Venezuelanos vão às urnas em clima de tensão e incerteza
Cerca de 21 milhões de pessoas poderão ir às urnas neste domingo (28) para decidir quem será o próximo presidente da Venezuela, que deverá governar o país entre 2025 e 2031.
O que aconteceu
Voto não é obrigatório e não há segundo turno. Mais de 20 milhões de pessoas poderão comparecer aos locais de votação das 6h às 18h (das 5h às 17h, no horário de Brasília) neste domingo. O resultado deve ser divulgado até a madrugada de segunda-feira (29), segundo o governo venezuelano.
Nicolás Maduro, atual presidente, concorre com outros nove candidatos. Esta é a primeira eleição desde 2015 em que toda a oposição topou participar do pleito. Desde 2017, os principais partidos de oposição vêm boicotando as eleições nacionais. Para especialistas, o chavismo, que domina a política venezuelana desde 1999, enfrenta sua eleição mais difícil neste ano.
Maduro deixa dúvidas se aceitará eventual derrota. No dia 18 de julho, o líder chavista disse que o resultado das eleições será crucial para evitar conflitos. "Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida causada pelos fascistas, precisamos garantir a maior vitória da história eleitoral do nosso povo. Quanto mais contundente for a vitória, mais garantias de paz vamos ter", declarou.
Principal candidato da oposição pediu respeito ao resultado das urnas. Edmundo González Urrutia pediu às Forças Armadas que protejam a Constituição e garantam o respeito à "decisão do povo soberano". "Convido-os a uma nova fase que começará em nosso país, na qual novamente terão um papel de destaque", afirmou o político no último dia 5.
Principais candidatos
Nicolás Maduro quer ser visto como "presidente trabalhador". Ex-motorista de ônibus e líder sindical, o político de 61 anos explora as imagens de "homem do povo" e "presidente trabalhador", como gosta de ser chamado. Maduro é casado com a advogada Cilia Flores, que exerce grande influência nos bastidores da política. Ele também é pai de do político e economista "Nicolasito", apelidado assim por ter o mesmo nome do pai.
Presidente busca terceiro mandato, representando o Partido Socialista Unido da Venezuela. Maduro foi nomeado por Hugo Chávez como seu sucessor e foi eleito presidente pela primeira vez em 2013. Em 2018, foi reeleito em um pleito boicotado pela oposição e não reconhecido por 50 países. Formado em Cuba, Maduro foi parlamentar, chanceler e vice-presidente de Chávez (1999-2013).
Acusações de ditadura. O presidente é criticado por governar o país com mãos de ferro. Maduro é investigado pela Corte Internacional de Justiça por crimes contra a humanidade, após seu governo reprimir durante manifestações da população em 2017, deixando centenas de mortos.
Edmundo González Urrutia, principal candidato da oposição, é diplomata. O candidato de 74 anos é formado em Estudos Internacionais pela Universidade Central de Venezuela e mestre em relações internacionais. Trabalhou como diplomata na Bélgica e nos EUA, e foi embaixador da Venezuela na Argélia (1991-1993) e na Argentina (1998-2002). Urrutia é casado com Mercedes López, que conheceu durante a faculdade, e é pai de duas meninas, Mariana e Carolina. O candidato participou de conferências e grupos de estudo voltados às relações internacionais, e publicou livros sobre o assunto.
Candidato entrou na corrida eleitoral de última hora. Sua nomeação pela coalização Plataforma Democrática Unitária (PDU) foi inicialmente temporária, pois a candidatura seria devolvida à ex-deputada liberal María Corina Machado, que venceu as primárias da oposição no ano passado. Contudo, Machado, grande representante do antichavismo no país, está impedida de ocupar cargos públicos por uma decisão da justiça. Agora, Urrutia representa a coalizão formado por onze partidos de centro-esquerda e centro-direita.
Urrutia tinha participação nos bastidores da política até então. O candidato fez parte da Mesa Redonda da Unidade Democrática, que promoveu coalizão entre partido democráticos da Venezuela, formando oposição contra Maduro. Entre 1993 e 1998, atuou na Direção de Política Internacional do Ministério de Relações Exteriores. Para especialistas, um dos maiores desafios de Urrutia é se tornar um rosto conhecido entre os eleitores, já que sempre esteve nos bastidores.
O que dizem as pesquisas
Pesquisas divergem sobre resultado das eleições. Enquanto algumas enquetes dão a vitória com ampla margem ao principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, outros levantamentos apontam para uma vitória do atual presidente Nicolás Maduro, também com uma margem confortável.
Pesquisa aponta Urrutia com 58,1% das intenções de voto, e Nicolás Maduro com 24,6%. Os que não sabem representam 9,2% e 2,8% das pessoas não escolheu nenhum dos candidatos. A pesquisa foi feia pelo Instituto Delphos entre 5 e 11 de julho com 1.200 pessoas. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos. Os Institutos Datincorp e Meganálisis também apontam para vitória da oposição.
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Quero receberOutros institutos indicam que Maduro tem maior intenção de voto. As análises do Centro de Medição e Interpretação de Dados Estatísticos (Cmide), do Hinterlaces e do Internacional Consulting Services (ICS) apontaram que Maduro deve ser reeleito, segundo a Telesur, veículo de imprensa estatal do país.
Outros oito candidatos participam da eleição, mas não têm chances reais na disputa. Antonio Ecarri, Benajmín Rausseo, Claudio Fermín, Daniel Ceballos, Enrique Márquez, Javier Bertucci, José Brito e Luis Eduardo Martínez, somados, têm menos de 5% da intenção de voto dos eleitores, segundo o Instituto Delphos.
Mais de 80% dos entrevistados dizem que "com certeza" vão votar. Os entrevistados que "talvez" votariam são 12%, e os que "dificilmente" ou "jamais" votariam somam 7,4%, de acordo com a pesquisa do Delphos.
População está incerta sobre quem assumirá o poder. Cerca de 35% dos entrevistados acham que a oposição vencerá a eleição e assumirá o poder, 26,7% pensam que Maduro ganhará e continuará no poder e 20,8% acreditam que a oposição vencerá nas urnas, mas Maduro seguirá no poder. Mais de 14% não sabe quem irá assumir e 2,8% acredita que não haverá eleição.
Especialistas acreditam que pesquisas transmitem pouca confiança. "Desde que Chávez foi presidente, e depois Maduro, os principais institutos de pesquisa erram e favoreceram o voto da oposição", afirmou o economista político e analista venezuelano Luis Salas à Agência Brasil.
Situação na Venezuela
País passou por crise após bloqueio financeiro e comercial. Em 2017, potências como Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia passaram a não reconhecer a legitimidade do governo Maduro e impuseram bloqueios comerciais e econômicos. Neste período, o país enfrentou hiperinflação e perda de cerca de 75% do PIB, o que resultou em uma migração de mais de 7 milhões de pessoas.
Em 2021, o país começou a demonstrar alguma recuperação econômica. A hiperinflação foi derrotada e a economia voltou a crescer em 2022 e 2023, porém os salários continuam baixos e os serviços públicos deteriorados.
Apesar da recente recuperação, muitas famílias ainda passam fome. Cerca de 5 milhões de pessoas — ou 17,6% da população total do país — não está recebendo comida suficiente, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas). A Venezuela tem o segundo maior nível de fome na América do Sul, atrás apenas da Bolívia. O governo culpa as sanções dos EUA por suas dificuldades econômicas.
Presidente desde 2013, Maduro deu amplo poder aos militares. As Forças Armadas controlam não só as armas, mas também empresas de mineração, petróleo e distribuição de alimentos, além de alfândegas e ministérios importantes. Para a oposição, que denuncia redes de corrupção que enriqueceram muitos oficiais, a politização começou com o falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013).
Com AFP, RFI e Agência Brasil
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