Paredes impossíveis de escalar: como é prisão que abriga deportados dos EUA

O presidente Donald Trump deportou 238 venezuelanos e 23 salvadorenhos que eram membros de gangues nos EUA para uma megaprisão para terroristas em El Salvador, desobedecendo a uma ordem judicial. Conheça o complexo que é conhecido como a "Alcatraz da América Central":

Onde estão os venezuelanos?

Inaugurado em julho de 2022 pelo governo de Nayib Bukele, presídio tem capacidade para 40 mil pessoas. Ele ocupa uma área de 166 hectares; em 23 deles foram construídos oito pavilhões, cada um com 32 celas com grossas barras de ferro. Todas as paredes são lisas e impossíveis de escalar; há apenas uma pequena abertura no texto para o fluxo de ar.

Detidos devem permanecer por, pelo menos, um ano no Cecot (Centro de Confinamento de Terroristas de El Salvador), segundo Bukele. No entanto, o período pode ser renovável. "Os EUA pagarão uma tarifa muito baixa por eles, mas alta para nós", afirmou o presidente do país.

Vista aérea do Cecot, em El Salvador
Vista aérea do Cecot, em El Salvador Imagem: Reprodução/Twitter

Cerca de 1.000 agentes penitenciários, 600 soldados e 250 policiais da tropa de choque vigiam o local. Desde sua inauguração, a instalação tem sido alvo de críticas de grupos de direitos humanos, que alegam que os presos são maltratados e que seus direitos não são garantidos.

No local estariam os prisioneiros mais perigosos do país, cumprindo penas de até 700 anos, segundo o governo. Atualmente, cerca de 15 mil detentos das gangues MS-13 (Mara Salvatrucha) e Barrio 18 ocupam Cecot. Foi o que informou seu diretor, Belarmino García, à AFP em janeiro. Os 23 salvadorenhos deportados pelos EUA pertencem à MS-13.

Em suas celas, todos os detentos são uniformizados, vestindo camisa e bermudas brancas. Membros da MS-13 e Barrio 18, inimigos mortais, ficam misturados.

Estes sujeitos são uns psicopatas que dificilmente podem ser reabilitados e por isso estão aqui, uma prisão de segurança máxima de onde não vão sair. Belarmino García, diretor da prisão, a jornalistas em janeiro de 2025

No presídio de segurança máxima, membros de gangues são vigiados 24 horas por dia por câmeras e guardas. Eles são submetidos a um confinamento rigoroso, sem possibilidade de receber visitas dos familiares.

Continua após a publicidade

Os detentos saem de suas celas, sempre com mãos e pés algemados, apenas para fazer exercícios por meia hora ao dia em um grande corredor dentro dos pavilhões ou quando têm audiências judiciais. Elas são realizadas remotamente em algumas das seis salas preparadas para este fim no presídio.

Um circuito de segurança fechado observa cada movimento dos presos. Eles também são observados por policiais encapuzados e armados com rifles, posicionados no telhado.

Mais de 200 membros de gangues foram deportados dos EUA ao Cecot, em El Salvador
Mais de 200 membros de gangues foram deportados dos EUA ao Cecot, em El Salvador Imagem: Reprodução/Twitter

Eles dormem em beliches de aço inoxidável, sem colchões, e se cobrem com um lençol fino e branco. Nas refeições predominam o feijão e o macarrão; nunca há carne por ordem do governo. Segundo o jornal El País, eles comem com as mãos, porque garfos e facas seriam armas letais.

O chuveiro é alimentado pela água de uma grande pia dentro das celas. Já a água potável é recolhida de um grande barril de plástico.

Na maior parte do tempo, presos ficam sozinhos. Duas bíblias estão disponíveis por cela, mas eles não recebem nenhuma assistência espiritual.

Continua após a publicidade
O presidente Bukele ofereceu a Trump a chance de terceirizar seu sistema prisional e enviar até mesmo criminosos americanos ao Cecot em troca de uma taxa por preso
O presidente Bukele ofereceu a Trump a chance de terceirizar seu sistema prisional e enviar até mesmo criminosos americanos ao Cecot em troca de uma taxa por preso Imagem: Reprodução/Twitter

Nenhuma pessoa que entrou algemada no Cecot jamais conseguiu escapar. Para fugir, teriam que passar por quatro muros de 60 cm de espessura e 3 m de altura, cobertos por arame farpado. O chão de cascalho acabaria denunciando seus passos, seja pelo barulho ou pegadas.

Em fevereiro, Bukele ofereceu-se para receber não só os deportados, como também criminosos americanos no Cecot. Os EUA pagariam uma "pequena taxa" por cada um dos detentos, mas que tornaria "o sistema prisional inteiro" de El Salvador "sustentável". O país está em estado de exceção há cerca de três anos, o que deu poderes draconianos às autoridades —e permitiu mais de 83 mil prisões sem ordem judicial.

*Com informações da AFP

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.