Os protestos contra a Copa se espalham por todo o Brasil

Beatriz Borges

De São Paulo

  • Miguel Schincariol/AFP

    Manifestantes seguram cartaz onde se lê "Não vai ter Copa" durante protesto em São Paulo

    Manifestantes seguram cartaz onde se lê "Não vai ter Copa" durante protesto em São Paulo

A ameaça de novos protestos às vésperas da Copa do Mundo se confirmou nesta quinta-feira. Embora os atos não sejam comparáveis às manifestações de junho de 2013, que revolucionaram as principais cidades do país, os movimentos sociais e de algumas categorias profissionais aproveitaram o momento de indignação contra o campeonato e a atenção do mundo voltada para o Brasil para gritar suas reivindicações.

A quantidade de protestos deixou clara a intenção de resgatar o espírito do ano passado. Cerca de 50 cidades brasileiras convocaram manifestações contra a Copa. Em algumas capitais ganharam corpo com a adesão de diversas categorias profissionais que estão em greve para reivindicar aumento salariais. Além disso, partidos políticos de esquerda, como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) alimentaram o coro das marchas.

A capital econômica do Brasil, São Paulo, começou a jornada de protestos às 5h30. As primeiras manifestações foram as promovidas pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que exigem mais moradias, e pelos metalúrgicos, que queriam um aumento de seus salários. Não foi preciso lamentar outros incidentes além da queima de pneus e a interrupção de algumas avenidas.

A tensão cresceu a partir das 19h30, quando, depois de horas de protestos isolados em vários pontos da cidade, as marchas aumentaram. Os ativistas contrários à organização e os gastos do mundial se aglomeravam na Avenida Paulista, principal cenário das manifestações de junho passado. Durante essa concentração foram registrados choques entre manifestantes e policiais. A polícia lançou bombas de fumaça, enquanto alguns manifestantes incendiavam barricadas feitas com sacos de lixo e destruíam lojas e concessionárias de automóveis. As lojas que estavam abertas começaram a fechar, o que acabou provocando corridas e confusão entre os participantes.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro os professores protagonizaram paralisações que reuniram várias centenas de pessoas e bloquearam vias importantes em ambas as cidades. Na capital paulista, os professores aproveitaram um evento anti-Copa para começar uma marcha na zona sul da cidade. Cerca de mil pessoas bloquearam a Avenida Paulista, a principal artérias do centro financeiro da cidade, cujo tráfego se tornou caótico.

No Rio de Janeiro, vários coletivos profissionais uniram-se em uma marcha de cerca de 3 mil pessoas. A mobilização foi crescendo durante a tarde. O que no início parecia um pequeno grupo de jovens manifestando-se contra a realização da Copa acabou ganhando forma de grande protesto. Aos grupos de estudantes somaram-se motoristas e cobradores de ônibus e professores das escolas públicas em greve. Todos marcharam aos gritos de "Não vai ter Copa" e a favor de maiores investimentos em saúde, educação e transporte público.

Pouco a pouco os manifestantes se dispersaram, depois de ser cercados por um imponente dispositivo policial. "A repressão policial foi enorme e brutal durante as manifestações do ano passado. Por isso tínhamos medo de nos manifestarmos hoje. Mas não somos poucos e veremos como este movimento cresce ao longo das próximas semanas e durante a Copa", disse o presidente do PSTU, Cyro Garcia, informa Francho Barón.

Na região metropolitana de Recife, em Pernambuco, nordeste do país, uma greve dos policiais militares culminou com saques a lojas e distúrbios nas ruas, o que provocou o fechamento do comércio. Vários saqueadores foram detidos por policiais e por militares que patrulharam as principais vias da cidade.

Faltando 28 dias para o campeonato mundial, esses não serão os últimos protestos contra o maior evento futebolístico do mundo. Os serviços de inteligência da polícia esperam que as manifestações se intensifiquem nas próximas semanas, principalmente nas 12 cidades que sediarão o torneio.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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