Conteúdo publicado há 2 meses

'Vitória' democrata: como a imprensa dos EUA viu o debate de Kamala e Trump

A maior parte dos principais jornais, veículos e canais de televisão dos Estados Unidos considerou a vice-presidente Kamala Harris como vencedora do debate de terça-feira (10) com o ex-presidente Donald Trump, na ABC News. Para a imprensa americana, Kamala conseguiu se aproveitar das fraquezas de Trump, que parecia irritado e passou boa parte do tempo se defendendo das críticas e respondendo às provocações da adversária.

The New York Times

Kamala conseguiu perfurar 'casulo confortável' e irritar Trump. O NYT destacou os momentos em que a vice-presidente questionou o tamanho e a lealdade das multidões nos comícios de seu adversário, disse que líderes mundiais o consideram uma "vergonha" e alegou que a fortuna de Trump foi construída por seu pai, sugerindo que o magnata, na verdade, é "apenas mais um produto do nepotismo".

Reação imediata das duas partes ao debate foi 'reveladora'. "Ainda não está claro como este debate desequilibrado pode mudar a corrida presidencial de 2024", pondera o jornal. "[Mas] Trump liderou os republicanos nos ataques aos mediadores — o debate foi um 'três contra um', ele reclamou —, enquanto os democratas conquistaram o apoio talvez mais importante com [a mensagem de] Taylor Swift."

Uma mão no queixo. Uma risada. Um olhar de pena. Um movimento de cabeça desdenhoso. Desde os momentos iniciais do seu primeiro debate contra Donald Trump, Kamala Harris explorou de maneira perspicaz a maior fraqueza de seu oponente. Não seu histórico. Não suas políticas polêmicas. Não seu histórico de declarações inflamadas. Em vez disso, ela mirou em uma parte muito mais primitiva: seu ego.
Análise de Lisa Lerer e Reid J. Epstein no NYT

ABC News

Trump preferiu espalhar fake news e repetir teorias da conspiração. Além disso, o republicano ainda perdeu tempo atacando o presidente Joe Biden, contra quem não está mais concorrendo. O canal de TV reforçou, porém, que a campanha eleitoral tem sido uma "montanha-russa" e que muita coisa pode acontecer até o dia da eleição. "Em um ciclo que já transformou algo tão histórico quanto uma tentativa de assassinato em notícia antiga, não está claro o quão grande será o impacto do debate de 10 de setembro na mente dos eleitores em 5 de novembro", publicou.

Em um debate acirrado que marcou a primeira vez em que Harris e Trump se encontraram pessoalmente, a vice-presidente atacou repetidamente seu adversário, provocando-o sobre tudo - desde sua derrota em 2020 até o tamanho de seus comícios e seu histórico, que ela chamou de "bagunça". (...) Mesmo assim, ter uma boa performance em um debate é uma coisa; mudar a corrida eleitoral é outra.
Análise de Tal Axelrod na ABC News

Fox News

Está 'bastante claro' que Kamala venceu, mas impacto do debate é incerto. Embora veja o desempenho da vice-presidente como melhor, a Fox News — que é conservadora — também repetiu a versão republicana de que os mediadores da ABC "ajudaram" Kamala. "Aparentemente, sentiram a necessidade de checar praticamente tudo que o ex-presidente disse", criticou o canal. "Meu palpite é de que Harris terá um pequeno aumento [nas pesquisas]. No entanto, eleições raramente mudam de forma tão drástica como foi após o debate de 27 de junho entre Trump e Biden."

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Estou praticamente certo de que muitos à esquerda vão proclamar a eleição como decidida com base na boa performance de Harris. Isso certamente será um exagero (...). Trump, sem dúvida, teve um revés político no debate desta semana com a vice-presidente e os dois mediadores da ABC. Mas, com base no que aconteceu no passado, seria um erro profundo subestimá-lo.
Análise de Doug Schoen na Fox News

Time

Trump foi 'pego de surpresa', mas corrida continua empatada. A revista também ressaltou o fato de que a disputa, embora ainda incerta, mudou dramaticamente desde julho, quando até mesmo os democratas mais influentes admitiam que Trump parecia estar mais próximo da vitória do que Biden. Agora, porém, a candidatura republicana "está em apuros", e o sinal mais claro disso veio após o término do debate. "Os principais assessores [de Trump] declararam vitória, elogiando sua performance 'magnífica'. Harris imediatamente pediu um novo debate no mês que vem".

Nos nove anos desde que Trump surgiu na cena política, nenhum adversário o incomodou tanto. (...) Trump parecia se debater em busca de uma solução para um adversário que ainda não conseguiu decifrar, enquanto Harris continuava com sua postura metódica de se posicionar ao centro. Seu discurso final pregou unidade, força e prosperidade compartilhada. O de Trump, por outro lado, foi um lamento amargo.
Análise de Brian Bennett, Eric Cortellessa e Philip Elliott na Time

The Washington Post

Performance de Kamala foi 'afiada' e 'consistente' no debate. Segundo o The Washington Post, Kamala atuou como procuradora do início ao fim e, se havia dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar este "período brutal" de eleições, "elas foram pelo menos parcialmente respondidas". O jornal ainda citou os momentos em que a vice chamou Trump de "ameaça ao futuro do país", o retratou como "obcecado por si mesmo" e detalhou suas condenações criminais. "Foi uma performance dominante. Não é de se admirar que ele sinta falta de Biden", acrescentou.

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Desde que o presidente Joe Biden desistiu de sua campanha à reeleição, o ex-presidente Donald Trump tem estado amargo e na defensiva. Sua nova oponente, a vice-presidente Kamala Harris, deixou claro neste debate intenso (...) que passará os próximos dois meses tentando mantê-lo nessa posição. Se os debates importam, este deveria. Mas a principal questão em um país tão dividido é se realmente vai.
Análise de Dan Balz no The Washington Post

CNN

Kamala 'transbordou' visão positiva; com raiva, Trump parecia cansado. Para a emissora, a vice-presidente teve o desempenho "mais imponente" de sua carreira política, enquanto seu adversário foi surpreendido com vários golpes — e acertou poucos em resposta. "Trump não fez muito esforço para mudar a percepção dos eleitores de estados-chave sobre suas intenções distópicas. Ele lutou para se desligar de seu próprio primeiro mandato e muitas vezes parecia desejar estar debatendo com seu antigo rival, o presidente Joe Biden", analisou.

Republicano ainda leva vantagem em temas como economia e imigração. "Com muitos eleitores ainda esperando pelos benefícios da recuperação econômica pós-pandemia, não é possível dizer que qualquer debate será um fator decisivo para o voto", reforça a CNN. "E as mensagens sombrias de Trump sobre imigração e criminalidade podem ser exageradas, mas provaram ser potentes no passado."

Donald Trump venceu Kamala Harris em um cara ou coroa virtual antes do debate presidencial - mas isso foi basicamente tudo que ele ganhou. Desde os primeiros momentos da noite de terça-feira [10], (...) ela ditou os termos deste confronto crucial exatamente a oito semanas do dia da eleição. Do ponto de vista de Harris, a noite não poderia ter sido melhor.
Análise de Stephen Collinson na CNN

USA Today

Kamala e democratas saíram 'vencedores'; Trump, por sua vez, 'perdeu'. O USA Today acredita que a vice-presidente tenha entrado no debate com o objetivo de irritar Trump — e frequentemente conseguiu. Ela buscava provar que podia se destacar e entregou uma performance equilibrada, conquistando o apoio talvez mais cobiçado destas eleições: o de Taylor Swift. Já o ex-presidente, que tem sido pressionado por aliados a se concentrar na política e não se envolver em ataques pessoais, falhou. "Trump se viu constantemente na defensiva e lutando para rebater Kamala", analisou o jornal.

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Trump tentou focar em seus temas favoritos, como economia e imigração, mas frequentemente se desviava da mensagem para responder às críticas de Harris. Ele esteve na defensiva durante todo o debate, com longos períodos dedicados a rebater os comentários de Harris sobre seus comícios (...). As respostas de Trump foram raivosas, desordenadas e o afastaram consideravelmente de uma posição política favorável.
Análise de Zac Anderson no USA Today

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