Reconciliação entre Hamas e Autoridade Palestina vai de mal a pior

Piotr Smolar

Em Jerusalém

  • Hazem Bader/AFP

    Protesto do Hamas na cidade de Hebron, na Cisjordânia; principais atores da política palestina, Hamas e Autoridade Palestina têm histórico de problemas

    Protesto do Hamas na cidade de Hebron, na Cisjordânia; principais atores da política palestina, Hamas e Autoridade Palestina têm histórico de problemas

Mal começou e já está nas últimas? A reconciliação entre o Hamas e a Autoridade Palestina, que permitiu a formação de um governo de unidade no início de junho, parece estar mal das pernas. O Fatah, partido do presidente palestino Mahmoud Abbas, anunciou no domingo (9) que as comemorações previstas para terça-feira em Gaza, para o décimo aniversário da morte de Yasser Arafat, seriam canceladas. Seriam as primeiras do gênero desde que o Hamas chegou ao poder nesse território, em 2007. Mas o movimento nacionalista islâmico afirmou que não tinha condições de assegurar a segurança em torno desse evento.

Uma das razões para essa má vontade é o fato de o governo de unidade não estar pagando os salários das forças de segurança do Hamas. Somente os 24 mil funcionários do setor público receberam uma ajuda de US$ 1.200 (cerca de R$ 3.000) no final de outubro, através de um mecanismo da ONU. A Autoridade Palestina alega  dificuldades de transferir o dinheiro. Seu verdadeiro temor é ser acusada de financiar a organização, considerada terrorista, e então ser privada do apoio de certos financiadores estrangeiros.

"A reconciliação está muito frágil, muito fraca", diz Omar Shaban, diretor do centro de reflexão Pal-Think, em Gaza. "Infelizmente, têm ocorrido sérios incidentes, que preocupam todo mundo, não somente pelo processo político de reconciliação, mas pela segurança dos habitantes. Não espero por progressos nas próximas semanas."

Destruição causada por bombardeios na faixa de Gaza
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Shaban está se referindo sobretudo aos quinze atentados simultâneos contra casas e carros de representantes do Fatah em Gaza, ocorridos no dia 7 de novembro. O Hamas "condenou firmemente esses atos criminosos", mas não convenceu. A Autoridade Palestina aponta o movimento islamita como responsável por essa operação. Com as explosões, o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, cancelou sua viagem a Gaza.

Para além de suas rivalidades tradicionais, o Hamas e a Autoridade Palestina têm divergido quanto à sua estratégia pós-guerra.

Estratégia diplomática

O Hamas ganhou em popularidade aquilo que perdeu em capacidade de ataque militar, durante a operação "Margem Protetora" do último verão. No dia 7 de novembro, ele anunciou a criação de um "exército popular" na Faixa de Gaza, cujo primeiro contingente somaria 2.500 homens. Seu objetivo seria se preparar para um novo confronto contra Israel e se mobilizar pela defesa da mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém.

Já a Autoridade Palestina optou pela via diplomática e jurídica para enfrentar Israel. Ela tem pressionado por uma votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas, apesar do provável veto americano, para estabelecer um prazo de dois anos antes do fim da ocupação israelense e o surgimento de um Estado palestino.

"O cronograma não mudou", garante Hussam Zumlot, conselheiro de política externa do Fatah, o partido do presidente Abbas. "Vamos ao Conselho de Segurança em novembro. Qualquer resolução deverá reconfirmar o direito internacional, as fronteiras de 1967, a solução de dois Estados, a questão dos refugiados."

Zumlot, questionado sobre as pressões exercidas pela administração Obama sobre a Autoridade Palestina para convencê-la a abandonar ou pelo menos adiar em vários meses suas iniciativas, logo descarta a pergunta. "Não agimos em função das vontades americanas. Em 2012, eles já haviam feito pressão para que não fôssemos à ONU para obter o status de observador não-membro. Mesmo assim fomos à Assembleia".

Em protesto, artistas transformam fumaça de explosões em Gaza em desenhos
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Tradutor: UOL

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