Brasil se levanta em protesto contra aumento nos preços do transporte
Juan Arias
Rio de Janeiro
O Brasil, pouco acostumado a protestar nas ruas, desta vez se levantou nas principais cidades do país contra o aumento das tarifas do transporte público. Em São Paulo, nesta terça-feira (11) à noite, pela terceira vez em seis dias manifestantes enfrentaram a polícia e queimaram ônibus.
No Rio de Janeiro, onde 32 pessoas foram detidas, houve outro enfrentamento da população com as forças de segurança. Para esta quinta-feira (13) está marcado um novo protesto, na Cinelândia, centro histórico da cidade.
As autoridades das cidades onde crescem os protestos condenaram as ações violentas contra o patrimônio público. Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, um dos pontos mais críticos dos protestos, foi duro com manifestantes e com atos de vandalismo.
As manifestações chegam em um momento de crise na economia, com inflação alta, a Bolsa caindo (ontem a queda foi de 3%) e o dólar próximo de R$ 2,20. A presidente Dilma Roussef, que ontem chegou de sua viagem a Portugal, se mostra preocupada com as manifestações, mas também com os problemas econômicos, que custaram, pela primeira vez em seu governo, uma perda de 8% em sua, até agora alta, popularidade. Ontem a noite, Dilma convocou ao Palácio do Planalto aos ministros da Economia, Guido Mantega, e da Justiça, Eduardo Cardozo.
Em Natal, os estudantes, com suas manifestações, obrigaram às autoridades a baixar as tarifas aumentadas dos transportes. E em Florianópolis, a paralisação dos ônibus foi de 100%. Cerca de meio milhão de cidadãos ficou sem transporte coletivo na capital catarinense.
Leia mais
- Único preso em flagrante durante protesto no Rio diz que sofreu preconceito
- Manifestantes bloqueiam rua da Consolação durante protesto contra aumento de passagem
- Após liminar que reduziu valor, tarifa de ônibus continua R$ 3 em Goiânia
- Aumento da tarifa de ônibus no Rio está "dentro de regras estabelecidas", diz Paes
Os preços dos transportes públicos no Brasil são muito altos em relação ao salário mínimo dos trabalhadores. Em São Paulo, por exemplo, aqueles que usam dois transportes para ir e dois para voltar do trabalho - algo muito normal - gastam exatamente R$ 400; mais de 50% do salário mínimo no Estado, que é de R$ 740.
No entanto, a classe média, pouco acostumada no país a manifestações de protesto nas ruas, está aplaudindo as autoridades, que pediram mão dura à polícia contra as mobilizações, que estão paralisando o tráfego em cidades já normalmente supercongestionadas.
As manifestações criam um alarme especial. Nem sequer diante dos grandes escândalos de corrupção política as pessoas saíram tanto às ruas. Uma vez mais, também aqui, se torna realidade a famosa frase atribuída a Bill Clinton: "é a economia, estúpido!"
Tradutor: Gustavo da Costa Basso