Violência fecha hospitais em Guayaquil e somente casos graves são atendidos

Os pacientes que procuram atendimento nos hospitais de Guayaquil são recebidos por um guarda com espingarda atravessada no peito. A onda de violência fez a cidade fechar estas unidades de saúde.

O que aconteceu

Todos os portões dos hospitais são fechados. Cada entrada é vigiada por, pelo menos, uma dupla de vigilantes armados com espingarda e revólver - mesmo aparato dos funcionários de carro forte no Brasil.

Visitas só são permitidas após consulta ao cadastro de pessoas autorizadas. Os familiares podem entrar nos hospitais às 14 horas (horário local) e ficar no máximo uma hora.

Carros não são permitidos porque o estacionamento está interditado. Os parentes deixam os veículos nas imediações e chegam caminhando até o portão.

Os exames não foram cancelados. Mas é preciso mostrar a guia para provar que estava agendado. Documentos de identidade são solicitados para conferir que se trata da pessoa correta.

Um criminoso internado foi morto por integrantes da gangue rival. Eles entraram vestidos de médico, executaram a vítima e acertaram um tiro na perna da namorada, que estava junto no quarto no momento.

Paciente com exame marcado é autorizado a entrar no hospital de Guayaquil
Paciente com exame marcado é autorizado a entrar no hospital de Guayaquil Imagem: Felipe Pereira/UOL

Vigilância armada garante segurança nos hospitais

Emerson Laborde é o vigilante que controla o acesso ao Hospital Henrique Ortega Moreira. A voz dele sai abafada por causa da máscara que esconde o rosto. As mãos não soltam a arma.

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O guarda trabalha em Durán, uma cidade onde as organizações criminosas disputam na bala cada palmo de chão. O município faz parte da região metropolitana de Guayaquil e é considerado um dos locais mais perigosos do Equador.

O guarda explica que só podem entrar no hospital casos de extrema emergência: fraturas expostas causadas por acidentes domésticos, vítimas do trânsito e baleados.

Falta de sorte do taxista Oscar Villanueva, que sentia "apenas" febre alta, de acordo com a resposta do guarda. O estado de saúde não se enquadra na lista de enfermidades atendidas no hospital atualmente e a qual Emerson segue com disciplina militar.

O vigilante justifica que estes pacientes podem ser medicados nos postos de saúde. Foi para uma destas unidades que Oscar precisou seguir, ainda que a contragosto.

Emerson conta que a regra é esta porque na região metropolitana de Guayaquil está em "código prata". Este mecanismo altera uma série de procedimentos nos hospitais e foi acionado por causa da onda de violência.

Emerson trabalha com a espingarda atravessada no peito e com o rosto escondido por uma máscara
Emerson trabalha com a espingarda atravessada no peito e com o rosto escondido por uma máscara Imagem: Felipe Pereira/UOL
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Pacientes reclamam do código prata

Pessoas doentes precisando se justificar para serem atendida e a situação gera descontentamento. O taxista Oscar Villanueva ficou irritado por estar argumentando com o vigilante sob o sol do verão e sentindo a cabeça girando por causa da febre. Ao final, resignado, disse entende a excepcionalidade do momento.

Encarregado de aplicar o código prata, Emerson conta que também sofre as consequências da medida. Primeiro, porque se vê desempenhando um papel desagradável. Mas o principal problema é outro. Por medo de ser assassinado, Emerson não sai mais na rua com uniforme. Chega mais cedo ao hospital para colocar a roupa de trabalho, que inclui uma máscara para esconder o rosto.

O vigilante foi obrigado a aumentar o seu turno. Antes, Emerson entrava às 6 horas da manhã e saia no final da tarde, depois de 12 horas de trabalho. Agora, a escala é de 24/24. Ou seja, ele trabalha um dia e folga outro. O vigilante diz que corpo não está acostumado com esta rotina e está reclamando. Em caso de doença, não poderá ser atendido no hospital ao qual protege.

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