Conteúdo publicado há 1 mês

Análise: Oposição a Maduro errou ao não abrir negociação com cúpula militar

A oposição ao regime de Nicolás Maduro cometeu um erro ao não estabelecer pontes com a cúpula das Forças Armadas da Venezuela, avaliou Rafael Villa, professor de ciência política da USP, em participação no UOL News nesta sexta (2).

Tem que haver o apoio não das Forças Armadas, mas de sua cúpula. Aqui, houve um erro estratégico por parte da oposição venezuelana desde meses atrás, quando não tentou abrir canais de negociação com a cúpula militar venezuelana.

Se a cúpula militar prefere ficar neutra, Maduro não terá outro recurso a não ser mostrar as atas. Isso é possível, mas a oposição tem que abrir imediatamente estes canais de negociação com as Forças Armadas, cuja cúpula é um ator político e, neste momento, faz parte do chamado bloco do poder.

É totalmente factível. Os setores médios das Forças Armadas, como os soldados, fazem parte da Venezuela empobrecida. É falsa esta ideia de que o apoio das Forças Armadas em relação é monolítico. O que mantém o chavismo e o madurismo no poder é o apoio da força militar e policial. Nos setores sociais mais pobres, parecem ter perdido o apoio. Rafael Villa, professor de ciência política da USP

Villa, que nasceu na Venezuela e mora há 36 anos no Brasil, classificou como um "erro terrível" o comunicado dos EUA no qual o país reconhece a vitória do opositor Edmundo González Urrutia —e que irritou Maduro. Para o professor, a atitude norte-americana compromete o esforço diplomático de Brasil, Colômbia e México para estabelecer interlocução com o regime do ditador venezuelano.

A única maneira de solucionar esse impasse é o Conselho Nacional Eleitoral mostrar oficialmente as atas, e dois fatores podem ajudar nisso: a pressão diplomática e a mobilização popular.

Foi muito bem-vindo e contundente o comunicado conjunto de México, Brasil e Colômbia, que insta o CNE a mostrar os resultados das eleições. Foi um erro terrível por parte da diplomacia americana não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro. Isso enfraquece o esforço diplomático feito por estes três países.

Em outros pleitos vencidos pelo chavismo, não houve protestos populares. Neste momento, há importantes protestos em mais de 300 cidades, que também podem pressionar internamente o governo a mostrar essas atas. Rafael Villa, professor de ciência política da USP

Tales: Estratégia de Maduro é transformar conflito na Venezuela em global

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Ao subir o tom contra opositores e anunciar a prisão de 1.200 pessoas, o ditador Nicolás Maduro deixa claro seu plano de fazer da tensão política na Venezuela um conflito internacional, afirmou o colunista Tales Faria.

Maduro já não esconde que comanda um regime ditatorial. Ele tem uma estratégia, e não podemos menosprezar a inteligência dele.

A estratégia é esticar essa corda e transformar esse conflito em algo global. Maduro se sente escudado pela China, que tem interesses econômicos bastante alinhados com a Venezuela e com toda a América Latina, e pela Rússia, que já tem navios de guerra na costa venezuelana. Agora, os EUA se veem obrigados a elevar o nível de reprimenda às atitudes do Maduro. Tales Faria, colunista do UOL

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Opinião

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