Menores oscilam entre estudos e revolta no maior centro de recuperação da Europa

Franck Johannès

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O garoto lança um olhar de reprovação para o grupinho que dá um pulo em sua cela sem ter pedido autorização. Ele tem 16 anos de idade mas aparenta 13, e adotou um programa de flexões diárias para aumentar um pouco os ombros. Sua cela de 9 metros quadrados acusa um adolescente desleixado. Não há quase nada nela, além de migalhas e restos de bolo sobre a mesa, uma cama precária, um pequeno armário contendo algumas camisetas e um short embolados. Nada de fotos ou lembranças, somente paredes cobertas de grafite e erros de ortografia. "É uma das celas que estão em bom estado", constata simplesmente um vigia.

As celas do centro para menores infratores de Fleury-Mérogis, o maior da Europa, não lembram em nada as de detentos mais velhos, com seus fogõezinhos improvisados, seus livros, seus milhares de pequenos objetos pessoais, onde cada um tenta se acostumar a viver no local. Os meninos detentos quebram tudo. "Primeiro as privadas e a pia", explica o capitão Ahmed Hirti, chefe de carceragem. "Depois o globo de plástico que protege a tela plana da TV, e depois a TV." Às vezes eles a trocam por drogas, através de um ioiô, que é um pedaço de barbante que permite balança-la lentamente através da janela até uma janela vizinha. Claro, é proibido, mas todo mundo faz isso.

Dominique Raimbourg, vice-presidente socialista da comissão de leis da Assembleia Nacional, foi no dia 30 de junho visitar o centro de detenção de menores de Fleury, no departamento de Essonne, junto com três jornalistas, da "France Inter", do "L'Express" e do "Le Monde", como agora a lei permite. A prisão, uma das maiores da Europa, passou dos 50 anos e permanece em boas condições. Um programa de reforma teve início em 2002 e terminará em...2022; enquanto isso a direção tem lutado, para salvar os móveis e os detentos.

No centro de recuperação de menores, o problema continua sendo os percevejos. Com vapor d'água e um aspirador é possível acabar com eles, mas não se deve contar com os adolescentes para passar o aspirador. Em compensação não há baratas; uma pena, já que a barata é uma predadora do percevejo. Faz um calor abafado e a prisão está tranquila. "Tranquila demais", afirma Evelyne Le Cloirec, diretora do centro de jovens detentos. "Vai estourar. Não se sabe por quê, mas escala muito rápido. É muito intenso...." Os meninos se contentam em gritar xingamentos machistas através das janelas, mas ninguém joga lixo ou ketchup nos visitantes, não é algo comum.

Não há muito o que fazer. Existem três regimes de detenção – autônomo, restrito e intermediário - , mas não há solitária, nem penas pesadas. A disciplina é rígida, as portas são fechadas durante o dia, é proibido fumar – ao contrário dos centros educativos reforçados - , mas os jovens muitas vezes preferem a prisão, onde pelo menos não se fica deitado o dia inteiro. O Fleury conta com a calma (e o porte) dos vigias, que são todos voluntários e, é verdade, especialmente "zen". Evelyne Le Cloirec gosta bastante desses meninos. Filha de agente penitenciário, ela mesma agente penitenciária antes de galgar os degraus na profissão, ela administra 80 desses meninos com idades entre 13 e 18 anos. Há também cerca de 30 meninas, mas no centro feminino. 

Crianças perdidas, às vezes terríveis – todos se lembram ainda do garoto de 13 anos que destruiu 13 celas seguidas antes de ser transferido. "São crianças, impacientes, cuja raiva escala muito rápido", suspira a diretora. Quando uma mãe afinal não aparece para a visita prevista – isso é chamado de "visita fantasma" - , o menino fica revoltado. Um dos meninos tem o seu pai preso em uma penitenciária vizinha, mas ele não quer vê-lo. "Os garotos têm uma grande expectativa em relação aos pais", explica Le Cloirec. "Eles não cortaram o cordão umbilical. Tinha um jovem que era muito difícil; um dia seu pai lhe trouxe um saco de roupas de baixo, ele ficou feliz demais."

Gestão precisa

Os menores são bem supervisionados por 24 agentes penitenciários, 3 chefes de carceragem, dois oficiais, 18 educadores e 2 psicólogos. Mas acima de 80 jovens torna-se incontrolável. Os mais difíceis são os menores de 16 anos (a idade mínima de encarceramento é de 13 anos). Duas semanas atrás eles eram em 93, para 94 vagas, e os carcereiros ainda estavam sobrecarregados, ainda mais que os contatos entre menores e maiores de idade são proibidos.  Os mais jovens ficam no 3º andar, os mais velhos no 2º e 4º, com um único elevador para todos, o que implica uma gestão precisa das movimentações na detenção. Todos serão transferidos em 2016, e outras escadarias serão construídas.

Os jovens não permanecem por muito tempo – a duração média da detenção é de três meses e quinze dias – mas há os reincidentes, que encontramos pouco depois, "sobretudo entre os menores isolados, que voltam para nós com um nome diferente". Todos são acompanhados pela proteção judicial da juventude (PJJ), enquanto estão detidos e quando saem. Às vezes se vê com o coração apertado o jovem ir embora no carro de um membro da rede que o explorava. "As redes cuidam deles, eles não têm mais pais, então elas se tornam sua única família."

A preocupação chega junto com os dias ensolarados, sobretudo por causa do calor e das férias escolares. Em 2014, a educação nacional teve uma pausa merecida, mas o que fazer com os menores 12 horas por dia? Este ano as aulas continuaram, simplificadas, e o centro escolar tem funcionado bem. São nove salas de aula, duas de informática, duas de artes plásticas e uma biblioteca. Há meninos de todos os níveis, e os mais rebeldes recebem aulas particulares dentro da cela.

"Tem funcionado bem", comemora Nathalie Austin, coordenadora do centro escolar. "Acompanhamos 290 menores em um ano, e o índice de sucesso, considerando todos os exames, foi de 66%." Foi escolha sua trabalhar ali. "Sabe, eu era professora em uma ZEP – zona de educação prioritária. Aqui, em vez de ter 30 alunos de uma vez, tenho 6", ela diz. "E muitas vezes são mais ou menos os mesmos perfis."

Tradutor: UOL

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