Análise: Diplomacia brasileira erra ao achar que poderia controlar Maduro

O erro da diplomacia brasileira foi pensar que poderia controlar Nicolás Maduro adotando uma posição de responsável pelas atitudes do ditador venezuelano e não mais a de fiador do Acordo de Barbados, afirmou o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan ao UOL News desta sexta-feira (16).

Em entrevista à Rádio Gaúcha ontem (16), o presidente Lula (PT) afirmou, mais uma vez, que o regime de Maduro tem "viés autoritário", mas não é uma ditadura, discordando de nota de seu partido.

O Brasil evoluiu da condição de fiador para a condição de responsável por uma decisão, são coisas diferentes. O erro está aí, e eu acho que esse erro tem um sobrenome, eu acho que o Celso Amorim imaginou que teria controle da situação toda. (...) O fato é que o Maduro, mais uma vez, provou que é apenas a face publicitária do regime venezuelano, vamos dizer assim.

Em janeiro de 2023, o Brasil recebe Maduro aqui. Uma visita de Estado com com todas as honras, e é importante isso. A situação se degenera em julho, quando ele impede María Corina de ser presidente, e em outubro, que a pressão, principalmente por intermédio do Celso Amorim, é para que a Venezuela faça um acordo internacional, que é o Acordo de Barbados. O acordo é simples: os Estados Unidos amansava as funções e a Venezuela faria uma eleição limpa, o Brasil assumiu uma posição de fiador. (...) O próprio Jake Sullivan pôs o pé pra trás e disse 'opa'. O Brasil mudou sua condição e adquire uma posição, não tem outra palavra, de responsável pelas atitudes de Maduro. Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais

Trevisan destaca que o quadro atual do governo da Venezuela pode trazer consequências para o Brasil, pois o país é refúgio para venezuelanos.

Eu insisto nesse ponto, talvez o último dos regimes de ditadura militar tradicional na América Latina. Não adianta, Venezuela é um regime militar, o Exército venezuelano tem completo controle da situação econômica. Eles se misturaram na gestão econômica do país. Mais de 70% dos cargos nas estatais venezuelanas não são de técnicos, são de militares. E, quando nós olhamos, os militares venezuelanos são sócios do dinheiro do petróleo, esse é o ponto. Vai ser difícil mudar essa realidade.

O problema é que o Brasil e a Colômbia não aparecem diretamente como negociadores de graça. O Brasil e a Colômbia são países que têm fronteira seca com a Venezuela. A Colômbia já tem 2.8 milhões de venezuelanos exilados lá, o Brasil tem 600 mil. O endurecimento brutal do regime vai fazer o que sobrou da classe média venezuelana ir embora. Ir embora pra onde? Eles vão enfrentar a fogueira e tentar entrar nos Estados Unidos legalmente? Não.

A Colômbia disse 'aqui não cabe mais'. O Exército brasileiro sabe que entra de 400 a 600 venezuelanos por dia no Brasil. Quantos iriam entrar. Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais

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