Escolha de homem branco como vice de Kamala não é nenhuma surpresa

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Para a surpresa de zero pessoas, a democrata Kamala Harris escolheu um homem branco para compor sua chapa. Só homens brancos concorriam, diga-se de passagem. Surpresa mesmo seria se ela tivesse escolhido um Mitt Romney da vida (que é republicano. Imagina!!!). Mas ela foi de Tim Walz. O que surpreende, mas não muito porque ele vinha que vinha no rolê.

Quem é Tim Walz?

Ele é governador de Minnesota e andava todo trabalhado em frases de efeito para grudar no Trump e no JD Vance. Foi ele que inventou a história de chamá-los de estranhos, que pegou e pegou forte.

Expectativa: que Walz traga os votos da classe trabalhadora branca do Centro Oeste americano onde estão a maioria dos eleitores indecisos.

Currículo: Ele tem 60 anos, criado em pequena cidade do Nebraska. Frequentou escolas públicas e foi professor em Minneapolis. Ele também treinou futebol americano e serviu a Guarda Nacional do Exército por 24 anos. Só entrou na política em 2006, já com mais de 40, quando concorreu a deputado por Minnesota. Foi eleito governador em 2018. Reeleito em 2022.

Os BOs.

Foi criticado por ter demorado a enviar a Guarda Nacional para impedir tumultos e saques nas cidades do estado que se seguiram depois do assassinato de George Floyd

Seu estado é acusado de ter se envolvido nos maiores casos de fraude pandêmica.

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O outro favorito que caiu

Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, era também um franco favorito. Mas nos últimos dias começaram a surgir os BOs fortes dele. Ele comparou os manifestantes que protestavam contra Israel à Ku Klux Klan, parece que meio que jogou para debaixo do tapete as acusações de assédio sexual na sua equipe?. Não deu para ele.

Mas ele será fundamental na campanha na Pensilvânia, considerado o estado que vai decidir a eleição. Analistas já defendiam que Kamala não o escolhesse para ele se concentrar em fazer campanha só lá. Ele tem alto índice de aprovação como governador.

O dia ontem foi de crash global, que sabe Deus como isso vai respingar na campanha eleitoral, mas na mesa das pesquisas deu um crash para o Trump. Kamala passou pela primeira vez o ex-presidente bronzeado, no agregado de todas as pesquisas (das mais sérias às mais picaretas).

Ok, passou por 0,2 ponto. Nem sei se dá para dizer que passou. Então vamos assim: estão empatados.

A campanha de Trump já tratou de difamar até as pesquisas sérias. Em algumas, Kamala abriu uma vantagem de 4 pontos

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Vamos a alguns números de pesquisas específicas que mostram bem como anda essa corrida.

— O Morning Consult diz que Kamala tem 48% e Trump 44%. É o melhor resultado para um democrata em um ano. Entre os eleitores na faixa dos 18 aos 34 anos, Kamala abriu 9 pontos sobre Trump.

— Em apenas duas semanas, Kamala lidera a corrida em oito pesquisas nacionais.

— Nos estados campos de batalha (os tais que os eleitores uma hora votam para os democratas outra hora para os republicanos), algumas pesquisas mostram que Kamala ainda perde na Pensilvânia. Trump lidera por quase 2 pontos. Será que o Shapiro resolve esse probleminha?

— Mas uma nova pesquisa da CBS, que saiu ontem, mostra que os dois estão empatados em todos os estados indecisos, eliminando a liderança de Trump. No nacional, Kamala tem 50% e Trump 49%.

— Até mês passado, Trump liderava a pesquisa CBS/YouGov por 11 pontos entre eleitores independentes. Agora estão empatados. Entre os eleitores negros, Kamala ampliou a preferência de 55% para 63%.

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— Democratas voltam a respirar em Nova York. Biden estava tão mal nas pesquisas que o estado estava desistindo dos democratas. Mas agora saiu a pesquisa Siena College que diz que Kamala tem 53 contra 39 do Trump. A vantagem de 14 pontos ainda é menor do que historicamente os democratas conseguem por lá: algo entre 18 a 30 pontos. Mas é melhor do que a diferença de Biden para Trump que não chegava a 10 pontos.

O crash vai pegar a Kamala?

Ontem se espalhou a história de que os Estados Unidos vão entrar em recessão. O Trump correu para chamar o evento de Kamala Crash. Mas e aí? Isso cola contra a Kamala?

Não tenham dúvidas de que nos próximos 90 dias, os republicanos vão usar qualquer soluço da bolsa para dizer que a culpa é da Kamala.

Vamos primeiro ao pânico de ontem. Teve medo de recessão nos Estados Unidos? Teve. Mas também teve medo de guerra no Oriente Médio. Ok, not good para a Kamala também.

Mas tecnicamente quem fez a coisa degringolar mesmo foi o Japão porque o país está subindo os juros, o iene está se valorizando e isso fez com que um mooooonte de gente graúda tivesse que se desfazer suas posições gigantes de carry trade. Resultado: maior queda da bolsa desde 1987. Mais pânico mundial.

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E existe um certo exagero dizer que os Estados Unidos vão entrar em recessão por conta dos números ruins de emprego, até porque os dados foram contaminados por eventos climáticos e os dados podem mudar de um mês para outro (quase como a bolsa). Mas também é certo que quando as pessoas começam a viver o pessimismo, isso sempre pode jogar o país de fato numa recessão.

E o Banco Central, hein?

Se até agora você não entendeu porque o Lula fica falando mal do Gostosão Geral da República, também conhecido como Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, é só dar uma olhadinha no crash mundial de ontem para entender. É uma tentativa de se vacinar, darling.

Ah, se você quiser conhecer os personagens dessa nossa política doida, corre lá no nosso site lindo: www.tixanews.com.br

Muitos especialistas apontam que o Fed (o banco central americano que também é autônomo) é o principal culpado por manter as taxas de juros nos Estados Unidos altas mesmo com a queda da inflação. E os juros batem no fim das contas é na economia. Mas em uma campanha política quem você acha que é o culpado? Os Republicanos, por exemplo, correram apontar o dedo para a Casa Branca.

Mesmo que Kamala seja só a vice-presidente e não tenha feito nada sobre a questão econômica, vai ser difícil se descolar da herança.

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AVISO.

E Bernie Sanders, o senador democrata, fez uma pesquisa própria (incluindo a Pensilvânia) e está avisando em artigo no The Guardian (dando a dica para a escolha de Walz?):

"Fazer campanha em uma agenda econômica que fale com as necessidades das famílias trabalhadoras é uma fórmula vencedora para Kamala Harris e os democratas em novembro. De fato, é a fórmula que pode dar a Harris o tipo de vitória que varre um Senado e uma Câmara democratas e lhe permite governar na melhor tradição do New Deal de Franklin Roosevelt e do programa Build Back Better de Joe Biden."

Nota. A propósito, os jornais dizem que uma guerra no Oriente Médio seria diferente, já que Kamala teria que participar mais ativamente das atividades na Casa Branca.

Os companheiros do Trump estão começando a ficar meio irritados com ele que só quer falar do gênero e da etnia da Kamala. Mesmo ontem que ele podia ter jogado todas as fichas no Kamala Crash, logo mudou o rumo da prosa mais uma vez para a questão da origem da Kamala. (A história de se ela é negra mesmo, já que é de origem indiana também.)

Mas otrascositasmas estão irritando os companheiros. No fim de semana, Trump foi fazer um comício na Georgia, um dos estados campos de batalha (precisa entender esse rolê dos campos de batalha? Clica aqui). Chegou lá e desandou a falar mal do governador do estado.

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"Ele é um cara mau. Ele é um cara desleal. E ele é um governador muito mediano. O pequeno Brian, o pequeno Brian Kemp. Cara mau."

Seria normal, não fosse o governador da Georgia também um republicano. Sim, BRASEW. Do mesmo partido do Trump. E detalhe: um governador com 63% de aprovação em seu estado. E detalhe 2: Trump precisa da Georgia se quiser ganhar as eleições.

A mágoa do Trump é porque o tal governador da Georgia não quis anular a eleição de 2020 no estado. Trump é um pote até aqui de mágoas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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