, obtida pelo colunista do UOL Jamil Chade, foi entendido de forma unânime que o governo da Venezuela deve evitar qualquer ação que modifique a situação do território em disputa, até que o tribunal julgue o mérito da questão.
Vigilância na fronteira. Também antes da consulta popular, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse em transmissão nas redes sociais que a vigilância iria aumentar. "Estamos trabalhando contra o relógio para que nossas fronteiras sejam mantidas intactas e que as pessoas do nosso país continuem em segurança", afirmou.
Portanto, caso a Venezuela queira invadir o Essequibo, seria necessário o uso de força. Área de selva fechada, uma das opções para uma possível invasão seria por mar.
Entrada pelo Brasil? A outra opção seria por terra, mas antes a tropa venezuelana teria que cruzar a fronteira com o Brasil para, então, entrar em terras da Guiana.
Venezuela leva vantagem em capacidade militar. A Venezuela possui aproximadamente 123 mil militares distribuídos em várias ramificações, equipados com uma variedade de veículos militares, incluindo 173 tanques de batalha principais (MBTs), como AMX-30V e T-72B1, bem como veículos de reconhecimento, veículos de combate de infantaria (IFVs) e veículos de transporte de pessoal blindados (APCs).
Guiana tem cerca de 3.000 soldados. O país é equipado com veículos de combate, mas em muito menor número.
Brasil preocupado com o conflito. Em meio às tensões na região, o Exército brasileiro colocou cerca de 130 militares para monitorar a fronteira venezuelana na última semana, e afirmou estar "preocupado" com o "clima de tensão".
Comunidade internacional também desempenha papel importante em desencorajar qualquer ação militar. Diante da disparidade na capacidade militar, é importante reconhecer que a Venezuela, se desejasse invadir a Guiana, teria essa capacidade. No entanto, o fato de a Venezuela alardear o referendo e a decisão da CIJ de rejeitar a organização da consulta popular indicam que uma invasão não é o caminho escolhido.
Vitória do 'sim' em referendo
95% de apoio. Eleitores na Venezuela rejeitaram a jurisdição da CJI sobre a disputa territorial do país com a Guiana e apoiaram a criação de um novo estado na região de Essequibo.
Participação "esmagadora". O presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela, Elvis Amoroso, anunciou que a participação popular foi "esmagadora" e ultrapassou os 10,5 milhões de votos para "Sim". Existem mais de 20 milhões de eleitores elegíveis no país.
Território rico em petróleo e recursos naturais
Essequibo tem 160 mil km², o equivalente a 70% da Guiana, e é administrada pelo presidente do país, Irfaan Ali. O local é uma região de mata densa onde foram descobertas reservas de petróleo em 2015. Desde então, é o país da América do Sul que mais cresceu.
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Quero receberTerritório é rico em recursos naturais. Hoje, a Guiana tem uma reserva estimada em 11 bilhões de barris, o que equivale a cerca da 75% da reserva brasileira de petróleo e supera as reservas do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos. Isso está trazendo muito dinheiro ao país e acelerando o seu crescimento, e chamou a atenção de Maduro —que afirma que a zona marítima em frente ao Essequibo é, na verdade, da Venezuela.
*Com RFI
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