Campanha fracassou: por que Kamala não venceu Biden nas prévias de 2020?
Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos, surgiu como principal nome do partido Democrata para as eleições de novembro após o anúncio de desistência do atual presidente Joe Biden. Em 2020, os políticos eram rivais nas prévias do partido, que culminaram na indicação de Biden como candidato dos democratas.
Kamala em 2020
Em 2020, a então senadora Kamala Harris decidiu lançar seu nome como candidata a representante do partido Democrata para as eleições presidenciais. Depois de anunciar seu desejo de concorrer à presidência, Kamala viu sua popularidade crescer e estreou nas pesquisas atrás somente dos concorrentes Joe Biden e Bernie Sanders.
Posicionamento firme no Senado. Um dos principais pontos que rendiam elogios a Kamala era sua postura em momentos como sabatinas no Senado norte-americano. Em 2018, Kamala havia ganhado destaque nacional ao questionar Brett Kavanaugh, indicado por Trump para a Suprema Corte enquanto era acusado de assédio sexual. O juiz foi aprovado pelo Senado, mas a sabatina dura de Kamala foi lembrada durante as prévias democratas. Nos debates com os demais candidatos democratas, Kamala manteve a postura vista no Senado.
Popularidade caiu ao longo da campanha. Depois de figurar em terceiro lugar entre os nomes democratas, Kamala perdeu popularidade gradualmente e caiu para sexto lugar, com apoio de somente 2% do eleitorado.
Campanha acabou fracassada. De acordo com a imprensa norte-americana, diferentes fatores fizeram com que Kamala desistisse de seguir nas prévias democratas, como a falta de um posicionamento ideológico claro, a desconfiança por parte dos democratas, a arrecadação financeira insuficiente e uma campanha considerada irregular.
Os problemas que levaram à desistência de Kamala
Falta de verba para seguir na campanha. Segundo a agência de notícias Reuters, a senadora declarou que dificuldades financeiras a impediam de continuar concorrendo nas prévias de 2020. Em e-mail enviado a apoiadores após anunciar sua decisão, Kamala teria dito: "Minha campanha para presidente simplesmente não tem os recursos financeiros que nós precisamos para continuar. Eu não sou bilionária. [...] Conforme a campanha foi acontecendo, ficou cada vez mais difícil arrecadar o dinheiro que precisamos para competir". A falta de verba teria impactado principalmente a divulgação da candidata nas mídias locais dos estados que poderiam apoiar sua candidatura.
Falta de posicionamento político. De acordo com a mídia norte-americana, a campanha de Kamala não soube definir e transmitir o posicionamento da senadora: se seria uma postura progressista ou mais moderada. O resultado foi uma identidade ideológica considerada frágil em quesitos fundamentais, como o sistema de saúde norte-americano. Enquanto os demais candidatos democratas conseguiam defender suas ideias, Kamala estava "à esquerda dos centristas e à direita daqueles da esquerda", conforme descrito pelo portal de notícias Vox.
Falta de coerência entre a equipe de campanha. Conflitos internos impactaram diretamente na campanha de Kamala. O então gerente da campanha Juan Rodriguez e Maya Harris, irmã de Kamala e parte da equipe de assessores, protagonizavam atritos frequentes e passavam orientações conflitantes tanto para o restante da equipe quanto para a própria Kamala. Os conselhos conflitantes e até mesmo diferenças em ideologias dentro da equipe transpareceram na campanha como um todo. Uma carta da assessora Kelly Mehlenbacher, publicada em novembro de 2019, viralizou ao criticar a campanha de Kamala.
Essa é a minha terceira campanha presidencial e eu nunca vi uma organização tratar tão mal sua equipe. Apesar de ainda acreditar que a senadora Harris é a candidata mais forte para vencer as eleições gerais de 2020, eu não tenho mais confiança na nossa campanha ou mesmo em sua liderança. O tratamento recebido pela nossa equipe nas últimas duas semanas foi a gota d'água para essa difícil decisão
Trecho da carta de Kelly Mehlenbacher sobre a campanha de Kamala em 2020
Falta de apoio por parte do eleitorado democrata. O conjunto de fatores negativos causou a desconfiança do eleitorado e se juntou a ataques dos rivais dentro das prévias democratas. Bernie Sanders e Joe Biden, por exemplo, uniram forças para escancarar as fragilidades da campanha de Kamala.
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Quero receberCenário está mais favorável em 2024. Quatro anos depois da desistência, Kamala enfrentará um cenário diferente para se consagrar candidata democrata. Segundo especialistas, o apoio de Biden dá ampla vantagem a Kamala, que tem mais experiência política após ocupar o cargo de vice-presidente nos últimos anos.
Imagem é mais jovem e energética. A idade de Kamala é vista como um ponto positivo pelos democratas, já que a campanha do rival Trump insistia em ironizar Joe Biden pela sua idade e gafes recentes. Kamala tem 59 anos, Joe Biden, 81 e Donald Trump, 78.
Ela tem maior aceitação em grupos fundamentais. Segundo sondagem da rede CNN, Kamala tem índices melhores do que Biden entre mulheres, negros, latinos, jovens e eleitores considerados independentes [aqueles que não têm inclinação fixa ao partido Republicano e nem ao Democrata).
Trajetória de sucesso na política dos EUA
A trajetória de Kamala é marcada por feitos históricos. Ao assumir como vice-presidente no início de 2021, Kamala se tornou a primeira mulher e a primeira pessoa negra e de origem asiática a ocupar o cargo no país. A democrata cresceu em meio a discussões sobre os direitos civis ao lado do pai jamaicano, professor de economia na renomada Universidade de Stanford, na Califórnia, e de sua mãe indiana, que se tornou pesquisadora sobre o câncer de mama nos EUA.
Carreira política teve início na Califórnia. Kamala estudou na Universidade de Howard, fundada em Washington para acolher estudantes negros. Após dois mandatos como promotora distrital em São Francisco (de 2004 a 2011), foi eleita duas vezes procuradora-geral da Califórnia (de 2011 a 2017), tornando-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra a chefiar os serviços judiciais do estado mais populoso do país.
Em janeiro de 2017, tomou posse no Senado em Washington. Kamala se tornou a primeira mulher do sul da Ásia e a segunda senadora negra da história. Já vice-presidente, dedicou seu discurso de vitória às mulheres que lutaram pela igualdade no país.
Como fica agora
Desistência de Biden abre caminho para Kamala. Em carta publicada nas redes sociais, o atual presidente dos EUA Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição nas eleições de novembro contra o candidato republicano Donald Trump. Em seu anúncio, Biden declarou apoio a Kamala Harris.
Ela também tem apoio de nomes importantes no partido. Além de Biden, o ex-presidente Bill Clinton, a ex-candidata à presidência Hillary Clinton, Gavin Newsom e Josh Shapiro, governadores da Califórnia e da Pensilvânia, declararam apoio à candidatura de Kamala. Já o ex-presidente Barack Obama, cujo vice foi justamente Joe Biden, agradeceu o atual líder pelo trabalho, mas não declarou publicamente seu apoio a Kamala.
Nome será definido na Convenção Democrata. O adversário de Donald Trump será oficializado somente na Convenção Nacional Democrata, que acontecerá em 19 de agosto, em Chicago.
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