Conteúdo publicado há 1 mês

'Vou respeitar o resultado oficial', diz Maduro sobre eleições na Venezuela

Nicolás Maduro, que disputa hoje a reeleição na Venezuela, disse neste domingo (28) pela primeira vez que irá respeitar o resultado das urnas na disputa contra o opositor Edmundo Urrutia, que aparece como favorito nas pesquisas. Herdeiro do chavismo, que tem perdido a popularidade desde a morte de Hugo Chávez, ele é o presidente do país desde 2013.

O que aconteceu

Maduro diz que vai respeitar as urnas. Questionado em entrevista coletiva após votar, o presidente venezuelano falou pela primeira vez que irá reconhecer o resultado das eleições.

Ele chegou a se irritar ao ser questionado novamente se iria mesmo reconhecer o resultado das eleições. Em seguida, perguntou qual era o nome da repórter e em que veículo ela trabalhava. "Eu creio que você não me escutou. Sou Nicolás Maduro, presidente, e reconheço o árbitro eleitoral. O que ele disser será reconhecido, defendido pelas Forças Armadas e por nosso povo".

Contudo, presidente venezuelano diz que sua vitória nas eleições "é a única opção de paz". "Somos a garantia de paz. A única [opção] que tem esse país para seguir construindo e poder ver o surgimento no horizonte de uma Venezuela mais democrática". Ele disse ainda que o país irá se organizar politicamente com base em debate permanente com a sociedade.

Maduro diz enfrentar o "capitalismo selvagem dos multimilionários". Ele ainda prometeu uma guinada na economia da Venezuela. "Sou um homem de palavra e comprometido com país a aprofundar mecanismos de diálogo, consenso e harmonia", disse.

Presidente venezuelano diz que sofre perseguição internacional e pede respeito ao sistema eleitoral do país. "Foi uma campanha eleitoral livre, aberta e sem incidentes. O único candidato perseguido se chama Nicolás Maduro, perseguido internacionalmente. Em nível internacional, o que pedimos é respeito à Venezuela e ao seu sistema eleitoral".

Vamos votar e participar de um processo eleitoral que seja confiável, transparente e seguro, protegido pela Força Nacional. Vamos respeitar o resultado eleitoral e esperar que nada manche esse dia de paz, de festa eleitoral e de participação popular.
Nicolás Maduro

Nos últimos dias, Maduro deixou dúvidas se aceitaria eventual derrota. No dia 18 de julho, o líder chavista disse que o resultado das eleições será crucial para evitar conflitos. "Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida causada pelos fascistas, precisamos garantir a maior vitória da história eleitoral do nosso povo. Quanto mais contundente for a vitória, mais garantias de paz vamos ter", declarou.

Principal candidato da oposição pediu respeito ao resultado das urnas. Edmundo Urrutia pediu às Forças Armadas que protejam a Constituição e garantam o respeito à "decisão do povo soberano". "Convido-os a uma nova fase que começará em nosso país, na qual novamente terão um papel de destaque", afirmou o político no último dia 5.

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O que disse Nicolás Maduro

Vou respeitar o resultado oficial das eleições e o processo eleitoral (...). Há uma Constituição, e a lei tem que ser respeitada. Sou Nicolás Maduro, presidente do povo e reconhecerei a palavra santa do árbitro eleitoral.

Vamos unir o país com um projeto econômico, social, cultural e político, para que possamos construir um sólido projeto de futuro em um sonho compartilhado por toda a Venezuela de que o país será uma potência emergente da América do Sul nos próximos anos. A Venezuela assombrará o mundo com a economia que estamos construindo, que gerará riqueza e abastecerá o país com a sua vocação exportadora.

Estamos vivendo em uma nova época de transição ao capitalismo selvagem com o poder de um grupo de multimilionários que dominam o mundo. Com uma transição mais democrática, chegamos ao socialismo. A minha escola é o diálogo, o debate, a negociação e a diplomacia, com mais participação do povo do que dos partidos. Aprendi a força do poder da palavra no movimento sindical e com o comandante Chávez.

Como são as eleições

Cerca de 21 milhões de pessoas poderão ir às urnas neste domingo (28) para decidir quem será o próximo presidente da Venezuela. O eleito deverá governar o país entre 2025 e 2031.

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Voto não é obrigatório e não há segundo turno. A população poderá comparecer aos locais de votação das 6h às 18h (das 5h às 17h pelo horário de Brasília). O resultado deve ser divulgado até a madrugada de segunda-feira (29), segundo o governo venezuelano.

Maduro concorre com outros nove candidatos. É a primeira eleição desde 2015 em que toda a oposição topou participar do pleito. Desde 2017, os principais partidos de oposição vêm boicotando as eleições nacionais. Para especialistas, o chavismo, que domina a política venezuelana desde 1999, enfrenta sua eleição mais difícil neste ano.

Quem é Maduro

Ele quer ser visto como "presidente trabalhador". Ex-motorista de ônibus e líder sindical, o político de 61 anos explora as imagens de "homem do povo" e "presidente trabalhador", como gosta de ser chamado. Maduro é casado com a advogada Cilia Flores, que exerce grande influência nos bastidores da política. Ele também é pai do político e economista "Nicolasito", apelidado assim por ter o mesmo nome do pai.

Presidente busca terceiro mandato, representando o Partido Socialista Unido da Venezuela. Maduro foi nomeado por Hugo Chávez como seu sucessor e foi eleito presidente pela primeira vez em 2013. Em 2018, foi reeleito em um pleito boicotado pela oposição e não reconhecido por 50 países. Formado em Cuba, Maduro foi parlamentar, chanceler e vice-presidente de Chávez (1999-2013).

Acusações de ditadura. O presidente é criticado por governar o país com mãos de ferro. Maduro é investigado pela Corte Internacional de Justiça por crimes contra a humanidade, após seu governo reprimir durante manifestações da população em 2017, deixando centenas de mortos.

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Quem é Urrutia, o principal opositor

Edmundo González Urrutia, principal candidato da oposição, é diplomata. O candidato de 74 anos é formado em Estudos Internacionais pela Universidade Central de Venezuela e mestre em relações internacionais.

Trabalhou como diplomata na Bélgica e nos EUA, e foi embaixador da Venezuela na Argélia (1991-1993) e na Argentina (1998-2002). Urrutia é casado com Mercedes López, que conheceu durante a faculdade, e é pai de duas meninas, Mariana e Carolina. O candidato participou de conferências e grupos de estudo voltados às relações internacionais, e publicou livros sobre o assunto.

Candidato entrou na corrida eleitoral de última hora. Sua nomeação pela coalização Plataforma Democrática Unitária (PDU) foi inicialmente temporária, pois a candidatura seria da ex-deputada liberal María Corina Machado, que venceu as primárias da oposição em 2023. Mas a representante do antichavismo está impedida pela Justiça de ocupar cargos públicos. Agora, Urrutia representa a coalizão formado por 11 partidos de centro-esquerda e centro-direita.

Urrutia tinha participação nos bastidores da política até então. O candidato fez parte da Mesa Redonda da Unidade Democrática, que promoveu coalizão entre partidos democráticos da Venezuela, formando oposição contra Maduro. Entre 1993 e 1998, atuou na Direção de Política Internacional do Ministério de Relações Exteriores. Para especialistas, um dos maiores desafios de Urrutia é se tornar um rosto conhecido entre os eleitores, já que sempre esteve nos bastidores.

Situação na Venezuela

País passou por crise após bloqueio financeiro e comercial. Em 2017, potências como Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia passaram a não reconhecer a legitimidade do governo Maduro e impuseram bloqueios comerciais e econômicos. Neste período, o país enfrentou hiperinflação e perda de cerca de 75% do PIB, o que resultou em uma migração de mais de 7 milhões de pessoas.

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Em 2021, o país começou a demonstrar alguma recuperação econômica. A hiperinflação foi derrotada e a economia voltou a crescer em 2022 e 2023, porém os salários continuam baixos e os serviços públicos deteriorados.

Apesar da recente recuperação, muitas famílias ainda passam fome. Cerca de 5 milhões de pessoas —ou 17,6% da população total do país— não está recebendo comida suficiente, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas). A Venezuela tem o segundo maior nível de fome na América do Sul, atrás apenas da Bolívia. O governo culpa as sanções dos EUA por suas dificuldades econômicas.

Presidente desde 2013, Maduro deu amplo poder aos militares. As Forças Armadas controlam não só as armas, mas também empresas de mineração, petróleo e distribuição de alimentos, além de alfândegas e ministérios importantes. Para a oposição, que denuncia redes de corrupção que enriqueceram muitos oficiais, a politização começou com o falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013).

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