'Freezer marcava -15ºC e, lá fora, -40ºC': a vida de brasileiros no Canadá

A influenciadora e designer de marcas Jhuly Leal, 27, e o estudante Gabriel Santarem, 29, chegaram a Calgary, no Canadá, há seis meses, quando ainda era verão e a temperatura chegava a 30°C. Naturais de Nova Friburgo (RJ), o casal, pais de duas crianças — de 2 e 8 anos — enfrentaram a onda de frio com temperaturas recordes que atingiu os Estados Unidos e o Canadá entre dezembro e janeiro deste ano.

Os termômetros registraram a marca de -50°C com ventos frios, o que fez com que o governo emitisse alerta para grande parte das províncias. Acostumados com o "friozinho de serra", Jhuly e Gabriel tiveram que readaptar a rotina, comprar novas roupas e até mudar os planos. Ao UOL, eles contaram o que aprenderam sobre o inverno de temperaturas extremas.

Família viu janela criar 'crosta' de gelo e pelos do rosto ficarem congelados
Família viu janela criar 'crosta' de gelo e pelos do rosto ficarem congelados Imagem: Arquivo pessoal

Tem que acordar mais cedo. "Se antes demorávamos 15 minutos para sair de casa, nesse inverno leva 45. Demanda mais tempo. Temos que preparar cada camada de roupa e ligar o carro uns dez minutos antes, porque o motor demora para funcionar. Além de estudar, também trabalho como entregador e no inverno tem um gasto maior de gasolina — e um número maior de pedidos, porque ninguém quer sair de casa", diz Gabriel.

Ter carro é necessidade. Não tínhamos planejado comprar um carro agora, só depois do inverno. Mas, quando teve a primeira neve em outubro, a gente viu realmente que não sobreviveríamos sem um carro. No dia de frio extremo, a temperatura era -45ºC. O trem principal parou e as pessoas tinham que pegar ônibus. Fiquei 15 minutos na rua esperando o ônibus chegar e já foi suficiente para sentir os meus dedos dos pés começarem a congelar, mesmo com meia. Compramos um carro porque não tem como andar em dias de frio extremo na rua sem um aquecedor", diz Gabriel.

Dói respirar na rua e temperatura é mais baixa do que a do freezer. "Não dá para andar na rua. Os pelos do nariz congelam e parece que a nossa respiração faz o corpo doer. Ir a pé até ao mercadinho da própria rua é difícil. Em casa, as janelas estavam com gelos na parede. Mesmo com aquecedor, tinha essa crosta. Nosso freezer marcava -15ºC e, lá fora, -40ºC. Ou seja, a temperatura ambiente era menor que o próprio freezer. Meu cachorro não queria sair de casa, ele ficou três semanas sem colocar o pé na rua. É carioca", diz Jhuly.

A roupa realmente congela. "A gente quis fazer algumas experiências e uma delas era com a roupa. O que será que acontece se deixarmos a roupa no varal lá fora? E ela congela mesmo", diz Jhuly.

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Racionamento de energia faz parte. "Recebemos no celular um alerta para risco de queda de energia em decorrência do clima. Foi um susto não só para a gente, mas também para quem mora aqui há anos. Vimos que as pessoas realmente contribuíram. Os prédios ficaram apagados. Aqui em casa, não usávamos o fogão e tomávamos banhos rápidos, por exemplo", diz Jhuly.

Nem o sol esquenta. "Teve dias com frio, mas sem neve. No dia que fez -45ºC o tempo estava aberto, tinha sol, mas ninguém conseguia sentir ele. Era tão frio que não dava para sentir nenhum calor vindo do sol. Ele só estava ali iluminando o dia mesmo", diz Jhuly.

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