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Único preso em flagrante durante protesto no Rio diz que sofreu preconceito

O estudante Sávio Dias Spanner, 18, preso após protestar contra o aumento da passagem no Rio - Reprodução/Facebook
O estudante Sávio Dias Spanner, 18, preso após protestar contra o aumento da passagem no Rio Imagem: Reprodução/Facebook

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

11/06/2013 18h27

O único dos 31 manifestantes detidos na noite de segunda-feira (10), durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, foi autuado em flagrante, por dano ao patrimônio público, mas alegou ter sido vítima de preconceito pelo seu modo de se vestir.

O estudante Sávio Dias Spanner, 18, se define como "seguidor do movimento punk" e tem os cabelos pintados de azul e cortados no estilo moicano. Ele pagou fiança de um salário mínimo (R$ 678) e vai responder pelo crime em liberdade. Segundo o delegado-adjunto do 5º DP (Distrito Policial), Antonio Ferreira Bonfim, que registrou a ocorrência, o jovem jogou uma pedra em um carro da PM (Polícia Militar).

"Eu participei do protesto pacificamente e acabei saindo como 'bucha' dessa história, provavelmente por preconceito pelo meu jeito de me vestir. Não 'taquei' a pedra na moto do policial, não 'taquei' nenhuma pedra em lugar nenhum. Minha única arma é minha força de vontade por um país justo sem desigualdade", defendeu-se, em entrevista ao UOL.

"Eu inclusive vi a moto desse policial, ele mesmo mostrou pra mim, sendo que eu já estava detido há algum tempo. Eu fui para perto da polícia me proteger dos tiros e acabei sendo detido", disse. Apesar disso, o estudante garantiu que não foi maltratado pelos policiais em nenhum momento.

31 são presos durante protesto contra tarifa de ônibus

Segundo o delegado Bonfim, os policiais militares que levaram Sávio para a delegacia contaram que ele arremessou a pedra contra a motocicleta da polícia. "Ele negou, mas os testemunhos dos PMs já foram suficientes", afirmou. A manifestação aconteceu no centro da capital fluminense. Entre os detidos, havia nove menores, que foram entregues aos pais e responsáveis.

O delegado disse que instaurou um inquérito para investigar a participação dos outros 21 maiores de idade em crimes de dano ao patrimônio público, arremesso de artefato em via pública e desobediência. Outro procedimento foi instaurado para verificar a conduta dos nove menores de idade envolvidos na manifestação.

O próximo protesto contra o aumento das passagens no Rio, que ganhou o nome de "Operação Pare o Aumento das Passagens", está marcado para a próxima quinta-feira (13), às 17h, na Cinelândia, no centro da cidade. Mais de 4.800 pessoas já confirmaram presença no evento pelo Facebook.

Mesmo querendo, Sávio não vai se juntar ao grupo. "Eu gostaria de poder ir, mas meus pais não querem que eu vá e é melhor mesmo", ponderou.

Na sua página pessoal no Facebook, ele postou uma mensagem explicando o ocorrido para os amigos por volta das 16h30 desta terça. "Aí, galera. Só pra deixar bem claro que não fui eu quem quebrou a moto (da PM). Meu protesto era pacifico e acabei saindo como bucha dessa situação", escreveu. O post havia recebido 93 curtidas até as 18h.

Na manhã da segunda, Sávio conclamou os conhecidos da rede de relacionamentos a irem para a manifestação. "Alguém vai para o protesto hoje?", perguntou.

PREJUÍZO

  • 23

    Lixeiras foram destruídas durante a passeata, segundo a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana)

  • 8

    Lixeiras foram removidas dos postes pelos manifestantes. O prejuízo financeiro para a Comlurb foi de R$ 1.610

  • 31

    Pessoas foram presas no decorrer da manifestação, sendo a maioria por depredar o patrimônio público

    O protesto mobilizou cerca de 300 pessoas e causou tumulto no centro da cidade, a partir das 17h30. O grupo se concentrou nas escadarias da Câmara Municipal, na Cinelândia, e seguiu dali pela rua Evaristo da Veiga rumo à avenida Presidente Antônio Carlos.

    Quando os manifestantes chegaram na frente do Fórum, a PM interveio. Foram usadas bombas de efeito moral e balas de borracha. Os manifestantes atiraram pedras contra os policiais.

    A confusão assustou comerciantes, que fecharam as portas de seus estabelecimentos, e pedestres que caminhavam pela região.

    Manifestações pelo Brasil

    O transporte coletivo e suas tarifas vêm sendo alvos de protestos, manifestações e ações judiciais em várias capitais brasileiras desde o início de 2013. Em Fortaleza, as passagens foram reajustadas de R$ 2 para R$ 2,20, depois reduzidas de R$ 2,20 para R$ 2 e, em seguida, voltaram a custar R$ 2,20.

    CONFRONTO COM A PM

    • Sandro Vox/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

      Policiais do Batalhão de Choque entraram em confronto com os manifestantes em trecho da avenida Primeiro de Março. A PM utilizou bombas de efeito moral e spray de pimenta

    Em Natal, estudantes foram às ruas protestar depois que a prefeitura anunciou aumento de R$ 2,20 para R$ 2,40, em maio. Um mês depois, uma portaria reduziu o valor da tarifa para R$ 2,30.

    Em São Paulo não foi diferente. No último dia 2 de junho, as tarifas de ônibus e metrô subiram para R$ 3,20. No dia seguinte, manifestantes foram às ruas protestar contra o aumento. Cinco dias depois, atos de vandalismo foram registrados durante manifestação na região central da cidade.

    Em Goiânia, a tarifa foi reajustada de R$ 2,70 para R$ 3. Houve protestos. Uma liminar determinou que o valor voltasse a R$ 2,70, mas não foi cumprida. E Florianópolis enfrenta uma greve do transporte coletivo, com paralisação de 100% dos ônibus. Cerca de 400 mil pessoas ficaram sem transporte coletivo. As tarifas na capital catarinense são de R$ 2,90.

    • Arte UOL