Prisão mais perigosa do Equador revista até funcionários, mas fugas seguem

O UOL teve acesso à área de revista da Penitenciária do Litoral, a prisão mais perigosa do Equador. Ela fica em Guayaquil e registrou cerca de 470 assassinatos desde o ano 2000.

O que aconteceu

O estopim da onda de violência no Equador está ligado à Penitenciária do Litoral, de onde fugiu Fito. Os assassinatos e atentados a bomba que levaram o governo a decretar estado de exceção seguiram a fuga de José Adolfo Macías Villamar no domingo. Chamado de Fito, ele é criminoso mais procurado do país.

A reportagem chegou à penitenciária quando os agentes do turno da noite de sexta para sábado se apresentavam. Homens e mulheres vestindo uniforme da polícia penal ou do Exército espancavam um portão de aço produzindo um som metálico que servia de campainha.

O porteiro abre o portão com uma mão na maçaneta e outra na pistola. A cor preta ou estampa camuflada, características dos uniformes, tranquilizavam o funcionário. A vestimenta, porém, não garante passe livre.

A liberação só é feita após a revista. Os agentes paravam na frente de um banco e se posicionavam. Abriam braços e pernas esperando funcionários do controle de entrada fazerem o serviço deles. Comprovado que não carregavam drogas ou celulares, seguiam caminho.

O mesmo procedimento acontecia com quem saía. Desta forma, evita-se que bilhetes e outras formas de comunicação sejam contrabandeados para o mundo externo.

A disciplina e rigidez existem só no papel: seis presos escaparam na última noite. Os mesmos agentes que foram revistados na entrada não deram conta de impedir que pulassem o muro.

As forças de segurança informaram que recapturaram duas pessoas. Os demais tiveram o mesmo destino que Fito em sua fuga recente: a liberdade.

O método de revista lembra o de aeroportos, mas o contexto implica em muitas diferenças. Até a comida é inspecionada. Ou seja, os agentes e os militares têm o mesmo tratamento que parentes de presos.

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Rigidez em cartazes e práticas, mas fugas seguem

Cartazes nas paredes sugerem disciplina rígida. Um mural avisa que é proibido entrar com roupa laranja, preta, cinza e assim por diante. A lista tem mais cores que o arco-íris.

As visitas só podem usar azul para se diferenciarem das roupas dos presos. A explicação é do porteiro, num raro momento de balbuciar algumas palavras. Os agentes não conversam entre si.

Militares e policiais penais caminhavam para o interior do complexo sem cumprimentar os demais. A reportagem tentou seguir alguns deles, mas foi impedida. Também houve proibição de fotos.

O UOL encontraria um complexo com 12 pavilhões caso pudesse prosseguir. A capacidade combinada de todos é de 5 mil vagas. Mas os prédios abrigam 10 mil pessoas, quase um terço da população carcerária de 32 mil detentos do Equador.

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A ala mais conhecida é chamada de A Rocha. É para lá que são transferidos os chefes de organizações criminosas. Fito já havia escapado deste pavilhão em 2013.

Forças de segurança do Equador recapturam dois fugitivos; quatro não foram encontrados
Forças de segurança do Equador recapturam dois fugitivos; quatro não foram encontrados Imagem: Reprodução X

A frente de todo este aparato de segurança, há algumas tendas. A estrutura das construções lembra um acampamento de fugitivos de guerra. O acesso à cadeia é feito pela avenida que leva ao porto de Guayaquil e que passa colada a entrada da penitenciária.

Quando Fito fugiu, policiais vasculharam até os esgotos. Foram recrutados 3 mil policiais para as buscas, que até hoje seguem sem sucesso.

Fachada da penitenciária mais perigosa do Equador, em Guayaquil
Fachada da penitenciária mais perigosa do Equador, em Guayaquil Imagem: Felipe Pereira/UOL

Segurança máxima não impede controle pelos presos

A Penitenciária do Litoral é controlada pelos próprios presos. São eles que determinam a rotina nos pavilhões. Divergências são resolvidas por meio de violência.

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O número de assassinados no complexo é de cerca de 470 somente neste século. As mortes ocorrem porque cada organização criminosa controla um pavilhão. A disputa na rua é importada para cadeia.

Houve 10 massacres a partir de 2021. Os números da matança são imprecisos por causa da desorganização da administração penitenciária. Num único episódio, 119 foram executados.

No sétimo massacre da série, foi informado inicialmente 31 vítimas. Mais tarde a polícia reduziu de forma drástica o saldo macabro.

O novo dado apontou 11 mortes. A confusão foi atribuída a serem encontrados 29 "fragmentos anatômicos" resultantes de esquartejamentos.

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